CMVM diz que não há impactos diretos para Portugal da queda do Credit Suisse
O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários assegurou que não há impactos diretos em Portugal da crise do Credit Suisse e das falências dos bancos nos Estados Unidos.
O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Luís Laginha de Sousa, assegurou este domingo que não há impactos diretos em Portugal da crise do Credit Suisse e das falências dos bancos nos Estados Unidos.
Em entrevista à rádio Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Laginha de Sousa disse que “não há motivo para preocupação” com os impactos diretos da falência dos bancos americanos e da crise no banco suíço, advertindo, contudo, para a necessidade de manter a vigilância, porque a confiança tem de ser preservada.
“Temos que ter a noção de que não vivemos num mundo composto de ilhas e, às vezes, depois, há fenómenos de segunda ordem e, sobretudo, em matérias onde aquilo que por vezes está em causa são elementos que são intangíveis — estamos a falar de confiança. E, desse ponto de vista, as autoridades, seja a nível nacional, seja a nível europeu, têm que atuar, no sentido de contribuir para preservar esse bem”, afirmou.
O antigo administrador do Banco de Portugal que, desde novembro, preside ao supervisor do mercado de capitais adiantou que a CMVM está a acompanhar a situação, acrescentando que o assunto deverá ser abordado na reunião regular do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, que decorre na segunda-feira.
“Acho que aquilo que é importante assinalar é que nós acompanhamos essas matérias e, neste momento, naquilo que tem que ver com esses efeitos diretos da exposição direta, não vemos neste momento motivo para qualquer preocupação“, vincou o responsável.
Na quinta-feira, o Credit Suisse tornou-se no primeiro banco de grande dimensão à escala mundial a receber uma ajuda pública de emergência desde a crise financeira de 2008.
Sobre a subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE), Laginha de Sousa disse acreditar que a decisão foi tomada “à luz da melhor informação disponível”, considerando tratar-se de uma “evolução salutar”, uma vez que se revê num modelo em que o acesso aos recursos financeiros tem um custo.
“No contexto daquilo que é o normal funcionamento de uma economia, é normal que quem precise de financiamento tenha que pagar por ele e não tenha taxas de juro negativas”, observou, lembrando, contudo, que é importante assegurar que existem formas de apoiar “aqueles que não conseguem lidar com as consequências disso”.
O presidente da CMVM defendeu ainda a necessidade de tornar o investimento em capital “mais atrativo”, considerando fundamental “canalizar incentivos ou eliminar desincentivos” para que as empresas possam ter “vontade de investir”.
“A fiscalidade é um ponto que é incontornável, mas não é único e aí há escolhas políticas que têm de ser feitas e quem faz essas escolhas tem que olhar para um leque muito mais alargado de equilíbrios do que quem está só na perspetiva do mercado de capitais”, concluiu.
Na quinta-feira foi anunciado que o Credit Suisse iria receber um empréstimo de até 50 mil milhões de francos suíços (50,7 mil milhões de euros) do banco central da Suíça para “fortalecer” as contas da instituição. Ao mesmo tempo, o segundo maior banco suíço anunciou uma série de operações de recompra de dívida no valor de cerca de três mil milhões de francos suíços (3,04 mil milhões de euros).
A ajuda surgiu um dia depois de o Credit Suisse ter enfrentado a sua sessão mais negra na bolsa, perdendo um quarto do valor, com as ações a caírem para um nível historicamente baixo, abaixo de dois francos suíços (2,03 euros). Este período de turbulência no setor bancário começou antes, com o colapso do Silicon Valley Bank (SVB), nos Estados Unidos, após a qual se deu uma acentuada queda em bolsa na quarta-feira do Credit Suisse.
Também na quinta-feira, o BCE anunciou a subida das taxas de juro em 50 pontos base, apesar da agitação que se vive no setor bancário. A instituição justificou a decisão com a determinação em assegurar “um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo”. O BCE tinha anunciado a intenção de decidir um novo aumento de 50 pontos base logo após a última reunião, no início de fevereiro.
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