Número de fogos até abril acima da média. Portugal caminha para época “complexa”
Até abril, perto de 8 mil hectares arderam, valor que fica acima da média dos últimos 10 anos. Próxima época de incêndios ameaça ser "complexa", apesar do número de fogos anuais ter vindo a diminuir.
O número de incêndios e a área ardida em Portugal já é superior à média dos últimos dez anos, ainda que o país não tenha entrado na época mais crítica dos fogos florestais, tipicamente o verão.
Esta realidade, acompanhada das previsões para os próximos meses de temperaturas elevadas, ausência de chuva e risco de incêndio muito elevado do Instituto Português do Mar e das Atmosfera (IPMA), sugerem que Portugal pode estar a caminhar para uma época de incêndios “muito complexa”, tal como já adiantou a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar. Mas, ao ECO/Capital Verde, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) garante que os dados até à data “não são preocupantes” e que se tem verificado “uma tendência de diminuição de incêndios e de área ardida” nos últimos anos.
Segundo o relatório do ICNF divulgado em abril, no período compreendido entre 1 de janeiro e 11 de abril de 2023, foram contabilizados um total de 1.971 incêndios rurais que resultaram em 7.366 hectares de área ardida. Comparando os valores de 2023 com o histórico dos dez anos anteriores, registaram-se 12% mais incêndios rurais e um aumento de 48% da área ardida relativamente à média anual do período.
“Até à data, temos um valor em termos absolutos de número de incêndios e área ardida um pouco acima da média dos últimos dez anos, mas não é preocupante“, alertou o engenheiro o vogal do Conselho Diretivo do ICNF, Nuno Sequeira. Segundo o responsável, o facto de estes incêndios terem ocorrido durante parte do inverno e da primavera, altura em que, tipicamente, as temperaturas não atingem os valores mais críticos, “acabam por ter um contributo na diminuição da carga de combustível ao longo do território“.
No entanto, as expectativas quanto à próxima época de incêndios são desafiantes, à medida que a situação de seca extrema e severa no território continua a agravar-se e as temperaturas podem tocar os níveis de 2022.
Apesar de o cenário apontar para condições propícias a incêndios, o dispositivo de proteção e prevenção de incêndios do ICNF, colocado no terreno em 2017, depois “da tragédia” em Pedrógão Grande, tem permitido adequar melhor o território para os períodos de maior vulnerabilidade, explica o vogal do ICNF. Embora a época de fogos florestais tenha ficado marcada pelo incêndio na serra da Estrela, Nuno Sequeira aponta que em 2022 o número de incêndios e de área ardida ficaram abaixo da média dos últimos dez anos.
“Em 2022, se compararmos com a média dos dez anos anteriores, tivemos menos 33% em termos de número de incêndios e menos 13% em termos de área ardida, o que significa que o sistema está a produzir resultados”, defende o responsável. Naquele ano, indicam os dados provisórios do ICNF, arderam 110.007 hectares, tendo sido o fogo da Serra da Estrela o que registou maior área ardida, queimando quase 25.000 hectares.
Segundo o responsável, graças ao dispositivo de prevenção de preparação do território “verifica-se uma tendência sistemática de redução do número de incêndios, o que é muito importante pois permite que os meios atuem de uma maneira mais forte e eficaz”. Ademais, o comportamento das empresas, autarquias e cidadãos na gestão dos territórios tem contribuído também para a redução de ocorrências. “É importante termos presente que não se pode tirar o pé do acelerador”, defende.
A Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) fez o mesmo balanço num relatório em que conclui que, entre 2018 e 2022, “o número total de incêndios reduziu para metade” e a tendência é de “redução do número médio de incêndios em dias de maior perigosidade”.
Embora a área ardida e o número de ocorrências tenha diminuído no ano passado, Nuno Sequeira não afasta o cenário sugerido pela secretária de estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, que considerou que, neste momento, tudo aponta “para que o verão de 2023 possa ser muito complexo” e “difícil” em matéria de incêndios florestais.
“É sempre bom estarmos preparados para um período que seja complexo. Os dados demonstram que, provavelmente, a tendência é para as situações irem ficando mais complexas. Existem projeções que sugerem que a tendência é para termos um período de verão que exige toda a atenção dos cidadãos e das forças presentes no terreno”, vinca Nuno Sequeiro.
Autoridades reforçam dispositivo de combate
Em matéria de recursos para o combate aos incêndios, o ICNF – que representa quase 20% do total de operacionais que fazem parte do dispositivo especial de combate a incêndios florestais, sendo o restante composto por elementos da GNR e a Proteção Civil – revela ter reforçado a equipa com mais 80 elementos.
Mas o objetivo será replicar isso pelas restantes equipas de intervenção. A Comissão Europeia vai financiar, com dois milhões de euros, o aluguer de dois meios aéreos para combate aos incêndios em Portugal. Estes meios aéreos fazem parte de um total de 24 novos aviões e helicópteros que ficarão disponibilizados para os Estados-membros.
Além disso, a Áustria, a Bulgária, a Finlândia, a França, a Alemanha, a Letónia, Malta, a Polónia, a Roménia, a Eslováquia e a Eslovénia comprometeram-se a enviar cerca de 450 bombeiros para serem colocados em Portugal, França e na Grécia, três países considerados por Bruxelas altamente vulneráveis aos incêndios.
“A cooperação entre Estados-membros para o combate aos incêndios é fundamental, faz todo o sentido haver essa cooperação”, sublinha Nuno Sequeira, acrescentando que a parceria entre Portugal e Espanha é outro ponto-chave: “A cooperação bilateral é muito importante porque nem os incêndios, nem as populações animais ou vegetais conhecem fronteiras.”
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