Sem surpresa, Fed carrega no botão da pausa e mantém as taxas de juro inalteradas

O banco central foi ao encontro das expectativas e fez uma pausa nas subidas das taxas diretoras, mas sinalizou que deve voltar a aumentar este ano.

A Reserva Federal norte-americana (Fed) manteve esta quarta-feira inalteradas as taxas de juro, confirmando uma pausa no ciclo de subidas que era esperada pela grande maioria dos investidores e economistas. O Comité de Política Monetária da Fed (FOMC) informou, em comunicado, que as Fed Funds Rates permanecem inalteradas no intervalo 5,25%-5,5%.

“O Comité procura atingir o nível máximo de emprego e inflação à taxa de 2% a longo prazo. Em apoio a estes objectivos, o Comité decidiu manter o intervalo-alvo para a taxa Das Fed Funds Rates entre 5,25% e 5,50%”, sublinhou.

“Ao determinar a extensão do reforço adicional da política que pode ser apropriado para fazer regressar a inflação a 2% ao longo do tempo, o Comité terá em conta o aperto cumulativo da política monetária, os desfasamentos com que a política monetária afecta a actividade económica e a inflação, e os factores económicos e financeiros”, adiantou.

O dot plot, gráfico que representa as avaliações dos membros do FOMC para a política monetária apropriada aponta para mais uma subida nas taxas de juro este ano, com 12 membros a indicarem que a Federal Funds Rate deverá terminar 2023 no intervalo de 5,5%-5,75%, com apenas sete a apostarem na manutenção dos níveis atuais.

No entanto, as projeções trimestrais atualizadas da Fed mostram que as taxas cairão apenas meio ponto percentual em 2024, em comparação com o ponto percentual total de cortes previstos na reunião de junho. A federal funds rate é assim vista a cair para 5,1% no final do próximo ano e para 3.9% no fim de 2025.

“A Reserva Federal certamente fez hoje uma pausa agressiva, com a mensagem clara de que os decisores acreditam que as taxas de juro permanecerão mais altas por mais tempo”, afirmaram os analistas do banco neerlandês ING.

Desde março de 2022, a Fed aumentou as taxas diretoras dos 0,25% para o valor mais elevado em mais de duas décadas nos 5,5% para controlar a taxa de inflação que, desde o pico de 9,1% em junho do ano passado, caiu para 3,2% em julho antes de acelerar ligeiramente para 3,7% em agosto.

Dot plot “não é um plano”

Na conferência de imprensa, Jerome Powell quis esclarecer que as opiniões indicadas no dot plot não representam um plano de ação e que o facto de a Fed ter decidido manter a taxa directora nesta reunião não significa que tenha decidido se atingiu ou não a posição de política monetária que procura. “Se olharmos para as projeções económicas [documento que inclui o dot plot], a maioria dos participantes acredita que é mais provável que o façamos, que será apropriado aumentarmos as taxas mais uma vez nas duas reuniões restantes deste ano, enquanto outros acreditam que já alcançamos isso”. E

“É algo em que não estamos a tomar uma decisão, decidimos apenas manter a taxa e aguardar mais dados”, explicou. “As projeções não são um plano negociado ou discutido como um plano… é um acumular de previsões individuais de 19 pessoas e o que vemos é a mediana, não gostaria de dizer que isso é realmente um plano”.

O chairman da Fed realçou que o que isso reflecte, porém, é que as atividades económicas têm sido mais fortes do que o banco central esperava, do que todos esperavam, “por isso o que estamos a ver é que isto é o que as pessoas acreditam que a partir de agora será apropriado para alcançar o que pretendemos alcançar, que é um progresso em direção à nossa meta de inflação”.

“Período miserável” se a inflação voltar

Powell explicou ainda como a Fed tem de equilibrar a luta contra inflação — subida de preços continua acima da meta de 2% – com o objetivo de de uma “aterragem suave” da economia norte-americana, sem recessão.

“Uma aterragem suave é um objectivo primordial… e é isso que temos tentado alcançar durante todo este tempo”, disse. “A verdadeira questão, porém, é que a pior coisa que podemos fazer é não conseguir restaurar a estabilidade de preços porque os registos são claros quanto a isso, se não restaurarmos a estabilidade de preços, a inflação volta e poderemos passar um longo período em que a economia será muito incerta e isso afetará o crescimento, afetará todo o tipos de coisas”, disse.

Pode ser um período miserável ter a inflação a voltar constantemente e a Fed a ter de entrar e apertar repetidamente“, sublinhou Powell. “Portanto, acreditamos que a melhor coisa que podemos fazer por todos é restaurar a estabilidade de preços”. Adiantou que agora o banco central tem a capacidade de ser cuidadoso e agir com cuidado. “É isso que estamos a planear fazer, Portanto, apreciamos plenamente os benefícios de poder continuar o que já vemos, que é o reequilíbrio do mercado de trabalho e a queda da inflação, sem ver um grande aumento importante no desemprego, o que tem sido típico de outros ciclos de aperto”.

A Fed reviu em alta as projeções de crescimento da maior economia do mundo. Prevê agora expansões de 2,1% este ano e de 1,5% na próximo, que comparam com as anteriores projeções – da reunião de junho – de 1% e 1,1%, respectivamente. Em relação ao desemprego o banco central liderado por Jerome Powell também tem agora uma visão mais positiva, projetando uma taxa de 3,8% em 2023, abaixo dos 4,1% que previa em junho. Para 2024, essa taxa deve subir para 4,1%, face à projeção anterior de 4,5%

Segundo a Fed, a inflação deverá chegar à meta de 2% em 2026, descendo de 3,3% este ano, para 2,5% no próximo e 2,2% em 2025. Estas projeções ficaram praticamente inalteradas face às de junho.

Para os analistas do ING “estas são mudanças importantes, sugerindo que as autoridades estão firmemente na opinião de que podem gerar uma aterragem suave/nenhuma recessão, ao mesmo tempo que orientam a inflação para a meta de 2% ao longo do tempo”.

Subinharam que esta é “uma decisão ousada, dadas todas as incertezas que existem, e faz parecer mais provável que a Fed vá efectivamente levar a cabo outro aumento, apesar de não considerarmos que seja necessário”.

[Notícia atualizada às 20h36]

 

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