Áustria convoca representante da UE após críticas sobre compra de gás russo
“Meu Deus, 55% do gás austríaco continua a vir da Rússia”, disse Martin Selmayr, antes de sugerir que "todos os dias dinheiro de sangue é enviado para a Rússia com a conta do gás”.
O Governo da Áustria convocou esta quinta-feira o representante da União Europeia (UE) em Viena, Martin Selmayr, que na quarta-feira descreveu as importações austríacas de gás russo, em plena guerra na Ucrânia, como “dinheiro de sangue”. “O senhor Selmayr foi convocado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para uma reunião com o secretário-geral”, segundo um comunicado enviado à agência France Presse (AFP), sem precisar a data para o encontro.
“Meu Deus, 55% do gás austríaco continua a vir da Rússia”, declarou o representante alemão de 52 anos na noite de quarta-feira, à margem de uma feira de arte contemporânea na capital austríaca, acrescentando que, com isto, Viena financia a guerra da Rússia contra a Ucrânia e lamentando que ninguém saia às ruas para se manifestar contra estas importações.
“Isso surpreende-me, já que todos os dias dinheiro de sangue é enviado para a Rússia com a conta do gás”, disse Selmayr, que entre 2014 e 2018 foi chefe de gabinete do então presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, antes de ser nomeado secretário-geral da instituição. A Áustria é um país rico e poderia ser gerido perfeitamente sem o gás russo, segundo concluiu o embaixador dos 27 em Viena, nas mesmas declarações citadas pelas agências internacionais.
O partido de oposição de extrema-direita FPÖ, considerado próximo do Kremlin (Presidência russa), ficou indignado com estas declarações e instou o chanceler federal, o conservador Karl Nehammer, a exigir em Bruxelas a demissão imediata de Selmayr. Até à invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, 80% do gás natural importado pela Áustria provinha da Rússia, graças a contratos de longo prazo entre a petrolífera local OMV, detida em 31,5% pelo Estado, e o gigante russo Gazprom.
Embora tenha reduzido essa percentagem nos últimos meses, o Governo conservador de Viena alega que a OMV tem um acordo de compra de gás com a Gazprom em vigor até 2040 que é impossível rescindir sem enormes penalizações. Primeira empresa ocidental a assinar um contrato de entrega com a União Soviética em 1968, o grupo OMV afirma ter aumentado as suas fontes de abastecimento desde o início do conflito.
Durante muito tempo, a Áustria, cujas relações diplomáticas com Moscovo remontam a 1698, mantinha boas relações com o Presidente russo, Vladimir Putin, que até dançou em 2018 uma valsa no casamento da então ministra dos Negócios Estrangeiros, Karin Kneissl.
O país de nove milhões de habitantes, que pretende ser uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, está muito apegado à sua neutralidade, que a guerra não pôs em causa. Ao contrário da Suécia e da Finlândia, a Áustria não pretende aderir à NATO, mantendo-se protegida pela sua localização geográfica no coração da UE. O Governo virou agora as costas ao Kremlin, assumindo o apoio a Kiev, mas muitas empresas austríacas continuam, porém, a manter ligações privilegiadas com Moscovo.
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