Chefias na origem de 42% dos casos de violência verbal ao profissional LGBTQIA+
Há mais pessoas a assumir a sua orientação sexual ou género no trabalho, mas 6% dos profissionais LGBTQIA+ dizem sentir-se discriminados no recrutamento, percentagem que sobe para 50% na pessoa trans.
Quatro em cada dez profissionais LGBTQIA+ em Portugal partilham a sua orientação sexual no local de trabalho, mas 4% destes profissionais já foi vítima de violência verbal devido à sua identidade de género ou orientação sexual, um ataque verbal que, em 42% dos casos, terá tido origem em chefias. Quase um terço das empresas nacionais dizem ter programas de diversidade e inclusão LGBTQIA+, mas 6% dos profissionais dizem sentir-se discriminados no recrutamento, percentagem que sobe para 50% na pessoa trans, revelam os dados do estudo “Diversity at Work”, do ManpowerGroup, a que o Trabalho by ECO teve acesso.
Há motivos para otimismo no que toca à inclusão da comunidade LGBTQIA+ no mundo do trabalho e das empresas em 2022, quando se compara com 2021, destaca Sónia Bento. “25% das empresas nacionais contam com programas de diversidade e inclusão LGBTQIA+ e este valor representa uma evolução positiva, quase duplicando o resultado de 13% que se anunciava em 2021“, refere a people & culture manager do ManpowerGroup. Mais: “32% das empresas inquiridas dizem que apoiam publicamente esta comunidade, e também este resultado é superior em 12 pontos percentuais ao registado no último estudo.”
O estudo — que resulta de mais de 5.000 respostas em 14 países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Eslováquia, Grécia, Israel, Itália, Hungria, Roménia, Suíça, Reino Unido e República Checa) incluindo Portugal — revela que 44% da comunidade LGBTQIA+ em Portugal já partilha a sua orientação sexual no trabalho, uma subida de três pontos percentuais (p.p.) face a 2021, destaca Sónia Bento, referindo ainda o facto de mais líderes comunicarem, abertamente e de forma visível, a toda a empresa que são desta comunidade: mais 12 p.p., atingindo atualmente os 35%.
Quem mais partilha?
São os profissionais em posições mais seniores — com 67% das lideranças executivas a fazerem-no — e os mais juniores — com 56,7% — aqueles que mostram maior confiança em partilhar a sua orientação sexual ou identidade de género. Já os que ocupam uma função de gestão intermédia (44,5%) ou técnica (52,6%) são os mais avessos em fazer essa partilha.
Uma decisão com impacto na produtividade — com 64% das pessoas LGBTQIA+ a considerarem que a sua capacidade de trabalho aumentou após revelarem a sua orientação sexual ou identidade de género no emprego — e na inovação de toda a empresa, com 8,5 em cada dez de todos os profissionais a acreditarem que espaços de trabalho diversos promovem também a inovação e a geração de novas ideias, um resultado alinhado com 2021.
Evoluções positivas, mas ainda longe da situação em Espanha. “Relativamente à disponibilidade dos profissionais LGBTQIA+ em partilharem a sua orientação sexual ou identidade de género, Espanha apresenta dados mais favoráveis, com 50% dos inquiridos a afirmarem que já o fazem, face a 44% em Portugal”, refere Sónia Bento. Mas, numa ótica mais positiva, “após esta partilha, são os portugueses que mais consideram que a sua produtividade se viu reforçada, com 64% a ter sentido este impacto positivo, valor superior aos 44% do país vizinho”, e também acima da média europeia (42%).
“É também em Espanha que a hierarquia mais impacta a abertura dos profissionais em revelarem a sua orientação sexual e identidade de género, uma vez que são os espanhóis em cargos mais juniores que mais evitam fazer esta partilha — com apenas 31% a admitirem fazê-lo –, face a 57% dos portugueses no mesmo nível. Em ambos os países, estão nas lideranças executivas os profissionais que mais se abrem sobre esta temática, com 67% dos líderes portugueses a assumirem a sua sexualidade ou identidade de género, face a 70% dos espanhóis”, refere a people & culture manager do ManpowerGroup.
São as empresas do setor Social — que inclui ONG e fundações — que assumem a liderança no índice de inclusão (4,57 pontos num máximo de 5); seguido do Retalho e Distribuição (4,13 pontos); Hotelaria, Turismo e Lazer (3,79 pontos). Já a indústria (2,86 pontos) e logística e transportes (2,62 pontos) estão entre os setores menos inclusivos.
Mas na altura de medir quão inclusiva é a organização, há uma diferença de perceção. De acordo com os profissionais inquiridos, apenas 25% das empresas contam com programas de diversidade e inclusão LGBTQIA+. No entanto, 32% das companhias inquiridas dizem que apoiam publicamente a comunidade LGBTQIA+, através de comunicação ou de políticas claras.
“Em Espanha existe um maior desencontro entre o apoio que as empresas anunciam publicamente à comunidade LGBTQIA+ e os programas que realmente implementam. 42% das empresas espanholas assumem este posicionamento público, mas apenas 17,5% têm programas concretos, segundo os seus profissionais”, aponta Sónia Bento.
No que respeita às estratégias desenvolvidas pelas entidades, a formação é a medida de inclusão mais difundida, presente em 17% das empresas, seguida dos grupos de apoio, opção desenvolvida por 8% das organizações.
Na hora de escolher uma empresa para trabalhar, para 32% das pessoas LGBTQIA+ a opção passa por empresas com políticas de diversidade definidas (+4 p.p.) valor que, no caso da Geração Z, sobe para 50%.
Chefias na origem de 42% dos casos de violência verbal
Apesar de algumas evoluções, o estudo revela ainda o caminho a percorrer na sociedade e nas organizações em prol de uma maior inclusão da comunidade: em Portugal, 4% das pessoas LGBTQIA+ inquiridas dizem ter sido vítimas de violência verbal no seu local de trabalho devido à sua identidade de género ou orientação sexual, menos 8 p.p. face ao estudo anterior.
O número compara com Espanha, onde essa situação tem proporções bem maiores. “Apenas 4% dos portugueses dizem ter sido vítimas (de violência verbal por questões de orientação sexual), face a 40% dos inquiridos espanhóis, que revelaram este flagelo, e que resulta num aumento face ao último estudo de 2021 neste país”, denuncia a people & culture manager do ManpowerGroup.
No entanto, apesar do recuo no número de pessoas a assinalar ter sido vítima de violência verbal em Portugal, em 42% dos casos esse ataque verbal tem origem em chefias.
A discrepância entre Portugal e Espanha é ainda visível no que toca à discriminação, “com 21% dos profissionais espanhóis a admitirem ter sofrido esta realidade em contexto laboral, valor superior aos 6% do talento nacional. É também em Espanha que mais pessoas (32%) testemunharam discriminação para com esta comunidade, valor superior em 18 pontos percentuais à realidade portuguesa”, aponta Sónia Bento.
Em Portugal, 14% dos profissionais já testemunharam no trabalho comportamentos discriminatórios contra colegas LGBTQIA+, pese embora o recuo de 15 p.p. face ao estudo anterior.
E a discriminação também se faz sentir no momento de entrada dos profissionais numa organização: 6% das pessoas da comunidade LGBTQIA+ pensam ter sido discriminadas durante os processos de recrutamento, perceção que é superior a 50%, no caso das pessoas trans.
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