“A mais triste herança de uma ministra que nunca o chegou a ser”
"Paroquial e mesquinho" é como o ex-ministro da Economia Pedro Siza Vieira considera o argumento do custo para por fim às Parcerias Internacionais com universidades americanas.
“A mais triste herança de uma ministra que nunca o chegou a ser, num governo que não merecia chegar ao fim de vida contrariando tudo o que defendeu nos últimos anos” é como Pedro Siza Vieira, antigo ministro da Economia de António Costa, classifica a decisão da ministra da Ciência e do Ensino Superior cancelar as parcerias com as universidades norte-americanas. “Paroquial e mesquinho” é como o antigo ministro considera o argumento do custo para cancelar as parcerias.
“Não consigo conformar-me com esta decisão. Este programa expôs cientistas portugueses às melhores práticas mundiais; criou dinâmicas de aplicação de conhecimento a produtos orientados para o mercado; e educou gerações de cientistas e engenheiros na noção de empreendedorismo ligado à ciência”, diz o antigo governante numa publicação na rede social LinkedIn.
Em causa estão parcerias com universidades norte-americanas como University of Texas at Austin, Carnegie Mellon University e MIT firmadas ainda no tempo do ministro Mariano Gago para promover a internacionalização da ciência e da tecnologia nacionais. Os contratos terminam no final do ano e não serão renovados.
Em junho, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e o Conselho dos Laboratórios Associados entregaram ao ministério liderado por Elvira Fortunato um parecer desfavorável à continuidade dos programas, alegando que estes já custaram a Portugal, desde 2006, cerca de 310 milhões de euros, segundo noticia o Expresso. Mas como o ECO revelou em primeira mão, este parecer não foi apoiado por todos os reitores e há um segundo, de um conjunto de personalidades independentes, da academia, dos laboratórios e das empresas, que defende a continuidade destes projetos. Só que a ministra Elvira Fortunato escondeu-o do debate público. “As Parcerias Internacionais (PI) constituem um elemento basilar da estrutura do orçamento da FCT, e a parte do orçamento dedicado às PI deve manter no mínimo o mesmo grau de materialidade que no passado (5% do orçamento da FCT)”, conclui o estudo.
“O mais triste nesta notícia é o argumento de que havendo pouco dinheiro para a ciência não faz sentido financiar universidades americanas… Este argumento é paroquial e mesquinho e próprio de quem não percebe que a transformação da economia portuguesa vem da valorização pelas empresas do investimento na educação e da ciência. Foi o trabalho nas universidades americanas que permitiu a portugueses adquirir os hábitos e o espírito que criaram algumas das mais valiosas empresas portuguesas”, considera o governante.
“Depois da desvalorização do ecossistema tecnológico e do apagamento da ciência no discurso político, esta notícia é a mais triste herança de uma ministra que nunca o chegou a ser, num governo que não merecia chegar ao fim de vida contrariando tudo o que defendeu nos últimos anos e enterrando o legado de Mariano Gago”, atira Siza Vieira.
“Que dizem o Ministro da Economia e o Primeiro-Ministro? Não conseguem reverter esta decisão, que contraria tudo o que sempre defenderam?”, questiona.
Siza Vieira é a mais recente voz a juntar-se à contestação da decisão da atual ministra da Ciência e do Ensino Superior, Elvira Fortunato. Também o fundador e CEO da Feedzai, Nuno Sebastião, já tinha criticado a decisão apontando o papel das parcerias com as instituições de ensino norte-americanas.
“Vale muito mais um investimento numa parceria com a CMU (Carnegie Mellon University) ou UT Austin (University of Texas Austin) do que vale uma Web Summit. Mas como somos um pais sem profundidade, o que é importante são as politicas que dão para a fotografia hoje e não politicas de longo prazo”, disse.
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