A união faz a força no universo das fusões e aquisições
O ambiente económico adverso e sobretudo incerto deverá ser um importante catalisador para a consolidação de negócios. Veja a conferência do ECO, com a PRA e a Yunit, sobre "Fusões & Aquisições".
Desde o início do ano foram realizadas 42 operações de fusões e aquisições envolvendo empresas nacionais num montante global de 1.160 milhões de euros. Trata-se de um volume de negócios equivalente a 45% do montante registado na globalidade do ano passado e menos de um terço do número de negócios realizados em 2022, segundo dados da Dealogic.
O mercado está muito longe da vitalidade do passado recente. O primeiro trimestre, apesar de mostrar um volume de 872 milhões de euros e 24 operações de fusões e aquisições, 77% deste volume deveu-se a apenas um negócio. Tratou-se da venda a VIC Properties, uma das maiores promotoras imobiliárias em Portugal, por 670 milhões de euros a um consórcio de investidores liderado pela AlbaCore Capital, Mudrick Capital Management e pela Owl Creek Asset Management. O negócio foi anunciado em meados de março e deverá estar concluído durante o segundo trimestre deste ano.
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Se o mercado de fusões e aquisições é um bom indicador para medir a saúde da economia de um país, Portugal está longe de estar em forma. As causas são várias, mas no cerne do problema está a falta de capital do mercado nacional e a instabilidade legislativa no tratamento do capital estrangeiro.
“Não temos capital em Portugal suficiente para potenciar as fusões e aquisições”, refere António Ramalho, senior adviser da Alvarez & Marsal, no seguimento da conferência do ECO “Fusões & Aquisições”, que contou com o apoio da Yunit Consulting e da PRA – Raposo, Sá Miranda & Associados. “O capital tem de ser angariado no estrangeiro e, para isso, é fundamental não mexer nas regras do investimento estrangeiro”, destaca António Ramalho.
A dimensão do mercado é um desafio. Não apenas no campo do capital, mas também ao nível da participação dos operadores. “O mercado está absorvido pelos grandes bancos norte-americanos e de algumas boutiques internacionais que ganharam dimensão em Portugal”, refere António Ramalho no primeiro de dois painéis da conferência com o tema “Fusões e Aquisições – Um Caminho para o Crescimento”.
Entre os principais intervenientes dos negócios de fusões e aquisições em Portugal estão também os “Big 4” da consultoria e da auditoria, que acabaram por se tornar nos grandes participantes da indústria, sobretudo em função da perda de interesse por este mercado por parte da banca. “O único campo em que mantemos alguma presença significativa portuguesa são os advogados”, salienta António Ramalho.
Combater as dificuldades sem esquecer a ambição
Além da escassez de capital e da instabilidade no plano legislativo do capital estrangeiro, Pedro Raposo, chairman da PRA – Raposo, Sá Miranda & Associados, destaca ainda a tradicional burocracia nacional como condicionante ao desenvolvimento de mais negócios no mercado nacional. “Já temos um regime benéfico no ambiente das fusões e aquisições. Não me parece que o problema esteja aí. O que não está bem é a demora da tomada de decisões por parte das autoridades políticas em algumas situações, e neste setor o tempo é crucial.”
Esta situação ganha ainda maior relevo numa altura em que os desafios e sobretudo as incertezas no plano económico ganham destaque. “As empresas olham para as fusões e aquisições como uma forma de ganharem escala, ganharem novos mercados”, refere Pedro Raposo no painel da conferência do ECO “Fusões e Aquisições – Um Caminho para o Crescimento”. Porém, o advogado nota também que, se nos últimos dez anos as condições de mercado apontavam para que as operações fossem sobretudo montadas para promover uma expansão do negócio, “agora deveremos ter um pouco mais de operações a aproveitar as fusões e aquisições para corrigir alguns problemas”, sobretudo no plano financeiro.
Esse ambiente é criado pela ocorrência repentina do incremento dos custos de financiamento, operacionais e de pessoal, como consequência da forte subida da inflação e das taxas de juro. “É algo que, nos últimos dez anos, as empresas não estavam habituadas a lidar”, refere António Ramalho, sublinhando que isso conduz para uma consolidação de negócios numa perspetiva de aproveitamento de sinergias.
Em função do ambiente económico adverso que se vislumbra no horizonte, o mercado de fusões e aquisições viverá cada vez mais como uma solução capaz de promover uma redução de custos por parte das empresas para beneficiar dos ganhos de dimensão e de eficiência. Mas terá também de conviver com a necessidade de obter capital no estrangeiro, dada a escassez desse bem no mercado interno.
Assista à conferência.
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