Guterres alerta que direitos das mulheres alcançados ao longo de décadas estão a desaparecer
"À medida que a tecnologia avança, mulheres e meninas estão a ser deixadas para trás", diz o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou esta segunda-feira que o progresso conquistado ao longo de décadas nos direitos das mulheres está a desaparecer no mundo atual e a igualdade de género está “cada vez mais distante”.
Perante a Comissão das Nações Unidas sobre o Estatuto da Mulher – órgão intergovernamental dedicado exclusivamente à promoção da igualdade de género e ao empoderamento das mulheres –, Guterres defendeu que este evento assume um significado ainda maior neste momento, uma vez que os direitos das mulheres estão a ser “abusados, ameaçados e violados em todo o mundo”.
“No Afeganistão, mulheres e meninas foram apagadas da vida pública. Em muitos lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão a ser revertidos. Em alguns países, as meninas que vão à escola correm o risco de serem sequestradas e agredidas. Em outros, a polícia ataca mulheres vulneráveis que juraram proteger”, relatou.
De acordo com a ONU, a igualdade de género regista na atualidade atrasos de centenas de anos, com alguns países a oporem-se até mesmo à inclusão de uma perspetiva de género nas negociações multilaterais. “O patriarcado está a dar luta. Mas nós também. Estou aqui para dizer alto e claro: as Nações Unidas estão com as mulheres e meninas em todos os lugares”, frisou o ex-primeiro-ministro português.
Com um olhar nos conflitos que emergem ao redor do mundo, o líder da ONU observou que, da Ucrânia ao Sahel, as crises e os conflitos afetam primeiro e pior as mulheres e as meninas. Contudo, um dos focos do seu discurso foi a situação no Afeganistão, onde o regime talibã atualmente no poder tem deteriorado os direitos das mulheres, com restrições como a segregação por sexo em lugares públicos, a imposição do véu ou a obrigação de serem acompanhadas por um familiar do sexo masculino em viagens longas, além de proibir meninas de estudar.
De acordo com Guterres, a ONU tem estado empenhada em levar às autoridades do Afeganistão uma mensagem clara de que mulheres e meninas têm direitos humanos fundamentais e que a organização “nunca desistirá de lutar por eles”. “Sejamos claros: as estruturas globais não estão a funcionar para as mulheres do mundo. Precisam mudar. As minhas iniciativas de estímulo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e reforma do sistema financeiro global visam aumentar os recursos para investimento em mulheres e meninas em nível nacional”, disse.
“Ilustres delegados, queridos amigos, (…) à medida que a tecnologia avança, mulheres e meninas estão a ser deixadas para trás. A matemática é simples: sem os insights e a criatividade dessa metade do mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas metade do seu potencial”, lembrou.
Nesse sentido, o secretário-geral da ONU sublinhou que três mil milhões de pessoas ainda não estão ligadas à Internet, a maioria mulheres e meninas em países em desenvolvimento. Já nos países menos desenvolvidos, apenas 19% das mulheres estão online. Globalmente, o sexo feminino representa apenas um terço dos alunos em ciências, tecnologia, engenharia e matemática, e na indústria de tecnologia os homens superam as mulheres na proporção de dois para um.
“Séculos de patriarcado, discriminação e estereótipos nocivos criaram uma enorme lacuna de género na Ciência e Tecnologia. As mulheres representam apenas 3% dos vencedores do Prémio Nobel nas categorias científicas”, frisou António Guterres. E concluiu: “A desigualdade de género é uma questão de poder. Hoje, apelo a uma ação urgente para equalizar o poder (…). Vamos lutar contra a misoginia e avançar em prol das mulheres, meninas e do nosso mundo.”
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