Dupla de ativistas fingiu ser DJ Marshmello e representante da Adidas na Web Summit
DJ Marshmello e "executivo" da Adidas eram, afinal, a dupla de ativistas The Yes Men, que foram à cimeira tecnológica para denunciar os abusos laborais na marca desportiva.
O programa da Web Summit deste ano previa a presença do DJ e produtor norte-americano Marshmello para anunciar uma nova criptomoeda, a Adicoin, resultante de uma parceria com a Adidas. Na manhã de quarta-feira, o DJ atuou e deu uma conferência de imprensa ao lado do CFO da adiCoin. Mas, já na quinta-feira, Marshmello disse, nas suas redes sociais, que não esteve presente na cimeira tecnológica. Era, afinal, a dupla de ativistas The Yes Men que queria alertar para a “inação” da Adidas nas questões laborais.
Eram cerca das 10h30 de quarta-feira quando, no pavilhão 3 da Web Summit, que decorreu em Lisboa, Aristide Feldholt, identificado como um “executivo” da Adidas, subiu ao palco 8 para anunciar o adiVerse, cujo acesso seria feito através da criptomoeda adiCoin. O objetivo era recompensar dezenas de trabalhadores “mal pagos”.
O discurso do alegado executivo da marca fez ainda referências às “origens nazis da Adidas” e à “terceirização do trabalho forçado na Segunda Guerra Mundial”, aos problemas de trabalho infantil “quase resolvidos” e aos atuais “abusos laborais”, segundo descreve a rádio TSF (acesso livre).
Depois da palestra, foi a vez da atuação de Marshmello no palco Panda Conf, em que até “lançou” uma nova música, em que se fez acompanhar do grupo de dança Lisbon Brakers, mas, de acordo com a Rádio Renascença (acesso livre), o DJ estava com luvas e tinha uma voz diferente. Ao meio-dia, o artista norte-americano dá uma conferência de imprensa ao lado de Aristide Feldholt.
O embuste começou a desvendar-se depois de se perceber que, ainda na quarta-feira, mas às 22h30 locais (6h30 de Lisboa de quinta-feira), o DJ Marshmello atuava numa discoteca em Las Vegas, nos EUA, surgindo ao lado de pilotos da Fórmula 1, num evento de preparação para o Grande Prémio da modalidade, que se realiza naquela cidade norte-americana neste fim de semana.
Quase 24 horas depois, o próprio Marshmello fez uma publicação no X (antigo Twitter), negando ter estado presente na cimeira tecnológica. “Quem quer que a Web Summit tenha contratado para atuar ou dar entrevistas não sou eu. Peço desculpa a quem se deixou enganar por aquele impostor. A minha equipa legal já contactou a Web Summit”, escreveu.
Tweet from @marshmello
A organização da Web Summit ainda não esclareceu a situação. Ainda assim, há algumas pistas, como o facto de o DJ e produtor norte-americano não ter feito qualquer menção da sua presença no evento nas redes sociais, além de que, entretanto, o seu perfil desapareceu do website da Web Summit, assim como as publicações em que era mencionado nas redes sociais. Mesmo a palestra sobre a criptomoeda já não surge na agenda da cimeira, e as fotos da palestra e da conferência de imprensa deixaram de estar disponíveis.
Simultaneamente, a foto de perfil de Aristide Feldholt, colocada na aplicação da Web Summit como representante da adiCoin, não corresponde à mesma pessoa que esteve em palco, e não existe qualquer anúncio da Adidas quanto ao lançamento de uma nova criptomoeda ou de um metaverso com os nomes anunciados. A marca tem, aliás, o seu próprio metaverso.
As pessoas presentes no evento acreditaram, alegadamente, na existência deste novo mundo virtual. No entanto, não passava de um embuste, reivindicado na quinta-feira, passadas mais de 24 horas, pela dupla de ativistas The Yes Men. O DJ Marshmello era, na verdade, Mike Bonanno, enquanto Andy Bichlbaum fez-se passar por um “executivo” da Adidas. A revelação foi feita pelos próprios no website do grupo.
No website oficial da organização, pode ler-se que a dupla existe desde 1996, sendo recorrente o humor e a personificação de pessoas e organizações poderosas, como ocorreu na Web Summit, para chamar a atenção para problemas como os direitos dos trabalhadores, criticando a “dominância do mundo corporativo” na sociedade e denunciar “a ilusão neoliberal”.
No dia anterior à sua presença na cimeira tecnológica, os The Yes Men enviaram uma nota aos jornalistas, citada pela TSF, na qual garantiam que a organização do evento teria acreditado que tinha convidado a Adidas e o DJ Marshmello para discursar, “quando o que tiveram foi uma cabala bem organizada de ativistas que conceberam uma sátira para atingir a Adidas por inação sobre questões laborais”. Os ativistas asseguram também que os Lisbon Breakers, que realizaram uma coreografia em palco, não teriam percebido que haviam sido contratados por “impostores”.
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