Meta-campus. Muito para além das salas de aula em Zoom, metaverso chega ao ensino
Conceitos como Web 3, metaverso e blockchain estão a mudar o nosso quotidiano em várias dimensões, e o ensino não lhes escapa. Depois do metaoffice, é altura de falarmos sobre meta-campus.
Ao mesmo tempo que algumas empresas decidem transformar os seus escritórios em metaoffices, o metaverso está já a entrar de rompão nas universidades e escolas de formação, criando meta-campus. Em Espanha, a IE University e o Elysium Ventures, um fundo de investimento com sede em Silicon Valley (São Francisco), estabeleceram um acordo estratégico para criar o Metaverse Center, um centro de investigação e inovação sobre o metaverso. Na Suíça, a escola de hospitalidade Les Roches já ensina os seus alunos com recurso a tecnologias do metaverso. E por cá, a Ironhack está a desenvolver um curso introdutório sobre web3, com módulos que irão explorar os conceitos de metaverso, NFT, finanças descentralizadas, criptomoedas e DAO (Organização Autónoma Descentralizada), sabe a Pessoas.
“Com este curso, queremos que os nossos alunos adquiram conhecimentos fundamentais, através de uma metodologia prática e que incite a interação, sobre os vários setores ligados à Web 3, que estão inevitavelmente a mudar a forma como a tecnologia está a impactar o nosso quotidiano, em várias dimensões”, justifica Catarina Costa, responsável pelo campus da Ironhack Lisboa.
Entrar neste universo é, para a escola de formação tecnológica, “um caminho natural”. Apesar dos desafios, Catarina Costa não tem dúvidas que entrar nesta dimensão virtual será vantajoso para o ensino.
“Pode permitir atingir novas capacidades que, até há pouquíssimo tempo, eram inimagináveis. Já estamos a sentir o impacto dos ambientes virtuais na educação. E quanto mais avançamos na transição digital, mais este impacto se fará sentir. Haverá sempre espaço para experiências presenciais, mas, à medida que a aprendizagem à distância vai evoluindo – muito para além das salas de aula em Zoom –, existirão certamente inovações que vão acrescentar valor ao espaço digital. Muitas que nem sequer imaginamos que possam ser reais.”
Haverá sempre espaço para experiências presenciais, mas, à medida que a aprendizagem à distância vai evoluindo – muito para além das salas de aula em Zoom –, existirão certamente inovações que vão acrescentar valor ao espaço digital. Muitas que nem sequer imaginamos que possam ser reais.
O ensino terá, assim, de adaptar-se às novas tecnologias e, consequentemente, às novas exigências do mercado, como é o caso da necessidade de explorar esta dimensão virtual, defende a responsável.
A escola de programação 42 mostra uma convicção semelhante: “existe um enorme potencial para pôr o metaverso ao serviço da educação”, afirma Pedro Santa Clara, diretor da 42 em Portugal. “A partir do momento em que o metaverso ofereça uma experiência de trabalho colaborativo de qualidade, lá estaremos”, assegura.
Para já, a aposta da escola tem sido, sobretudo, no modelo presencial. Ainda este verão, a 42, já presente em Lisboa, começou a funcionar também no Porto e a selecionar os primeiros alunos. “A Escola 42 distingue-se justamente pela utilização da tecnologia no desenvolvimento de um modelo pedagógico mais eficaz, assente na aprendizagem baseada em projetos e na colaboração entre os alunos. Acreditamos que, neste momento, a melhor forma de interação é presencial – daí o forte investimento nos campus da 42 Lisboa e 42 Porto – mas utilizamos muitas ferramentas de colaboração, como o Slack, que liga os mais de 15.000 alunos da 42 pelo mundo”, detalha Pedro Santa Clara.
