Gasoduto ibérico responde à crise energética da Europa? “Não acredito”, diz Macron
O presidente francês recusou a construção de um novo gasoduto ibérico, argumentando que as duas interligações existentes ainda não estão a funcionar a 100% da capacidade.
O presidente francês não se deixou contagiar pelos apelos de Portugal, Espanha e Alemanha no que toca à construção de um novo gasoduto que liga a Península Ibérica à Europa, através de França, argumentando que a nova interligação “não resolveria os problemas a curto prazo que estamos a tentar resolver”, isto é, garantir abastecimentos de gás numa altura em que os fluxos russos, através do Nord Stream, não são uma garantia.
“Investir hoje para ter um terceiro gasoduto entre a França e a Espanha responde à nossa crise? Eu não acredito“, frisou Emmanuel Macron esta segunda-feira, durante uma conferência de imprensa e citado pelo Le Monde.
Questionado sobre a necessidade de um novo gasoduto entre Espanha e França, Emmanuel Macron assegurou que vai “desenvolver todas as interligações que façam sentido”, frisando ser “a favor de continuar a intensificar as ligações e interligações elétricas entre” os dois países. Segundo o Chefe de Estado francês, os dois gasodutos existentes estão atualmente a ser utilizados a 53% da capacidade total, não estando, por isso, “saturadas as ligações existentes”.
“Se estivéssemos a 100% de capacidade dos nossos gasodutos, e se hoje existisse a necessidade de exportar gás para França, Alemanha ou outro lugar, eu diria que sim. Mas não é o caso“, afirmou o presidente.
“Precisamos de mais interligação elétrica. Mas não estou convencido de que necessitemos de mais interligação de gás, cujas consequências, em particular no ambiente, e em particular no ecossistema, são mais importantes. (…) Não há prova da sua necessidade”, defendeu Macron, durante uma conferência de imprensa, após uma reunião com o chanceler alemão, Olaf Scholz.
O gasoduto que liga Portugal e Espanha à Europa, através dos Pirenéus, em França, voltou a ser considerado numa altura em que prevalece uma crise energética agravada pela guerra na Ucrânia. Neste momento, o gás russo enviado para a Europa, através da Alemanha, através do Nord Stream, encontra-se suspenso depois de a Gazprom alegar ter encontrado fugas de óleo durante os trabalhos de manutenção na estação de compressão de Portovaia, na cidade de Viburgo, na Rússia. O gasoduto encontra-se suspenso desde o dia 31 de agosto.
França reduz dependência do gás russo para 9%
Emmanuel Macron anunciou esta segunda-feira que a França conseguiu reduzir, “em poucos meses”, a dependência do gás russo para 9% face aos atuais 50%, através de uma estratégia que consiste em acelerar a transição climática e diversificar as fontes energéticas, nomeadamente, através da reabertura de centrais a carvão e da construção de um novo terminal de gás natural liquefeito (GNL) offshore, em Havre.
“Durante estes meses, acelerámos esta diversificação procurando outros fornecedores de gás, o que nos permitiu, em alguns meses, passar de 50% de gás russo para 9% atualmente, no nosso país”, afirmou o presidente francês durante a conferência de imprensa, frisando que o objetivo é garantir a total independência da Rússia numa altura em que prevalece uma incerteza sobre os abastecimentos de gás através do Nord Stream.
Neste momento, segundo o chefe de Estado, França já ultrapassou a meta comunitária de 80% de gás armazenado, estando atualmente nos 92% de gás armazenado. “Estamos à frente dos objetivos estipulados. O nosso foco é armazenar gás para chegar às famílias e para produzirmos eletricidade”, explicou.
No mesmo momento, o presidente francês anunciou ter pedido ao governo que “elaborasse medidas que permitissem alcançar uma poupança de 10% no consumo habitual de energia” – uma meta alcançável através de “gestos simples, voluntários e não coercivos”, disse, frisando que o executivo liderado por Élisabeth Borne já está preparado para um “cenário de um inverno mais frio e um cenário no qual haveria um corte completo de gás russo”.
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