Quem é o gestor do grupo Fortera no centro da Operação Babel
Elad Dror lidera uma das maiores promotoras imobiliárias com atividade em Portugal. Em causa estão suspeitas nos projetos Skyline, a maior torre do país, e o Riverside, ambos em Gaia.
O CEO do grupo Fortera, Elad Dror foi um dos sete detidos esta terça-feira pela PJ durante a Operação Babel no seguimento de suspeitas que investigam um “esquema de corrupção e de favorecimento” relacionado com licenciamentos urbanísticos de projetos que rodam os 300 milhões de euros.
Em comunicado, fonte oficial de uma das maiores promotoras com atividade em Portugal com dinheiro israelita, confirmou que Elad Dror se encontra nas instalações da Polícia Judiciária no Porto e que “irá colaborar com a Justiça para o esclarecimento de qualquer facto que lhe possa ser imputado”, desconhecendo, ainda “os contornos que serão necessários esclarecer”.
Em causa estão suspeitas que envolvem alegados pagamentos de luvas para a aprovação de projetos imobiliários de 300 milhões de euros.
A Fortera assume que tem “em curso um investimento relevante na área de Gaia e poderá ser em torno do mesmo que será necessário prestar esclarecimento”.
Um dos projetos é o Skyline, em Vila Nova de Gaia, assinado pelo arquiteto Souto de Moura. Trata-se do prédio mais alto do país com 28 andares onde iria funcionar um centro de congressos, um hotel de cinco estrelas com 160 quartos e um conjunto de 111 serviced apartaments de luxo e neste projeto a Fortera tinha um investimento previsto de 150 milhões de euros e a primeira fase de construção iria arrancar ainda este ano.
Outro dos projetos é o Alive Riverside, localizado nas margens do Douro, também em Gaia, com um investimento global que ascende a 110 milhões de euros. A primeira fase do condomínio que totaliza 126 casas com tipologias de T1 a T5, está em construção desde março. Mas já depois de o projeto ter sido licenciado foram encontrados no terreno vestígios arqueológicos que impunham a suspensão da construção do projeto. Foi então que, segundo a TVI que teve acesso ao documentos da investigação do MP, a Fortera terá oferecido um relógio no valor de três mil euros ao vice-presidente da Câmara de Gaia que, através do seu advogado, “terá feito saber à promotora que resolveria a questão dos vestígios arqueológicos a troco do pagamento de uma quantia” que terá ascendido a cerca de 125 mil euros, conta a TVI.
Elad Dror nasceu em Telavive, Israel, tem 43 anos e é judeu sefardita. Criou os primeiros negócios em Portugal em 2010 – depois de ter passado pelos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Bélgica –, com a assinatura de dez contratos com lojas dos centros comerciais Dolce Vita para vender carrinhos telecomandados e, à data, tinha uma participação minoritária nos franchisings da Huawei e Xiaomi Store. Hoje é um dos protagonistas do mercado imobiliário em Portugal, sobretudo na região do Porto com projetos que totalizam cerca de 750 milhões de euros em investimento. Cria a Fortera em 2014 com o compatriota Nir Shalom e, posteriormente, fixa residência no Porto.
Há dois dias Elad Dror abriu uma loja em Braga, a Max 10, a primeira loja em Portugal do grupo retalhista low cost israelita, a Max Stock. A loja tem mais de nove mil produtos de várias categorias desde artigos para a casa e de beleza, brinquedos, de desporto ou itens de escritório, com um valor máximo de 10 euros. Também em Braga a Fortera tem um projeto imobiliário que contou com um investimento de 10 milhões de euros para transformar o Convento do Carmo em 70 apartamentos.
No final de abril, a Fortera anunciou num novo projeto residencial localizado na margem sul do Tejo, que terá um investimento de mais de 200 milhões de euros e que está previsto ficar concluído em 2026.
Além de Elad Dror, foi ainda detido um outro empresário do ramo imobiliário, Paulo Malafaia, que já tinha sido detido no âmbito da Operação Vórtex, ao abrigo da qual o ex-presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, se encontra em prisão preventiva.
Também foram detidos o vice-presidente do município de Vila Nova de Gaia, Patrocínio Azevedo, que tem o pelouro do Planeamento Urbanístico e Política de Solos, Licenciamento Urbanístico, Obras Municipais e Vias Municipais. Patrocínio Azevedo é ainda presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Gaia.
Foram detidos ainda dois funcionários da Câmara do Porto, um deles é chefe de uma divisão da área urbanística e outro com ligações a esta divisão. A PJ deteve também um técnico superior da Direção Regional de Cultura do Norte e um jurista.
Está previsto que os sete detidos, todos homens, sejam presentes a primeiro interrogatório judicial, a partir de quarta-feira, ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto, para aplicação de medidas de coação. A “Operação Babel centra-se na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”, explicou a PJ, em comunicado.
“Nesta fase, foram já constituídos 12 arguidos, estando os detidos, um titular de cargo político [vice-presidente da autarquia de Gaia], dois funcionários de serviços autárquicos, um funcionário de Direção Regional de Cultura do Norte, dois empresários e um profissional liberal, indiciados pela prática dos crimes de recebimento ou oferta indevidos de vantagem, corrupção ativa e passiva, prevaricação e abuso de poder praticados por e sobre funcionário ou titular de cargo político”, deu conta a PJ.
Ao ECO a autarquia de Gaia garante que forneceu todos os “elementos solicitados” no âmbito deste processo, que “decorre alegadamente de uma denúncia anónima e visa aspetos basicamente ligados a dossiers dos serviços municipais do urbanismo”.
“Como é evidente, todos os elementos foram fornecidos e o presidente da Câmara Municipal deu indicação expressa aos serviços para a cedência de todos os elementos necessários às averiguações legais. As questões ficaram devidamente documentadas, mantendo-se os serviços em disponibilidade total para colaborar com a Justiça e com a investigação”, referiram.
Já a Câmara Municipal do Porto, em comunicado, indica que as buscas da PJ nos serviços municipais do urbanismo não visam o município, mas empresas privadas com processos urbanísticos ali a tramitar. Além disso, a autarquia confirmou que a PJ estava a analisar dois telemóveis, sem avançar a quem pertencem. Anteriormente, fonte da Câmara do Porto confirmou terem sido apreendidos os telemóveis do vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, e de uma chefe de divisão do Urbanismo.
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