Associação de seguradoras admite subida nos preços dos seguros
Em 2021, os lucros provisórios das empresas de seguros sob supervisão prudencial da ASF ultrapassaram os 649 milhões de euros (mais de 40% face a 2020).
O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) admite, em entrevista à Lusa, um aumento dos seguros devido a vários fatores, desde logo pelo aumento da inflação que impacta nos custos dos sinistros.
“Infelizmente estão muitas coisas a condicionar para isso, desde logo a inflação, e, portanto, pensamos que provavelmente o setor não vai estar imune”, afirma José Galamba de Oliveira, em entrevista à Lusa, que em março tomou posse para o terceiro mandato de três anos frente à associação que representa as empresas seguradoras.
Segundo o responsável, a taxa de inflação tem efeitos positivos no lado dos investimentos das seguradoras (por via da taxa de juro), mas também está a colocar “uma pressão brutal” na componente de custos das seguradoras.
No caso dos acidentes automóvel, exemplifica, hoje em dia regularizar um sinistro automóvel tem, em alguns casos, aumentos de custo de 20% e 30%, acrescentando que esse encargo extra não está ainda refletido nos prémios que os clientes de seguros pagam.
“Há aqui, de facto, uma pressão muito grande na rentabilidade das seguradoras em que para acomodar esta inflação temos que o fazer [subir prémios]. Temos que gerir com muita atenção”, afirma Galamba de Oliveira.
Também nos seguros de saúde, disse, estão a aumentar os custos, desde logo pelo aumento nos tratamentos porque as pessoas chegam mais tarde ao hospital (em 2020, com a crise da pandemia da covid-19 adiaram-se muitas consultas, exames e tratamentos) e muitas doenças agravam-se e os tratamentos ficam mais caros. Também a inovação técnica encarece os tratamentos.
Há ainda outros fatores a influir nos custos dos seguros de saúde como o aumento dos salários. “Uma boa parte das pessoas que estão a trabalhar nos hospitais têm salários indexados ao salário mínimo (pessoal operacional, limpezas) – infelizmente é a realidade – e os aumentos do salário mínimo, que eu percebo que são também precisos, colocam um custo adicional para os hospitais privados que obviamente se fazem refletir nas seguradoras”, explica.
O presidente da APS diz que as seguradoras tentam contornar esses custos para “minimizar o impacto” nos clientes, através de “mais eficácia, mais eficiência e produtividade”, mas admitiu que também os seguros de saúde deverão ficar mais caros.
Já em dezembro do ano passado, o supervisor dos seguros (ASF – Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) alertou para o impacto do contexto económico e social nos ramos de seguros de doença e automóvel, indicando que poderia existir “um agravamento futuro”.
Assim, admite que este terceiro mandato “também já se apresenta no início muito desafiante”. Primeiro, “porque a pandemia não está, de facto, ainda debelada”, por toda a “situação geopolítica no Leste Europeu”, ao qual acresce “o tema da inflação” que se agravou. “Isto é, de facto, um ambiente muito desafiante para a atividade económica em geral e o setor segurador, obviamente, também terá aqui os seus impactos“, resumiu.
Em 2021, os lucros provisórios das empresas de seguros sob supervisão prudencial da ASF ultrapassaram os 649 milhões de euros (mais de 40% face a 2020) e, das 38 empresas de seguros, 37 apresentam resultados positivos (apenas uma deu prejuízos).
Segundo o presidente da APS, 2021 foi um ano de recuperação, sobretudo no ‘ramo vida’, tendo a produção de seguro direto crescido para 13.350 milhões de euros, mais 34% face a 2020 (ano muito impactado pela crise pandémica).
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