Descargas de água salgada da futura dessalinizadora do Algarve podem causar impactos “danosos”

APA indica que elevados níveis de sais nas águas poderão revelar-se "danosos ou até mortais para os organismos mais sensíveis" nas águas costeiras em Quarteira.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) colocou em consulta pública o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) referente à futura dessalinizadora do Algarve, identificando as descargas de lamas e salmoura (águas residuais com elevada concentração de sal) para a ribeira de Quarteira como responsáveis pelos principais impactos negativos resultantes da instalação desta infraestrutura.

A entidade liderada por Nuno Lacasta alerta no EIA, que se encontra em consulta pública até 19 de dezembro, que a descarga desta água salgada pode ter “impactes nas águas costeiras”, nomeadamente devido à “concentração de sais e compostos químicos decorrentes das escorrências/lavagem de equipamentos”. Estes podem “revelar-se danosos ou até mortais para os organismos mais sensíveis“.

O possível impacto resulta do facto de estas águas possuírem uma salinidade, isto é, sais existentes em massas de água naturais, de cerca 67 ppt/psu — duas unidades que servem para medir a salinidade da água — e por ser cerca de seis graus Celsius mais quente que a água do mar, que tende a registar uma temperatura ambiente de cerca de 20 graus Celsius. Segundo o documento, estas águas serão libertadas a “sensivelmente dois quilómetros da costa e através de uma conduta equipada com 10 difusores na sua secção terminal, espaçados cerca de cinco metros entre si”. Estes difusores permitirão, no entanto, reduzir parte da salinidade registada.

Uma central de dessalinização utiliza a água do mar para rega de jardins, piscinas e lavagens várias numa unidade hoteleira em Alvor, Portimão, 1 de novembro de 2009. (ACOMPANHA TEXTO) LUIS FORRA/LUSA

 

“Nos difusores é expectável que ocorra a dispersão e diluição da salmoura na água do mar. No entanto, estes fenómenos dependem de vários fatores, como a velocidade das correntes e a topografia do local. Se a salmoura não se misturar adequadamente com a água do mar, pode levar a uma concentração localizada de salinidade elevada, agravando os impactes esperados“, lê-se nos documentos em consulta pública.

Além de registar níveis de salinidade e temperaturas diferentes daqueles da massa de água para onde serão descarregadas, a salmoura gerada após a dessalinização poderá “conter sólidos suspensos” o que prejudicará a penetração da luz solar na água, aumentando, por sua vez, a “turbidez da água”.

Apesar de admitir que o impacte da descarga de salmoura no mar ser “negativo”, o documento considera que “esta salinidade apenas deverá ser observada no local de rejeição“, que “está afastado de zonas sensíveis como pradarias marinhas, fundos rochosos e recifes artificiais, minimizando assim o impacte da descarga da salmoura nos organismos aquáticos”.

Com base nesta conclusão, não são apresentadas entraves significativas que impeçam a concretização desta obra. A APA sublinha que o projeto surge como necessidade de “criar uma alternativa capaz de garantir a resiliência do abastecimento público à população da região, mesmo em períodos de seca prolongada”.

A futura dessalinizadora do Algarve está prevista para entrar em operação em 2026 no Algarve, tendo como objetivo remover o sal da água e transforma-la em água potável. A obra terá um custo de 45 milhões de euros e terá capacidade de contribuir com mais de um terço do consumo urbano na região. A infraestrutura faz parte do Plano Regional de Eficiência Hídrica da Região do Algarve, financiado em 90 milhões de euros no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

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