Passos pede novo Governo com “força e autoridade moral”, após demissão de Costa “por indecente e má figura”
Antigo primeiro-ministro critica “degradação extraordinária” das políticas públicas no país, esperando que o PSD lidere novo Executivo com “força e autoridade moral para conduzir política diferentes".
Pedro Passos Coelho não pretende nesta fase voltar a envolver-se na vida política – “cada um tem o seu tempo e este tempo não me pertence”, disse o antigo primeiro-ministro –, mas expressou esta terça-feira o “desejo muito sincero” de que o PSD “possa estar preparado para os tempos que aí vêm”.
“O país vai precisar seguramente de um Governo que não só tenha um rumo bem definido, mas que possa inspirar confiança às pessoas para inverter uma degradação extraordinária de uma parte muito significativa das políticas públicas que são importantes para o crescimento da nossa economia, para a geração de valor”, apontou.
Em declarações aos jornalistas antes de ser ouvido como testemunha no caso EDP, o antigo primeiro-ministro deu o exemplo da saúde, educação, habitação e segurança para diagnosticar que “muitas das políticas públicas se degradaram nos últimos anos”. Após as eleições de 10 de março, acrescentou, o país “[precisa] de um governo esclarecido, que tenha um rumo bem definido e que tenha força e autoridade moral para conduzir uma política diferente”.
Espero que o país saiba identificar no atual governo responsabilidades graves na situação a que o país chegou. Suficientemente graves para que o atual primeiro-ministro tenha sentido necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura.
Questionado sobre um eventual acordo do PSD com o Chega, Passos Coelho respondeu que isso “vai depender das estratégias dos partidos e das condições que os portugueses ofereçam aos partidos que terão a responsabilidade de Governo”. “Espero que ambos tenham uma aguda consciência da importância dos tempos que aí vêm. E que seja possível fazer um Governo que tenha autoridade moral e força – que só pode ser dada pelos eleitores – para que se faça o que é necessário”, completou.
“Espero evidentemente que o PSD possa ser o partido liderante nesta fase nova que se vai abrir. Não só porque é o meu partido, mas porque espero que o país saiba identificar no atual governo responsabilidades graves na situação a que o país chegou. Suficientemente graves para que o atual primeiro-ministro tenha sentido necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura”, concluiu.
Passos alega desconhecimento sobre o caso EDP
Esta terça-feira, no âmbito do caso EDP, vão ser ouvidos os testemunhos dos antigos primeiros-ministros Durão Barroso, José Sócrates e Pedro Passos Coelho, assim como do antigo ministro Luís Marques Mendes. O antigo primeiro-ministro disse aos jornalistas “não [fazer] ideia” do motivo pelo qual foi chamado para se pronunciar sobre “um caso que não [conhece]”.
À pergunta dos jornalistas sobre se o seu testemunho terá relevância, Passos Coelho disse não saber avaliar por desconhecer o motivo pelo qual foi chamado. “Não tenho conhecimento de nada em que o meu testemunho possa ser interessante”, insistiu.
O antigo ministro da Economia (entre 2005 e 2009) Manuel Pinho, que está em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, responde em julgamento por um crime de corrupção passiva para ato ilícito, outro de corrupção passiva, um crime de branqueamento de capitais e um crime de fraude fiscal.
A sua mulher, Alexandra Pinho, será julgada por um crime de branqueamento e outro de fraude fiscal – em coautoria material com o marido -, enquanto o antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, vai a julgamento por um crime de corrupção ativa para ato ilícito, um crime de corrupção ativa e outro de branqueamento de capitais.
Inicialmente ligada à gestão da empresa elétrica e a alegados favores, a investigação arrancou em 2012 por causa dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC).
Em causa estavam suspeitas de corrupção e participação económica em negócio por parte dos antigos administradores António Mexia e Manso Neto para a manutenção do contrato das rendas excessivas, no qual, segundo o Ministério Público (MP), teriam corrompido o ex-ministro Manuel Pinho.
No entanto, o MP acabou por separar em dezembro de 2022 os processos, ao centrar-se por agora nas suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais com dinheiros provenientes do Grupo Espírito Santo (GES) relativamente a Manuel Pinho, Alexandra Pinho e Ricardo Salgado.
(Notícia atualizada com informações sobre o caso EDP)
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