Mais de 60 milhões escolhem este domingo Presidente e parlamento da Turquia
Com a maioria das sondagens a anteciparem a derrota de Erdogan nas presidenciais, o ato eleitoral na Turquia constitui também uma prova da capacidade de sobrevivência política do atual presidente.
Cerca de 61 milhões de eleitores vão este domingo às urnas na Turquia para eleger um Presidente e um parlamento, num sufrágio em que se joga a sobrevivência política do atual chefe de Estado, Recep Tayyip Erdogan.
Com a maioria das sondagens a anteciparem a derrota de Erdogan nas eleições presidenciais, o ato eleitoral na Turquia constitui também uma prova da capacidade de sobrevivência política do atual chefe de Estado de 69 anos.
O fundador do AKP, uma formação conservadora e islamista, enfrenta o líder do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e nacionalista), Kemal Kiliçdaroglu, 74 anos, apoiado por uma coligação heterogénea de seis partidos e por uma formação de esquerda defensora dos direitos da minoria curda, que poderá ter a sua última oportunidade de terminar nas urnas com o crescente autoritarismo de Erdogan.
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, Kiliçdaroglu, que é o principal adversário do atual presidente Erdogan, destacou que “a primavera vai regressar” ao país.
“Todos sentimos falta da democracia. Sentimos falta de estarmos juntos, de nos abraçarmos uns aos outros. Vão ver, a Primavera vai regressar a este país, se Deus quiser, e vai durar para sempre”, afirmou.
O presidente turco cessante Recep Tayyip Erdogan desejou “um futuro proveitoso” ao país e à democracia, depois de ter votado em Istambul.
“É importante que todos os eleitores votem sem preocupações até às 17:00 (14:00 em Lisboa) para mostrar a força da democracia turca”, afirmou Erdogan, sem comentar se previa uma vitória.
A três dias do escrutínio, as sondagens davam ao candidato da Aliança da Nação, liderada pelo CHP e que agrega mais cinco partidos, de centristas a nacionalistas de direita e uma formação islamista, 49,3% dos votos, caso a opção dos indecisos (7%) fosse distribuída proporcionalmente pelos dois candidatos. O Presidente Erdogan apenas receberia 43,7% dos votos.
Para as eleições legislativas, o cenário altera-se, com a Aliança Popular de Erdogan – liderada pelo AKP e que repete a coligação com o Partido de Ação Nacionalista (MHP, extrema-direita) de Devlet Bahçeli e duas outras pequenas formações ultranacionalistas – em vantagem, com cerca de 44%, dos votos expressos contra 39,9% para a Aliança da Nação.
Neste caso, será decisiva a votação na Aliança Trabalho e Liberdade, liderada pelo Partido da Esquerda Verde, defensor dos direitos da população curda e creditado nas sondagens com 10,5% dos votos e que poderá retirar ao AKP e aliados a sua sólida maioria absoluta.
Numa sociedade fragmentada, Kiliçdaroglu prometeu devolver ao país o sistema parlamentar interrompido em 2017 e uma restauração dos direitos e liberdades, muito deterioradas devido ao crescente autoritarismo presidencial.
O combate ao elevado desemprego e à corrupção, o regresso a uma justiça independente, em que os veredictos sejam baseados na lei e não em decisões políticas, e a liberdade dos ‘media’, num país com quase 50 jornalistas na prisão, foram outras prioridades enunciadas pelo candidato da Aliança da Nação.
Kiliçdaroglu também prometeu restaurar a confiança no meio empresarial e na população, relações externas baseadas nos interesses da política nacional, melhoria das relações com a União Europeia e manter as relações cordiais com a Rússia, aliado político e importante parceiro comercial.
A estratégia de campanha de Erdogan, numa permanente associação entre nacionalismo e religião, foi centrada em propagar a ideia de uma Turquia moderna, que inaugurou a sua primeira central nuclear em cooperação com a Rússia, e poderosa, com um desenvolvimento exponencial da indústria do armamento.
O Presidente turco acusou também o bloco opositor de serem “infiéis”, de colaborarem com a guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), ilegalizado e considerado “organização terrorista” por Ancara e países ocidentais, de pretenderem fragmentar o país e de colocarem a Turquia sob a alçada de “potências imperialistas”.
O ato eleitoral turco traduzir-se-á numa escolha de modelo de sociedade entre um líder poderoso e um opositor que propõe o consenso e a negociação.
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