Os meta-campus não são, contudo, uma opção descartada. “Sabemos que o conhecimento é mais eficientemente adquirido pela experiência. O metaverso tem ferramentas muito poderosas para trabalhar em cenários e criar um espaço de experimentação. É também importante ter em atenção a motivação e a participação dos alunos, que pode ser reforçada com recurso a esta dimensão virtual.”
O mais importante é, para o líder da escola, sentir estas mudanças como uma oportunidade, e não como uma ameaça. “Se tiverem uma mentalidade de crescimento, podem encontrar formatos de participação muito interessantes e escaláveis, chegando a mais alunos e criando a possibilidade de competir num mercado global. Se a atitude for, pelo contrário, de protecionismo e de inércia, vão acabar por ser ultrapassadas”, alerta.
Impacto nas infraestruturas e no corpo docente
Transformar o próprio modelo de ensino implica também proceder a algumas mudanças e adaptações nas escolas, tanto ao nível das infraestruturas como do corpo docente. “Será preciso cada vez menos espaço físico para que os estudantes realizem o seu percurso de aprendizagem de forma independente. Contudo, para que existam campus VR/AR, é necessário investir em hardware e software sofisticados e robustos, de forma a assegurar que os meta-campus são escaláveis e universais”, refere Catarina Costa.
Por outro lado, no que toca ao corpo docente, terá de existir uma formação especializada neste novo formato de educação. “Esta é uma ótima ferramenta de aprendizagem que traz mesmo grandes vantagens. Os professores passam agora a conseguir ensinar os seus estudantes sobre o sistema solar oferecendo-lhes uma experiência imersiva, como se lá estivessem. Ou mostrar moléculas de química de perto, até ao mais ínfimo pormenor. Ou até mesmo dar a conhecer infraestruturas e redes de sistemas muito complexos através do metaverso, numa experiência totalmente interativa.”
A partir do momento em que o metaverso ofereça uma experiência de trabalho colaborativo de qualidade, lá estaremos.
Os exemplos que chegam de fora
Em Madrid, o Metaverse Center, com sede física na IE School of Science and Technology e virtual na Internet e no metaverso, trabalha para antecipar e inovar na nova dimensão digital. A ideia é que os projetos e laboratórios do centro acelerarem a investigação de alto impacto, nomeadamente no que diz respeito a aspetos técnicos, de comportamento humanos e normativos sobre o metaverso, dado que existirá uma estreita colaboração entre universidades internacionais, empresas, empreendedores, líderes do setor e instituições governamentais.
“Com a criação deste centro avançamos para explorar as oportunidades empresariais e de investimento que oferece o metaverso, assim como o seu impacto na sociedade, e partilhamos este desafio com o Elysium Ventures, com o objetivo comum de gerar conteúdo inovador e impulsionar ideias de negócio disruptivas”, explica Iklaq Shidu, dean e professor na School of Science and Technology, IE University, citado pelo Cinco Días (acesso livre, conteúdo em espanhol).
A IE University vai inaugurar campus em vários metaversos já em 2023, entre os quais se encontram Roblox e Decentranland, onde os estudantes poderão assistir às aulas e participar em eventos na esfera digital.
Já na Suíça, no campus de Crans-Montana, a Les Roches conta com uma sala ao lado, destinada à realidade virtual, onde acontecem aulas muito específicas. Entre quatro paredes, que podem facilmente transformar-se num restaurante, hotel ou em qualquer outro cenário ditado por uns óculos de realidade virtual, os alunos aprendem, de forma prática, através de situações com que dificilmente lidariam num contexto mais tradicional de aula.
“Existem certas situações na vida real que não conseguimos recriar para ensinar os alunos. Por exemplo, uma das mais comuns nos hotéis é ter de lidar com um hóspede alcoolizado. Podemos ensinar os alunos numa situação prática com uma pessoa alcoolizada? Não. Mas podemos criar uma experiência em que o estudante tem de interagir com um cliente alcoolizado? Sim. E assim o aluno pode aprender, de forma segura, o que fazer numa situação destas”, explica o director of the innovation hub da hospitality business school.
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