Já só 5% da dívida pública portuguesa tem juros negativos
No final de 2020, 78% da dívida pública portuguesa tinha taxas abaixo de zero. Essa percentagem caiu para agora para os 5%, acelerando o fim da era dos juros negativos em Portugal.
A era do dinheiro barato está cada vez mais perto do fim e prova disso é o facto de Portugal (como a generalidade dos outros países) ter cada vez menos dívida pública a negociar com juros negativos.
Ainda no final de 2020, 78% da dívida pública portuguesa transacionava nos mercados obrigacionistas globais com taxas abaixo de zero, num total de cerca de 115 mil milhões de euros. Hoje em dia, essa percentagem está pouco acima dos 5%, totalizando 8,4 mil milhões de euros, segundo os dados que a plataforma Tradeweb forneceu ao ECO.
Percentagem de dívida com juros negativos
Fonte: Tradeweb
O que explica esta evolução? Os investidores estão a apostar na mudança no regime de juros abaixo de zero que durante os últimos anos pressionou os aforradores e bancos, mas deu maior folga aos Governos para gerirem as suas dívidas públicas com maior tranquilidade, incluindo durante o conturbado período da pandemia.
O disparo na inflação (à boleia dos preços da energia) na Zona Euro para recordes históricos está a pressionar o Banco Central Europeu (BCE) a agir e a precipitar a primeira subida das taxas de referência numa década. São cada vez mais os responsáveis do BCE a sinalizar uma postura mais agressiva do banco central para travar a escalada dos preços na região, incluindo o vice-presidente, Luis de Guindos, que disse na semana passada que as taxas podiam subir já na reunião de julho, juntamente com o programa de compras de ativos.
Em face dessas e outras declarações de membros do conselho do banco central, como Martins Kazaks (Estónia) e Pierre Wunsch (Bélgica), os investidores estão a apontar para uma subida da taxa de depósito para 1,5% no final do próximo ano, face aos -0,5% atuais.
Com os outros bancos centrais também sob pressão para travar as pressões inflacionistas, não só a Zona Euro, mas todo o mundo se está a despedir dos juros negativos: em termos globais, o conjunto de dívida com yields negativas passou do pico de quase 10 biliões de dólares em 2020 para menos de 300 mil milhões recentemente.
Portugal sente pressão, mas custo da dívida ainda descerá este ano
Há meses que Portugal vem sentido a pressão dos mercados, ainda que as taxas permaneçam baixas em relação ao que tem registado em mais de uma década — por exemplo, foram os juros de 7% que levaram o Governo de José Sócrates a pedir assistência internacional há 11 anos.
Recentemente, a taxa a dez anos voltou a superar a fasquia dos 2%, algo que não acontecia desde 2018 e as yields das linhas de referência nos prazos mais curtos já estão todas em terreno positivo novamente, incluindo no prazo a dois anos.
O aperto nas condições financeiras tem levado o Tesouro português a pagar mais pela dívida emitida este ano: o custo médio das novas obrigações passou dos 0,5% em 2020 e 0,6% em 2021 para 1,2% este ano, segundo a agência que gere a dívida pública.
Embora o financiamento esteja mais caro, os encargos com a dívida pública deverão voltar a descer este ano, segundo o novo ministro das Finanças. Fernando Medina explicou que o custo da dívida emitida ao longo de 2022, apesar da subida, vai continuar abaixo do custo do stock da dívida (estava acima dos 2% em 2020), o que fará com que a despesa com juros volte a descer em 2022, ainda que ligeiramente.
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