Retrato da crise habitacional em 5 gráficos
O mercado à habitação em Portugal vive uma tempestade perfeita alimentada por uma subida contínua dos preços das casas, das rendas e pela escalada das taxas de juro.
O mercado imobiliário está há largos anos em ebulição. Desde 2017 que o preço de venda das casas sobe a um ritmo médio de 9,7% por ano. Só no ano passado, até setembro, o índice de preços residenciais do Confidencial Imobiliário revela uma subida homóloga de 19,4%.
Para os proprietários de imóveis, estes dados são bem recebidos, pois traduzem-se numa valorização do seu património imobiliário. Porém, para quem procura casa as dificuldades não param de aumentar.
No estudo “Acessibilidade à Habitação em Portugal”, promovido pela Century 21, os seus autores revelam que entre 2019 e 2022 há uma clara deterioração no acesso à habitação por todo o país. “O problema passa pela perda de poder de compra da população, com os preços das casas a atingirem uma subida média de 38%, a nível nacional, enquanto o aumento do rendimento disponível das famílias, no mesmo intervalo de tempo, se fixou apenas nos 9%, na média das capitais de distrito.”
A escalada das taxas de juro no último ano foi somente a última acha para a fogueira de uma extensa crise na habitação que tem vindo a ganhar volume ao longo dos últimos anos e que esta quinta-feira contará com a apresentação de um pacote de iniciativas por parte do Governo para enfrentar este problema, no seguimento de um Conselho de Ministros extraordinário.
Preços de venda sobem em flecha por todo o país
Nos últimos cinco anos, o preço médio de venda da habitação aumentou por todo o território nacional. Entre os 24 municípios mais populosos, destaque para Seixal, Sintra, Setúbal, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia que registaram uma quase duplicação do preço por metro quadrado entre 2018 e 2022.
Fonte: Confidencial Imobiliário. Valores em euros por metro quadrado.
Rendas não dão sinais de abrandamento
Segundo dados do Confidencial Imobiliário, desde 2018 que o preço do metro quadrado dos imóveis arrendados aumentou, em média, 35%. Numa casa de 100 metros quadrados, esta subida traduziu-se na passagem de uma renda de 880 euros em 2019 para 1.190 euros no final do ano passado.
Apesar de Lisboa continuar a ser o município onde é mais caro arrendar casa, com o preço a situar-se nos 15,8 euros por metro quadrado, foi em Matosinhos onde a renda média contratada mais aumentou: cerca de 12% ao ano entre 2019 e 2022.
Fonte: Confidencial Imobiliário. Renda média (em euros) de uma habitação com 100 metros quadrados.
Custo financeiro para comprar quase quadruplicou num ano
De acordo com dados do Banco de Portugal, a taxa de juro dos novos contratos de créditos à habitação passou de 0,83% em dezembro de 2021 para 3,24% em dezembro do ano passado. Atualmente, o custo financeiro para comprar casa em Portugal está no valor mais elevado desde junho de 2014 e é 36 pontos base superior à média da Zona Euro.
Fonte: Banco de Portugal. Entende-se por novos contratos de crédito à habitação os contratos celebrados nos últimos três meses.
Subida dos custos de construção pressiona preços das casas
Desde 2009 que os custos associados à construção de habitação nova estão a subir de forma constante. No entanto, nunca registaram um aumento tão grande como o verificado no ano passado, com o Índice de Custos de Construção de Habitação Nova (ICCHN) a registar uma variação média de 11,9%.
Fonte: INE. Índice de base 100 (2015 = 100).
Oferta não acompanha a procura
Os últimos dados do INE mostram que entre janeiro e setembro do ano passado entraram no mercado 14,5 mil novas casas para a habitação, um crescimento de apenas 1,6% face ao mesmo período de 2021. A somar a isto está também a dinâmica dos licenciamentos edifícios para habitação familiar, que no último ano registaram uma queda de 0,7% face a 2021.
Fonte: INE. Os dados de 2022 referentes aos fogos concluídos agregam apenas números até ao terceiro trimestre do ano.
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