Ministro da Cultura não se retrata sobre críticas à CPI da TAP. Recusa “suspender espírito crítico”

Pedro Adão e Silva reafirma as críticas que fez ao funcionamento da comissão de inquérito à TAP e diz que não está escrito "em nenhum lado que os ministros devem suspender o seu espírito crítico".

O ministro da Cultura recusa retratar-se sobre as declarações que fez acerca do funcionamento da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP, referindo que os ministros não “devem suspender o seu espírito crítico” e negando que tenha faltado ao respeito ao Parlamento. António Lacerda Sales, deputado socialista, ex-secretário de Estado e presidente da CPI, tinha considerado tais declarações “uma falta de respeito” e instado Pedro Adão e Silva a “retratar-se”.

Numa entrevista à TSF e ao Jornal de Notícias divulgada no fim de semana, o governante gerou controvérsia ao tecer críticas aos trabalhos da comissão, por alguns deputados terem desempenhado um papel de “procuradores do cinema americano da série B da década de 80”, afirmou. O comentário caiu mal junto do presidente da CPI, que disse entender que as declarações do ministro da Cultura foram uma “falta de respeito” e uma “caracterização muito injusta” do trabalho dos deputados, pedindo que o mesmo se retratasse.

A réplica surgiu em declarações transmitidas pela RTP3: “Claro que não [me retrato]. Posso mesmo elaborar muito e terei todo o prazer”, atirou Pedro Adão e Silva aos jornalistas. O ministro foi até mais além e acrescentou não compreender “o tom inquisitório” de alguns parlamentares, dizendo considerar que há “uma reflexão a fazer” sobre a forma como os trabalhos foram conduzidos e como se transformaram “num longo comentário televisivo, como se estivéssemos a falar de um reality show“.

“Acho um pouco surpreendente que ninguém se inquiete com apreensões de telemóveis na CPI ou com perguntas com quem se está a trocar SMS”, bem como “com inquirições noite dentro”, sublinhou esta segunda-feira, sinalizando que “nada disto contribui para o bom funcionamento das instituições”.

O governante recusou ainda que as suas declarações sejam desrespeitosas para os deputados e para o Parlamento, referindo que “o Governo responde perante a Assembleia, mas não está escrito em nenhum lado que os ministros devem suspender o seu espírito crítico em relação ao que é o funcionamento do Parlamento”.

A par do socialista Lacerda Sales, também os deputados da CPI à TAP criticaram as palavras do ministro (à exceção do PS). Do PSD, o deputado Paulo Rios de Oliveira acusou Pedro Adão e Silva de “arrogância e ignorância” e lembrou que “até na mesa do café um ministro é ministro”, repetindo uma repreensão que o primeiro-ministro, António Costa, tinha feito a membros do Governo no passado.

Questionado pelos jornalistas sobre esse comentário, o ministro da Cultura retorquiu que “os membros do Governo não têm opiniões pessoais” e que as suas palavras não foram proferidas “numa mesa de café”, mas “num órgão de comunicação social, sobre a degradação da vida política e da vida democrática”.

Entretanto, no Twitter, o presidente do PSD acusou o ministro da Cultura de “arrogância e pedantismo intelectual”, considerando que Pedro Adão e Silva “nunca deixou de ser funcionário da narrativa socialista” apesar da “pretensa independência de opinião”.

Já André Ventura, deputado do Chega, considerou que se trataram de declarações “irresponsáveis” e “incendiárias” de “um ministro sem perfil”, enquanto Pedro Filipe Soares, deputado do Bloco de Esquerda acusa o ministro de querer desviar as atenções dos “escândalos do Governo”. Já Paulo Raimundo, do PCP, afirmou serem declarações para “entreter”.

Entretanto, Alexandra Leitão e Isabel Moreira, duas deputadas socialistas, já vieram em defesa de Lacerda Sales. “Foram declarações infelizes para um ministro da República” que “não [as] faria se não tivesse maioria absoluta”, considerou Alexandra Leitão, no programa “O Princípio da Incerteza”, da TSF e CNN Portugal. Por sua vez, Isabel Moreira publicou no Twitter uma notícia sobre as críticas do presidente da comissão de inquérito a Adão e Silva, comentando “muito bem”.

(Notícia atualizada às 15h25 com reação de Luís Montenegro)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Ministro da Cultura não se retrata sobre críticas à CPI da TAP. Recusa “suspender espírito crítico”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião