Sistema de pensões “já é deficitário”. O que propõem PS e PSD

Buraco supera os sete mil milhões, segundo o economista Jorge Bravo. Para evitar cortes futuros nas reformas, Pedro Nuno defende sistemas complementares. Montenegro quer esperar por 2028.

O sistema de pensões “já é deficitário em 7.000 milhões a 8.000 milhões de euros”, alerta o economista Jorge Bravo, em declarações ao ECO, desmontando, assim, a “farsa do Governo que tem tentado mascarar as contas, quando não revela as transferências que todos os anos são feitas” para o sistema previdencial da Segurança Social e para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), o subsistema contributivo da Função Pública, que está fechado a novos subscritores desde 31 de dezembro de 2005.

Face ao risco de perdas para os futuros pensionistas, o que vão propor PS e PSD na corrida às eleições legislativas de 10 de março? Pedro Nuno Santos defende sistemas complementares. Luís Montenegro quer esperar por 2028.

No ano passado, o sistema previdencial apresentou um excedente do sistema previdencial, responsável pelo pagamento das pensões, de 4.059 milhões de euros, o mais alto em mais de uma década, ainda que a Caixa Geral de Aposentações tenha registado um défice de 196 milhões de euros. Contudo, o especialista em pensões esclarece que “estes números não têm em conta as transferências do Orçamento do Estado”. Ou seja, sem este tipo de reforço, “os sistemas seriam deficitários”.

De facto, e analisando o relatório do Orçamento do Estado (OE) para 2024, o Estado prevê injetar 7.080,6 milhões de euros só para pagar reformas, dos quais 6,5 mil milhões serão para a CGA e 580,6 milhões de euros para a Segurança Social.

Para o consultor científico do Instituto Nacional de Estatística (INE) e de grandes seguradoras nas áreas de gestão de risco e sistema de pensões, “não se deve separar o sistema previdencial da Caixa Geral de Aposentações, porque desde 1 de janeiro de 2006 que este subsistema já não recebe contribuições”. Os trabalhadores que entraram para a Administração Pública passaram a descontar para a Segurança Social que “passou a receber anualmente mais de 3.200 milhões de euros em contribuições”, salienta Jorge Bravo.

Mesmo considerando as transferências do OE como fazendo parte dos saldos do sistema previdencial, o que resulta em excedentes, o relatório orçamental para o próximo ano estima que “os primeiros saldos negativos ocorram em meados da década de 30, atingindo valores inferiores a -1% do PIB na década de 2040″. “Os saldos deverão manter-se negativos até ao final da projeção (-0,3% em 2060 e -0,6% em 2070)”, lê-se no documento.

Quando o sistema previdencial entrar em défice, o Estado terá de recorrer à almofada que tem para despesas com pensões, isto é, tem de acionar o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS). No final do ano passado, esta reserva estava em 22,99 mil milhões de euros, o que dava para para satisfazer apenas 17,3 meses de encargos com reformas, inferior ao ano anterior e aquém do objetivo de cobertura de dois anos.

No final de 2023, o Governo estima que a carteira de ativos do FEFSS ronde os 26,7 mil milhões de euros (10% do PIB), aumentando para 11,8% do PIB, em 2024, e 20% do PIB na década de 60, segundo o relatório do Orçamento.

Ora um sistema deficitário pode colocar em causa as pensões, avisa Jorge Bravo: “É um risco maior, porque quando o País entra em crise normalmente tem de cortar no sistema de proteção social”.

Por outro lado, a fórmula de cálculo das prestações que, a partir de 2007, deixou de considerar os 10 melhores anos, em termos salariais, dos últimos 15, passando a fazer uma média de todas as remunerações, vai penalizar os futuros pensionistas que terão reformas cada vez mais baixas em relação ao último ordenado.

Novos pensionistas arriscam perder mais de metade do salário em 2070

Vários estudos têm apontado para uma redução acentuada da taxa de substituição da pensão em relação ao último vencimento. Um relatório, de 2022, conduzido pela Nova School of Business and Economics da Universidade Nova de Lisboa para Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) concluiu que quem se reformar daqui por 47 anos, em 2070, arrisca perder mais de metade do seu salário na pensão que vier a receber.

Em 2019, a taxa de substituição do vencimento pela pensão era de 79%, segundo o mesmo estudo. Ou seja para um ordenado de dois mil euros, o trabalhador recebe 1580 euros de reforma. Mas daqui por 47 anos, as estimativas são bem mais negras e apontam para uma redução de 33 pontos percentuais, de 79% para 46%, a terceira maior quebra da Europa, logo atrás de Espanha e Letónia. Já o recuo da taxa de reposição na média da UE a 27 é de nove pontos entre 2022 e 2070. Ou seja, para um mesmo ordenado de dois mil euros, o pensionista terá uma reforma de apenas 920 euros, menos 1.080 do que a último vencimento.

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) publicou recentemente uma análise sobre os riscos orçamentais e a sustentabilidade das Finanças Públicas em que cita o último Ageing Report, de 2021, da Comissão Europeia e conclui que, fruto da reforma estrutural do sistema de pensões em 2007 que procurou reforçar a sustentabilidade de longo prazo do sistema de Segurança Social, a despesa com pensões até 2070 vai baixar significativamente.

“O reforço da sustentabilidade financeira do sistema de pensões levou a uma diminuição da despesa com pensões, ou seja, a uma redução dos valores das pensões a atribuir comparativamente aos valores que se obtinham antes da aprovação desta reforma”, destaca o CFP.

Assim, e para evitar penalizações futuras nas reformas, tanto por via do défice do sistema previdencial tanto pela redução da taxa de substituição, Jorge Bravo defende a criação de sistemas complementares com empresas “como já existem na maioria dos países da Europa Ocidental”. É o chamado segundo pilar, previsto na Lei de Bases da Segurança Social, e que praticamente não tem expressão em Portugal. O terceiro pilar diz respeito aos sistemas de poupança individuais: os Planos de Poupança Reforma (PPR).

PS quer planos complementares com empresas já PSD prefere manter tudo como está

A caminho das eleições legislativas antecipadas de 10 de março, os partidos do arco da governação – PS e PSD – ainda não têm os programas eleitorais concluídos. Contudo, já é possível antever quais serão as propostas dos candidatos a primeiro-ministro.

O novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, alinha com Jorge Bravo e defende “sistemas complementares de reformas de acesso alargado, a definir no âmbito da contratação coletiva”, lê-se na moção com que se candidatou a líder socialista nas eleições internas.

“Em complemento à pensão em sistema de repartição, todos os trabalhadores devem poder beneficiar de um patamar de proteção que melhore os seus rendimentos através de um mecanismo de poupança apoiado pelo Estado, constituído por esforço conjunto dos trabalhadores e dos empregadores, privilegiadamente obtido na negociação coletiva e executado por um sistema público. A proteção complementar na reforma deve deixar de ser um privilégio de trabalhadores de salários elevados e com poder negociar individual”, de acordo com o mesmo documento.

O ECO tentou obter mais detalhes sobre a proposta que está no capítulo da moção dedicado ao reforço do Estado social e da Segurança Social, mas a assessoria de Pedro Nuno Santos afirmou que só depois do Congresso do PS, que se realiza entre 5 e 7 de janeiro, será possível dar mais informações, já com o programa eleitoral concluído.

A medida “é defendida há anos pela UGT”, revelou ao ECO o secretário-geral adjunto da federação sindical, Sérgio Monte. Para o sindicalista, a proposta de Pedro Nuno “deverá passar por acordos globais setorais entre associações patronais e federações sindicais com vista a constituição de complementos de reforma”.

Porém, reconhece que “Portugal não tem tradição nesta área e é muito difícil implementar esses sistemas, porque empresas e trabalhadores têm de descontar mais”. Ou seja, para além das contribuições para a Segurança Social, de 11% para os trabalhadores e de 23,75% para as empresas, seria necessário descontar uma parcela adicional para o sistema complementar.

Qual poderia ser a contrapartida para as empresas? “Baixar a Taxa Social Única (TSU) é um tabu”, alerta Sérgio Monte, tendo em conta o chumbo do passado. Em 2017, a UGT subscreveu um acordo com Governo e patrões que previa a redução da TSU para as empresas em 1,25 pontos percentuais, como moeda de troca para o aumento do salário mínimo, mas a geringonça conseguiu travar a medida no Parlamento diante de um PS sem maioria absoluta.

Por isso, o secretário-geral adjunto da UGT considera que “a via será a da criação de um benefício fiscal” como aquele que foi aprovado que prevê, para o próximo ano, uma majoração em 50% das deduções em sede de IRC com os custos salariais desde que os ordenados sejam atualizados acima de 5%.

Mas se o PS ganhar sem maioria absoluta vai precisar de negociar à esquerda e terá um braço de ferro pela frente com o PCP, o que pode inviabilizar a criação de sistemas complementares de reforma tal como aconteceu com a TSU em 2017. O partido, liderado por Paulo Raimundo, revelou ao ECO que é contra esta solução.

“A promoção dos sistemas complementares de reforma serve, essencialmente, os interesses dos fundos de pensões que arrecadam milhões de euros de lucros utilizando os descontos dos trabalhadores para especular das mais diversas formas. Os resultados desastrosos desses sistemas são bem conhecidos dos milhões de trabalhadores em todo o mundo que ficaram sem descontos nem reforma depois dos escândalos que levaram à falência de fundos de pensões privados, como aconteceu com a Worldcom e a Enron, nos EUA”, segundo o PCP.

Por isso, “é significativo que o PS queira fragilizar a Segurança Social e o sistema solidário de repartição, introduzindo a lógica egoísta dos sistemas complementares de capitalização, abrindo a porta a mecanismos que arriscam na especulação os descontos dos trabalhadores e as suas reformas”, criticam os comunistas.

Entre as medidas que Pedro Nuno Santos deixa antever na moção com que se candidatou às diretas do partido, há ainda a indicação de que é necessário “avaliar a taxa de formação das pensões das pessoas que estiveram desempregadas ou que, em virtude da intermitência ou precariedade, veem a estimativa das suas pensões degradada”.

O PSD de Luís Montenegro é muito mais comedido, preferindo, para já, não mexer no sistema de sustentabilidade da Segurança Social. “Se o PSD ganhar as eleições, não vamos mexer no sistema de pensões nos próximos quatro anos, porque o importante é haver estabilidade e confiança no Estado social”, indicou ao ECO Pedro Duarte, coordenador do Conselho Estratégico Nacional (CEN) dos sociais-democratas. “Estamos a falar de um contrato social e as pessoas não podem estar sujeitas a alterações imediatistas”, reforçou.

“Primeiro vamos estudar, promover um debate na sociedade e, a partir das conclusões que forem tiradas, o PSD apresentará uma proposta daqui por quatro anos, na campanha eleitoral seguinte”, ou seja, para as legislativas de 2028. O cenário ideal seria “um pacto de regime com o PS”, sublinha, acrescentando que “o PSD não se opõe à criação de sistemas complementares de pensões”, como propõem os socialistas.

A única medida que o PSD vai propor passa pelo aumento faseado do complemento solidário para idosos para 820 euros, ao longo dos quatro anos da próxima legislatura.

De recordar que, no ano passado, o atual Governo criou uma Comissão para a Sustentabilidade da Segurança Social que ficou encarregue de apresentar propostas para a reforma do sistema de pensões, numa altura em que o Executivo temia um rombo nas contas públicas com uma atualização das prestações em linha com uma inflação muito elevada de 7,8%. O relatório devia ser apresentado no final deste ano, mas foi adiado duas vezes: primeiro para janeiro e, perante a convocação de legislativas antecipadas para 10 de março, para depois do ato eleitoral.

Ainda não são conhecidas as conclusões, mas, em julho do ano passado, aquando da constituição daquele grupo de peritos, a coordenadora, Mariana Trigo Pereira, deu entrevistas, apontando algumas soluções que poderiam estar em cima da mesa: taxar os lucros das empresas, aumentar as contribuições para a Segurança Social ou incentivar as poupanças dos contribuintes através de sistemas individuais e/ou coletivos.

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António Costa faz hoje a sua nona e última mensagem de Natal como primeiro-ministro

  • Lusa
  • 25 Dezembro 2023

Há um ano, então à frente de um Governo com maioria absoluta, na sequência das legislativas, António Costa disse que havia razões para os portugueses terem confiança.

António Costa faz esta segunda-feira a sua nona e última mensagem de Natal como primeiro-ministro, um mês e meio após a sua demissão, em 07 de novembro.

Há um ano, então à frente de um Governo com maioria absoluta, na sequência das legislativas, António Costa disse que havia razões para os portugueses terem confiança, apesar do cenário de incerteza internacional, numa referência à guerra na Ucrânia.

E salientou que a trajetória de redução do défice e da dívida colocava Portugal “ao abrigo das turbulências do passado”, o que valeu uma crítica dos partidos da oposição ao autoelogio em tempos de inflação elevada.

A mensagem de Natal de António Costa será transmitida pelas 21:00 através das televisões.

No dia 07 de novembro, pela primeira vez na história da democracia portuguesa, houve buscas na residência oficial do primeiro-ministro – na sala de trabalho do seu então chefe de gabinete Vítor Escária – no âmbito de uma investigação judicial sobre a instalação de um centro de dados em Sines e negócios de lítio e hidrogénio.

Horas depois, um comunicado da Procuradoria-Geral da República informou, no último parágrafo, que o primeiro-ministro era alvo de um inquérito no Supremo Tribunal de Justiça a partir dessa investigação.

Logo a seguir, António Costa pediu a demissão, o Presidente da República aceitou e dois dias depois Marcelo Rebelo de Sousa marcou eleições antecipadas para 10 de março.

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Marcelo acompanha “momento muito difícil” no Global Media

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

O Presidente da República afirmou hoje que tem acompanhado, através da sua Casa Civil, o "momento muito difícil" do Global Media Group (GMG), detentora de "grandes títulos" como o JN e a TSF.

O Presidente da República afirmou hoje que tem acompanhado, através da sua Casa Civil, o “momento muito difícil” do Global Media Group (GMG), detentora de “grandes títulos” como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. “Eu tenho acompanhado também. Tem sido a Casa Civil que tem vindo a acompanhar o que se passa“, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em declarações aos jornalistas, no Barreiro, distrito de Setúbal.

O chefe de Estado adiantou ainda que no sábado abordou esse assunto com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. “Ainda ontem [sábado] estive com o senhor ministro da Cultura que me disse que ia haver audições na Assembleia da República pedidas pelos deputados e que ele próprio está a acompanhar a situação”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República afirmou também que se trata de um “momento que aparentemente é muito difícil na vida de um grupo muito prestigiado com grandes títulos“, dando os exemplos do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias e da TSF. “É sintomático que a Assembleia da República, que está com muito trabalho, tenha conseguido encontrar tempo e espaço para poder receber os jornalistas e tratar desse assunto”, disse.

No dia 6 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.

A Administração do GMG abriu um programa de rescisões por mútuo acordo, para trabalhadores até 61 anos, com contrato sem termo, sendo que as compensações serão divididas por 18 meses, segundo um comunicado interno, divulgado em 11 de dezembro.

Na semana passada, as direções do Jornal de Notícias, TSF, O Jogo e do Dinheiro Vivo apresentaram demissão, na sequência deste processo de reestruturação.

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Marcelo diz que filho se reuniu com governante porque não o conseguiu via Presidência

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

Marcelo afirmou que o seu filho se reuniu com o então secretário de Estado da Saúde sobre as gémeas que foram tratadas no Santa Maria, porque não o conseguiu através da Presidência da República.

Sem nunca referir o nome do seu filho Nuno Rebelo de Sousa, o Presidente da República disse este domingo aos jornalistas que acompanhou as últimas notícias em que ex-secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales admite ter-se reunido com o filho do Presidente da República sobre o caso das gémeas.

“Eu acompanhei estas últimas notícias desta semana e penso que ficam claras três coisas: a primeira é que quem organizou, quem fez esse encontro, essa audiência, essa conversa fê-lo porque não conseguiu chegar onde queria por outro caminho, que era através do Presidente e da Presidência da República, por isso é que foi a seguir tentar outra coisa, porque não tinha obtido aquilo que queria”, disse.

O Presidente da República foi esta tarde questionado por jornalistas ao chegar ao Barreiro para cumprir a tradição de aí beber uma ginjinha na véspera de Natal. Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que só agora se soube desse encontro, após quatro anos de se ter realizado.

“Eu em particular e tenho muita pena de não ter sabido há quatro anos e tal porque era nessa altura que eu devia ter sabido e não nesta altura, mas isso diz respeito às relações pessoais e é evidente que, pessoalmente, retiro as conclusões de não ter sido dito o que devia ter sido dito o que permitiria intervir para que não tivesse acontecido o que aconteceu”, referiu

Apesar deste caso, o Presidente da República disse que lhe serve de “consolação” que “os portugueses estão firmes, e a sondagem que acabou de sair mostra que mantêm 65% de confiança no Presidente, não trocam o conhecimento do Presidente de há 20 ou 30 anos por dois ou três meses em que tem havido crise política, em que houve muitas notícias e muitas informações contrárias ao Presidente”.

Em entrevista ao Expresso, Lacerda Sales admite ter-se reunido com o filho do Presidente da República, num encontro em que Nuno Rebelo de Sousa lhe falou do caso das gémeas.

Lacerda Sales conta que foi o filho do Presidente da República a pedir uma reunião, “com o objetivo de apresentar cumprimentos”, e que, durante o encontro, falou do caso das duas crianças com atrofia muscular espinhal, que viriam a ser tratadas no Hospital de Santa Maria com um fármaco de dois milhões de euros (por pessoa).

“Disse-me que conhecia duas crianças luso-brasileiras com AME, com perto de 1 ano, e que seria importante fazerem um medicamento (Zolgensma) até cerca dos 2 anos. Não me deu conta de que haveria um processo paralelo do ponto de vista formal, que tinha havido contactos com a Estefânia, com a Casa Civil, que esse contacto tinha ido para o gabinete do primeiro-ministro e para o Ministério da Saúde”, afirma.

O ex-governante conta igualmente que o filho do Presidente da República lhe perguntou qual seria a amplitude da sua intervenção e que lhe respondeu que “trataria este caso como todos os outros, sem privilégio”.

O caso das duas gémeas residentes no Brasil que adquiriram nacionalidade portuguesa e receberam em Portugal, em 2020, o medicamento Zolgensma, com um custo total de quatro milhões de euros, foi divulgado pela TVI, em novembro, e está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

Uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.

Segundo o relatório da auditoria interna pedida pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), os controlos internos de admissão, tratamento e monitorização dos tratamentos a crianças com atrofia muscular espinhal entre 2019 e 2023 foram respeitados, à exceção da “referenciação de dois doentes para a primeira consulta de neuropediatria”.

O documento refere ainda que as duas meninas foram referenciadas (através do pedido de consulta) pelo então secretário de Estado da Saúde, uma situação que Lacerda Sales continua a negar.

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Manchester United vende 25% do capital ao dono da INEOS

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

O Manchester United vendeu 25% do capital ao multimilionário Jim Ratcliffe, dono da INEOS, uma das maiores empresas químicas do mundo, anunciou hoje o clube.

Com este acordo, Ratcliffe vai injetar 330 milhões de euros no Manchester United, montante que será direcionado para investimentos em transferências de jogadores como na renovação de Old Trafford e outras infraestruturas, ficando o inglês responsável pelas operações desportivas.

A família Glazer, proprietária do clube desde 2005, lançou em 2022 um processo de venda parcial ou total da sua participação no clube, que ficou agora encerrado, com o objetivo de manter o sucesso financeiro, mas, sobretudo, alcançar resultados desportivos.

O Manchester United, onde atuam os futebolistas Diogo Dalot e Bruno Fernandes, não vence a Premier League desde 2013, ano em que o lendário técnico escocês Alex Ferguson abandonou o clube.

O acordo terá agora que passar pela aprovação da Premier League, processo que deverá demorar entre seis e oito semanas.

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Marcas promovem a solidariedade com campanhas de Natal

Para ajudar crianças carenciadas, angariar fundos para instituições que apoiam idosos isolados ou captar voluntários para o combate ao desperdício alimentar, marcas apostas no apelo à solidariedade.

O Natal, além de ser uma altura particularmente marcada por um reforço de comunicação, é também uma época propícia à solidariedade. Neste sentido, muitas marcas e empresas aliam as duas vertentes e investem na divulgação de causas sociais.

“A Solidariedade é contagiosa. Contagie e deixe-se contagiar…” – Costa Verde

A empresa de porcelanas Costa Verde lançou pelo décimo ano consecutivo uma campanha de Natal solidária. Todos os seus colaboradores e parceiros são convidados a doar produtos alimentares, vestuário, calçado e outros utensílios para serem entregues a uma associação de Vagos – concelho onde a empresa está sediada – para que esta distribua os produtos junto das famílias carenciadas desse município.

“Natal é Doar e Receber” – Mundicenter

Entre 7 e 16 de dezembro a Mundicenter promoveu uma campanha de Natal com o objetivo de apoiar a Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Cancro, através da realização de uma ativação em seis dos seus shoppings (Amoreiras Shopping Center, Arena Shopping, Braga Parque, Forum Aveiro, Oeiras Parque e Spacio Shopping). Ao longo desses 10 dias, os espaços da Mundicenter ofereceram 165 mil euros em Mundicenter Gift Cards e deram a possibilidade dos seus visitantes ajudar na missão solidária de apoiar a Associação Acreditar. Os participantes, além de ser habilitarem a prémios, contribuíam para o objetivo coletivo da doação de 30 mil euros à Associação Acreditar.

“Natal Solidário” – BPlanet

O BPlanet, centro comercial e retail park, desafia os seus visitantes a personalizarem e colocarem adornos na árvore de Natal do centro comercial, localizada na Vila do Pai Natal. Por cada adorno entregue, o BPlanet compromete-se a doar um euro à instituição local selecionada.

“Ajude uma criança a sorrir” – BPI

Já o BPI pretende oferecer presentes de Natal a crianças apoiadas por cerca de 250 instituições de solidariedade social, mobilizando os seus colaboradores e clientes. As Árvores de Natal dos espaços comerciais do BPI foram decoradas com cartões que representam um presente para uma criança carenciada apoiada por uma instituição social. Para os interessados em contribuir é necessário pedir um cartão, comprar o presente aí inscrito e entregá-lo, devidamente embrulhado, no mesmo local. Ao longo dos 11 anos em que tem sido desenvolvida, esta iniciativa permitiu distribuir cerca de 155 mil presentes.

“Presentes Solidários” – FEC

A FEC (Fundação Fé e Cooperação) lançou uma nova edição da sua campanha de Natal “Presentes Solidários”, com os presentes deste ano a contribuírem para uma educação e saúde de qualidade nos oito países lusófonos. É proposta a oferta de sapatilhas e mochilas a crianças de Timor-Leste, kits de medicamentos e nutrição para um hospital pediátrico na Guiné-Bissau, ou de material escolar necessário para crianças em Angola, Brasil e Cabo Verde. Ao longo de 17 edições a FEC já entregou 43 mil presentes – num total de 596.803 euros angariados – a comunidades vulneráveis nos oito países lusófonos.

“Unidos por Sorrisos” – UPS

Na sua terceira edição, a campanha “Unidos por Sorrisos”, da UPS, pretende angariar brinquedos e livros para levar a alegria natalícia até às crianças em situação de vulnerabilidade. A campanha deste ano abrange 43 localidades portuguesas e conta com 50 lojas UPS Access Point, disponíveis para recolher donativos até 11 de janeiro de 2024. É possível doar brinquedos ou livros em bom estado para que outras crianças possam desfrutar da sua prenda de Natal. Estes serão entregues à Casa da Criança de Tires à Cerporto.

“Em cada oportunidade, estás tu” – Ajuda em Ação

A nova campanha de Natal da Ajuda em Ação desafia os portugueses, até ao final do ano, a devolverem a oportunidade que um dia lhes foi dada e oferecê-la a quem mais precisa. Os donativos podem servir para comprar mais tecidos para o programa de costura que dão origem a peças únicas produzidas pelas mulheres que fazem parte do projeto, sendo depois vendidas por para lhes trazer mais rendimentos, ou para continuar a implementar programas como o “Bora Jovens”, que já integrou mais de 150 jovens no mercado de trabalho, ou o como “A Minha Escola é Cool”, que melhorou o aproveitamento escolar de muitas crianças desde que se iniciou”, explica Linda Morango, diretora de marketing e angariação de fundos da Ajuda em Ação Portugal, em comunicado. À campanha associaram-se personalidades como a apresentadora Luísa Barbosa, o cantor Matay, a designer de moda Roselyn Silva ou a artista Sara Correia.

“Combater o desperdício alimentar: uma Tradição bem Portuguesa” – A Padaria Portuguesa

Neste Natal, A Padaria Portuguesa lançou uma campanha de angariação de novos voluntários para a Refood, tendo como objectivo envolver mais pessoas no combate ao desperdício alimentar. No spot é o próprio fundador da Refood, Hunter Hadler, que encarna num “Pai Natal” que entrega “sonhos”, fazendo-se o paralelismo com a sua atividade diária de entrega de refeições. A Padaria Portuguesa vai também doar um euro pela venda de cada Lata de Música com bolachas de Gengibre/Canela e Cacau para iniciativas de combate ao desperdício alimentar.

“Uma Música de Natal Diferente” – Aldi

O Aldi apresentou, na campanha de Natal, um jingle que conta com a participação da Skoola, uma academia de música urbana para jovens entre os 10 e 18 anos que visa a promoção da inclusão social e a igualdade de oportunidades de crianças e jovens da Área Metropolitana de Lisboa. A marca vai contribuir com 50 mil euros para apoiar a missão desta Academia, que perdeu este ano o financiamento que assegurava a atribuição de bolsas a jovens que queriam estudar música.

“Árvore Solidária” – Altice Arena

Este ano a Altice Arena junta-se ao projeto “Árvore Solidária”, numa iniciativa em parceria com a Have a Nice Day e Vizinhos à Janela, convidando todos aqueles que forem ao seu espaço a levar consigo alimentos não perecíveis de forma a contribuírem para fazer crescer esta árvore e ajudar aqueles que mais necessitam. A entrega dos donativos é feita no recinto, ao pé da garagem da Altice Arena, sendo estes entregues às associações Ajuda de Mãe, Sol Fraterno, Família Solidária, CrescerSer, Casa da Criança – Fundação Champagnat, Projeto Gira no Bairro e Gmasa. A Altice Arena é responsável pela logística e custos da ação e contribuirá ainda com um montante que será convertido em alimentos.

“Uma missão na serra algarvia” – Grupo Renascença Multimédia

A campanha deste ano das rádios do Grupo Renascença Multimédia tem como objetivo equipar o Centro Paroquial de Cachopo. Trata-se de uma instituição que combate diariamente a solidão dos mais velhos, na aldeia de Cachopo, uma das freguesias mais isoladas da serra algarvia, e que vai ser ampliado e preparado para receber mais utentes. Os novos quartos a serem construídos precisam de ser equipados com material específico, pelo que é nesse sentido que a Renascença, RFM e Mega Hits apelam à solidariedade dos seus ouvintes.

“#DoaOteuFeed” – Fundação PHC

A campanha de Natal da Fundação PHC tem como objetivo incentivar a comunidade a utilizar as suas redes sociais para promover associações de caridade, desafiando as pessoas a transformarem os feeds de redes sociais em plataformas de consciência social dedicado a associações que necessitam de visibilidade e apoio. Para aderirem a esta iniciativa, basta que escolham uma associação local a quem queiram dar visibilidade e partilhem com o hashtag #DoaOteuFeed. A campanha conta já com a participação de personalidades como Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, e Rita Piçarra, ex-CFO da Microsoft.

“A ajuda mora ao lado” – Missão Continente

Promovida pela Missão Continente, a campanha visa apoiar cerca de mil instituições locais (na proximidade das mais de 300 lojas Continente em todo o país), decorrendo até ao dia 7 de janeiro em todas as lojas Continente, Continente Modelo e Continente Bom Dia, através da venda de vales de 1 e 5 euros. Aos clientes é dada, pela primeira vez, a opção de escolher a instituição local que querem apoiar, com três opções por loja. O saldo do Cartão Continente pode ser utilizado para comprar vales.

 

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Sindicatos e APED divergem sobre efeitos de greve nos supermercados

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

Há supermercados na região da Grande Lisboa estão encerrados ou a funcionar a meio-gás devido à greve de dos trabalhadores, indicou fonte sindical, mas a APED indica "normal funcionamento".

A greve de trabalhadores do comércio estará a limitar ou mesmo encerrar supermercados em Lisboa e Porto, garantem os sindicatos que promoveram a iniciativa, mas fonte oficial da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) disse à Lusa que os seus associados “não registaram, até ao momento, nenhuma perturbação no normal funcionamento da operação das suas lojas e os consumidores estão a ter uma afluência tranquila para esta época do ano”.

Segundo afirmou à Lusa Filipa Costa, presidente do Cesp – Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, alguns supermercados na região da Grande Lisboa estão encerrados ou a funcionar a meio-gás devido à greve de hoje dos trabalhadores do comércio por melhores salários, indicou fonte sindical. A paralisação de 24 horas, que começou às 00h00 e termina às 23h59, terá levado ao encerramento de supermercados Minipreço em Lisboa, Amadora, Odivelas e Barreiro. A dirigente adiantou, num primeiro balanço às 10h00, que alguns supermercados Pingo Doce estão a funcionar com quase metade do pessoal na zona de Lisboa e um posto de combustível em Braga está fechado.

Os trabalhadores reclamam aumentos salariais de, pelo menos, 150 euros mensais e o respeito pelos horários laborais. Segundo Filipa Costa, não é admissível que, num contexto de “aumento do custo de vida”, os trabalhadores continuem a receber o salário mínimo ou “pouco mais” e os lucros das empresas “tenham aumentado exponencialmente”.

A dirigente sindical salientou ainda o “desrespeito generalizado” pelos horários de trabalho. “Há falta de trabalhadores e as empresas não querem contratar”, alegou a presidente do Cesp, sindicato que exige ainda o encerramento do comércio aos domingos e feriados e a redução horária até às 22:00 nos outros dias.

Já o Sitese – Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Serviços reclamou também uma “forte adesão” no primeiro dia de greve nas empresas de distribuição. “A adesão dos trabalhadores no Grande Porto é forte e está a ser superior à que se verifica por todo o país”, disse à agência Lusa Pedro Lopes, presidente do Sitese, adiantando que “são dois dias de afluência muito grande no setor na ótica do consumidor, mas a greve no domingo vai demonstrar o impacto ao nível das equipas de trabalho”.

O dirigente sindical referiu ainda que a greve “não pretende atingir o consumidor final, mas sim forçar os empregadores a mudarem a sua política salarial, já que neste setor os trabalhadores têm salários e níveis de qualidade de vida muito baixos”. Além disso, enfatizou que “os salários são muito desequilibrados neste setor”.

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Metade das urgências a funcionar em pleno na próxima semana

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

Cerca de metade das unidades com urgências estarão a funcionar em pleno na última semana deste ano, anunciou a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde.

Pouco mais de metade das unidades com urgências estará a funcionar em pleno na última semana deste ano, anunciou a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde, que prevê uma “normalização genérica” desses serviços a partir de janeiro. “Durante a última semana de 2023, serão 45 unidades a funcionar em pleno (54%)“, adianta o plano de reorganização da rede dos serviços de urgência do SNS para o período entre 24 e 30 de dezembro.

De acordo com a direção executiva liderada por Fernando Araújo, os serviços de urgência do SNS estão distribuídos por 83 pontos em todo o país e têm, apesar das limitações registadas, demonstrado “capacidade de articulação e suporte, garantindo segurança e qualidade na prestação de cuidados de saúde, de forma planeada, organizada, e assegurando a necessária previsibilidade“.

O documento reconhece que o período de Natal “caracteriza-se tradicionalmente por limitações adicionais” nas urgências, devido à indisponibilidade dos profissionais, este ano também por causa da recusa em cumprirem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais previstas por lei, mas “especialmente pela ausência de compromisso e responsabilidade dos prestadores de serviço”.

Com o início do próximo ano e a renovação da disponibilidade dos profissionais para realização de trabalho suplementar, antevê-se uma normalização genérica do funcionamento dos serviços de urgência“, refere a direção executiva do SNS.

A deliberação reconhece também que a pressão das infeções respiratórias, devido à sua sazonalidade e às temperaturas mais baixas que estão a ocorrer, traz desafios em termos de doença aguda, com impacto não apenas nos serviços de urgência, mas também nos internamentos.

Têm existido picos de procura, que pontualmente se traduzem necessariamente em tempos de espera mais demorados, e que são conhecidos, mas em termos comparativos com anos anteriores, mais uma vez esta semana, quando comparada com a homóloga de 2022, estes têm sido de menor valor“, adianta.

A deliberação salienta que os utentes devem, sempre que possível, em caso de doença aguda, ligar previamente para o SNS24 e cumprir com as orientações recebidas. Nas situações de urgência ou emergência deverão contactar o 112, que encaminhará a chamada para o INEM.

A avaliação do funcionamento dos serviços de urgência pela direção executiva do SNS continuará a ter um caráter semanal, será adaptada de acordo com a análise efetuada com as várias instituições hospitalares, de forma a assegurar a previsibilidade do sistema e desta forma contribuir para a segurança e qualidade, na prestação de cuidados“, indica o documento.

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Ventura diz que crise política deve servir para “ganhar clareza das escolhas”

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

O presidente do Chega afirm que a crise política deve ser um momento para "ganhar clareza das escolhas" em 2024, identificando como problemas a "pobreza, corrupção e desconfiança nas instituições".

O presidente do Chega afirmou que a crise política deve ser um momento para “ganhar clareza das escolhas” que têm que ser tomadas em 2024, identificando como problemas a “pobreza, corrupção e desconfiança nas instituições”. “Esta altura e este momento de turbulência política devem ser também momentos para ganharmos a clareza das escolhas que temos que fazer ao longo do próximo ano“, considerou o líder do Chega, numa mensagem de Natal em vídeo divulgada pelo partido.

Ventura defendeu que o país vive “uma crise não só de pobreza como de desilusão, de desconfiança com as instituições e de corrupção”. “O primeiro objetivo de um político que quer dar uma solução ao país é dizer que vai lutar para resolver estes problemas, com firmeza, sem interesses instalados, sem estar agarrado a nenhum interesse, com o único objetivo de defender a vida, defender a família, defender a propriedade, defender a prosperidade dos portugueses“, considerou.

Para o presidente do Chega, “os portugueses vão para este Natal com uma enorme ansiedade em relação ao futuro e com uma enorme estupefação e perplexidade sobre o que podem ser os acontecimentos de 2024”, antecipando um “ano difícil”.

Contudo, Ventura apelou a um “espírito de confiança e firmeza” e acredita que em 2024 “Portugal vai ficar muito melhor”. “O país está numa fase difícil, mas o Natal é esse espírito de confiança, de firmeza e de muita força que é o que temos que ter juntos para enfrentar os desafios de Portugal em 2024”, considerou.

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Bélgica recebe presidência da UE com bloco numa “encruzilhada” e alargamento à vista

  • Lusa
  • 24 Dezembro 2023

A presidência belga da União Europeia, no primeiro semestre de 2024, quer apostar na defesa da democracia e reforçar a competitividade, numa altura em que o bloco se prepara para o alargamento.

A presidência belga da União Europeia (UE), no primeiro semestre de 2024, quer apostar na defesa da democracia e reforçar a competitividade comunitária, numa altura em que o bloco está numa “encruzilhada” e se prepara para o alargamento. A poucos dias de assumir a 10.ª presidência do Conselho da UE, entre 1 de janeiro e 30 de junho do próximo ano, a Bélgica admite no seu programa que esta liderança surge “num momento em que a União Europeia se encontra numa encruzilhada, lidando com as consequências da agressão ilegal russa na Ucrânia, a pandemia, a crise energética, a desinformação, os fenómenos climáticos extremos e um novo conflito no Médio Oriente”.

A presidência belga pretende, assim, “trabalhar no sentido de proteger melhor os cidadãos europeus, reforçar a cooperação e preparar o futuro comum”, centrando-se desde logo na defesa do Estado de direito, da democracia e da unidade comunitária.

Perante preocupações sobre o desrespeito pelo Estado de direito em países como a Hungria, situação que já levou à suspensão de fundos comunitários, a Bélgica propõe-se “defender os princípios democráticos […] e os direitos fundamentais“, de acordo com o programa.

Isto também se aplica aos que querem pertencer à UE: “Expandir a nossa União deve tornar-nos mais fortes e, por isso, a presidência está empenhada em apoiar os países candidatos nos seus esforços de adesão”.

Neste cenário de pré-alargamento a países como Ucrânia e Moldova e também Balcãs Ocidentais, com uma UE que pode ter mais de 30 Estados-membros nos próximos anos, os belgas querem ainda “preparar as políticas, os recursos e as estruturas de tomada de decisão da União com vista a futuras adesões”.

Garantindo que “levará por diante os trabalhos em curso sobre o alargamento”, a presidência belga vai, desde logo, assinalar no início de maio o 20º aniversário daquela que foi a maior expansão do bloco comunitário, “um marco para a unidade e a prosperidade de todo o continente”, quando 10 novos países e perto de 75 milhões de pessoas aderiram à UE.

Após um longo processo de adesão e baseado no mérito, neste quinto alargamento, aderiram então à UE, em maio de 2004, três antigas repúblicas soviéticas (Estónia, Letónia e Lituânia), quatro antigos países-satélite da União Soviética (Polónia, República Checa, Hungria e Eslováquia), uma antiga república jugoslava (Eslovénia) e duas ilhas mediterrânicas (Chipre e Malta).

Há uma semana, o Conselho Europeu decidiu abrir negociações formais de adesão à UE com a Ucrânia e a Moldova, anunciou o presidente da instituição, falando num “sinal claro de esperança” para estes países.

Esta decisão foi contudo marcada pelas críticas da Hungria, que recorreu ao artigo 235.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE para não participar na decisão do Conselho Europeu de abertura de negociações formais sobre adesão com Ucrânia, abstendo-se perante necessária unanimidade.

Antes, em meados de novembro, o executivo comunitário recomendou ao Conselho que abrisse estas negociações formais pelos esforços feitos por Kiev para respeitar a democracia, o Estado de direito e os direitos humanos, embora impondo condições como o combate à corrupção.

A Comissão Europeia vincou que a Ucrânia tem de fazer progressos que serão avaliados num relatório a publicar em março de 2024, após o qual será criado um quadro negocial sobre o alargamento e marcada uma conferência intergovernamental para dar início oficial às discussões.

Outra prioridade da presidência belga é aumentar a competitividade europeia. “Vivemos tempos perigosos com muitas tensões no Médio Oriente e a contínua guerra na Ucrânia. As coisas estão mais tranquilas em termos energéticos, mas ainda há riscos no abastecimento“, contextualizou o representante permanente da Bélgica junto da UE, Willem Van de Voorde, num encontro com a imprensa em Bruxelas.

Devido a este contexto geopolítico e também ao rápido desenvolvimento de novas tecnologias como a inteligência artificial, a presidência belga quer apostar no reforço do mercado interno, o que passa por criar “um ambiente de equidade para os negócios” europeus dentro e fora da UE, assegurar um “quadro regulatório fiável” e garantir segurança económica ao “evitar dependências danosas” de países terceiros, nomeadamente em setores críticos como tecnologia e energia, segundo o programa.

Por ocorrer numa altura de mudanças institucionais, dadas as eleições europeias de junho de 2024, a presidência belga vai porém centrar-se, nos dois primeiros meses, “em fazer tudo para completar a agenda legislativa da UE” nomeadamente após acordos provisórios em importantes matérias como a primeira legislação do mundo para inteligência artificial, o novo pacto em matéria de migração e asilo e a reforma das regras orçamentais, adiantou Willem Van de Voorde.

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Greenvolt. A renovável que Manso Neto carregou da biomassa até uma OPA

A Greenvolt ainda não conta quatro anos de atividade, mas já teve tempo de expandir para novas áreas de negócios, mais de uma dezena de geografias e chegar à bolsa de valores. Agora é alvo de uma OPA.

A Greenvolt “renasceu” do negócio de biomassa da Altri e pela mão de João Manso Neto, o CEO que lhe veio dar uma nova vida. Da biomassa expandiu para outras áreas das renováveis, do solar de grande escala até ao solar descentralizado, e foi trilhando o seu caminho por várias geografias, passando pela bolsa nacional e desembocando agora numa oferta pública de aquisição (OPA), lançada pelo fundo americano KKR. Em apenas três anos, são vários os marcos. Relembre aqui esse percurso.

No início, estava a biomassa. A Bioelétrica da Foz, desde 2018 que deixou de ser a “EDP Bioelétrica” para passar inteiramente para as mãos da Altri, a qual já tinha uma participação de 50% nesta empresa “de elevado potencial” desde 2006. E bastaram três anos para uma nova reviravolta no destino da empresa de biomassa: em 2021 foi anunciada uma contratação de peso para agarrar as rédeas da empresa. João Manso Neto, afastado da liderança da EDP Renováveis na sequência de um processo judicial, abraçou o desafio, e a Bioelétrica não só ganhou um novo CEO como também uma nova identidade: nasceu a Greenvolt.

João Manso Neto assumiu as rédeas da empresa em março de 2021. Os 17 anos ao serviço da EDP terminaram com a suspensão das suas funções como CEO da EDP Renováveis, após ter sido constituído arguido por suspeitas de crimes de corrupção ativa. Foi substituído, interinamente, por Miguel Stilwell de Andrade, o homem forte das finanças da EDP, que se mantém hoje como CEO da EDP e da EDP Renováveis. Manso Neto não só não voltou, como também não quis aceitar os 1,7 milhões de euros que a EDP lhe prometia caso este assinasse um pacto de não concorrência, o qual o impediria de trabalhar noutras empresas da área. Preferiu um novo desafio, o mesmo que ainda hoje abraça. Em entrevista ao Expresso, o gestor confessou que o processo lhe pesava, mas garantiu que não condiciona de forma alguma o trabalho na Greenvolt.

Do antigo ninho para o PSI em seis meses

De facto, o trabalho na Greenvolt seguiu com várias aquisições e com os mercados de capital como uma das grandes preocupações. Só no primeiro ano da empresa, esta operou quatro grandes aquisições que a lançaram em novas áreas de negócio, entrou em bolsa e foi “promovida” ao índice de referência na bolsa de valores nacional, o PSI.

Começou, em junho de 2021, por expandir a atividade de biomassa para o Reino Unido, adquirindo 51% da Tilbury Green Power Holdings Limited, detentora de uma central de biomassa em Terras de Sua Majestade. Avançou, na altura, em parceria com o fundo Equitix. Nem um mês depois, em julho, a totalidade da polaca V-Ridium Power Group, dedicada ao desenvolvimento de projetos solares e eólicos, passou para a alçada da Greenvolt.

Logo em agosto, a empresa liderada por Manso Neto acrescentou ao seu “saco de compras” a Track Profit Energy e Track Profit II Invest, que atuam no desenvolvimento de projetos de eficiência energética bem como de instalação de projetos solares fotovoltaicos. Em outubro, foi a vez de arrecadar a Perfecta Energía, que opera no setor das energias renováveis, na venda, instalação e manutenção de painéis de energia solar para autoconsumo de clientes residenciais.

E, no meio desta agitação, a empresa deu outro passo que a deixou na ribalta. Todos os “holofotes” se viraram para a Greenvolt quando, a 14 de julho, tocou o sino na sala da Euronext, assinalando a chegada à bolsa de Lisboa. E foi desde logo que a recém-cotada assumiu o compromisso de crescer nos mercados. “Temos a pretensão de, logo que possível, e logo que possível tem de ser setembro porque não dá antes, ir para o PSI-20. É ponto de honra. Queremos fazê-lo e muito rapidamente”, afirmou João Manso Neto, na sessão de admissão em bolsa.

Setembro era a data mais próxima possível para dar o salto para o princ índice nacional, pois nesse mês dar-se-ia a revisão trimestral das cotadas que o constituem. E de objetivo, passou a realidade. As ações da cotada mantêm-se em negociação nesta sede até ao momento. De uma avaliação de cerca de 500 milhões de euros na estreia, evoluiu para os atuais 1,1 mil milhões em capitalização bolsista. Os 4,25 euros a que cada ação começou por cotar, negoceiam agora em torno da fasquia dos 8 euros.

A empresa foi, desta forma, crescendo e transformando-se. Num esforço de harmonização, em novembro de 2022, pouco mais de um ano após a criação da marca Greenvolt, a empresa decidiu apostar numa mudança de imagem que foi, em parte, também uma reorganização das várias insígnias que iam entrando no universo da empresa.

Debaixo do chapéu Greenvolt passaram a estar a Greenvolt Biomass, que concentra o negócio de produção de energia através da biomassa, a Greenvolt Power, que agrega os projetos solares e eólicos de larga escala a nível internacional (anteriormente, sob a marca V-Ridium), e a Greenvolt Next e a Greenvolt Comunidades. A Greenvolt Next concentra a atividade solar que era antes responsabilidade da Profit Energy. Já a Greenvolt Comunidades abarca o negócio da Energia Unida, lançada em abril de 2022 pela Greenvolt para se dedicar ao desenvolvimento do conceito de Comunidades de Energia, promovendo a partilha da energia produzida a partir de painéis fotovoltaicos entre os membros da comunidade.

Entretanto, a empresa já saiu de baixo da asa da Altri. Em maio passado, depois da venda de várias parcelas da participação, a papeleira desfez-se dos 1,34% que lhe restavam do capital, ditando uma separação total dos negócios da pasta do papel e das energias renováveis que a Altri albergava.

Solar e eólico quase “a apanhar” a biomassa

A base de biomassa mantém-se forte na empresa, apesar de os negócios de larga escala relacionados com a energia fotovoltaica e eólica estarem a ganhar protagonismo. Nos últimos resultados apresentados, relativos aos nove primeiros meses do ano, a Greenvolt, apresentou lucros de 5,9 milhões de euros, quase 65% abaixo do período homólogo, mas afirmou que estes estão “em linha com as expectativas”.

O EBITDA de 76,9 milhões de euros, que apresentou uma quebra de 3%, apoiou-se maioritariamente no negócio da biomassa, que contribuiu com 40,5 milhões de euros. As seis centrais, cinco em Portugal e a sexta no Reino Unido, entregaram contudo 17% menos de receitas, tendo em conta a evolução dos preços da eletricidade no Reino Unido e uma paragem “por mais tempo do que o planeado” da central nesse país.

Mas se as receitas da biomassa totalizaram os 122,8 milhões de euros, o segmento de “utility scale, referente aos projetos solares e eólicos de larga escala, não ficou muito atrás. Somou 100,3 milhões de euros, contribuindo com 38,8 milhões para o EBITDA. E estes números refletem um crescimento expressivo desta área: as receitas dispararam 396% e o EBITDA 467%.

Esta evolução foi suportada pelas receitas dos ativos em operação e as margens decorrentes da rotação de ativos, após vendas bem sucedidas no primeiro semestre de 2023. O objetivo é vender ainda 200 megawatts até ao final de 2023, dos quais um terço já foi vendido. De momento, a Greenvolt conta 172 megawatts (MW) de projetos ‘“utility scale” operacionais na Polónia, Roménia e Portugal. Prontos a construir estão um total de 1.321 megawatts.

Com menos expressão apresenta-se o segmento do solar distribuído (ou descentralizado – o solar em pequena escala dirigido ao autoconsumo). Pesou negativamente no EBITDA, em 2,8 milhões, apesar das receitas de 49,8 milhões de euros, que engordaram em 145% face aos primeiros nove meses de 2022. Ainda assim, a Greenvolt espera atingir o breakeven deste negócio no último trimestre de 2023, e as instalações até setembro já ultrapassavam o total de 2022 em 45%.

O solar distribuído da Greenvolt está, para já, presente em nove mercados europeus. Em Portugal, Espanha, Polónia, Grécia Roménia e França exibe a insígnia Greenvolt Next”. Em Itália, Irlanda e na Alemanha faz-se representar através de participações na Solarelit, Enerpower e Maxsolar, respetivamente. Adquiriu também uma empresa na Península Ibérica, a Ibérica Renováveis, para acelerar o ritmo das instalações. Tem EBITDA positivo em três localizações: Portugal, Itália e Irlanda.

2024 com mais lucros à vista

No mesmo documento de apresentação de resultados, a Greenvolt antevê um “maior crescimento e lucro em 2024”. Os objetivos para o próximo ano passam pela rotação de ativos de 500 MW, tendo já lançado três processos de venda para mais de 350 MW, e é com os ganhos destas operações e um “melhor desempenho” do solar distribuído que a cotada conta acelerar os lucros.

De resto, a empresa identifica o momento atual como benéfico para a sua atividade. Nomeadamente, aponta como fatores a favor a volatilidade dos preços da energia e a dificuldade em licenciar projetos de renováveis, problemas que podem ter resposta no negócio do solar descentralizado. Esta solução, promovida pela Greenvolt, ajuda a proliferar a energia renovável, de baixo custo, e facilita a instalação de novos projetos, ao ter uma presença mais local.

Em paralelo, as disrupções que se haviam feito notar na cadeia de fornecimento da energia solar estão “estabilizadas”, considera a empresa. Por fim, a regulação, como por exemplo o novo desenho de mercado, tem apontado para o apoio às energias renováveis, dando mais um impulso à atividade da Greenvolt.

A 21 de dezembro foi anunciado o último grande passo na vida desta empresa. O fundo KKR lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a Greenvolt, tendo acordado com os sete acionistas de referência a compra de 60% do capital da empresa. São eles a Actium Capital, Caderno Azul, Livrefluxo, Promendo Investimentos, V-Ridium, KWE Partners, 1 Thing Investments.

Apesar do acordo, existem muitas aprovações regulatórias para obter, pelo que a compra, a realizar-se, será apenas a partir de 31 de maio do próximo ano. O dia 30 de setembro é o limite traçado pelo fundo para obter todas as aprovações necessárias.

Caso o fundo comprador passe a deter 90% ou mais dos direitos de voto da Greenvolt, pode comprar as ações restantes, resultando numa saída da bolsa. Ou, mesmo abaixo do limiar dos 90%, há a hipótese de o KKR propôr a saída de bolsa em Assembleia Geral. Mas só o tempo dirá como irá decorrer o processo, e em que mãos passará a estar a Greenvolt, que teve até agora nos mercados uma das suas maiores montras.

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A promessa “de amor” de José Neves que deixou os investidores da Farfetch sem nada

A criação da Farfetch foi um negócio que começou "por amor", mas que terminou com os investidores sem nada.

O CEO tem a profissão mais solitária do mundo”. A frase é de José Neves, o empreendedor português que fundou a Farfetch, o primeiro unicórnio com ADN português, e nunca fez tanto sentido como nos últimos dias. Com a tecnológica à beira da rutura financeira, o empresário de Guimarães foi forçado a tomar decisões difíceis, mas inevitáveis para impedir a companhia de fechar portas e tentar manter os postos de trabalho dos 6.000 funcionários que o unicórnio emprega. A sua persistência salvou a empresa que criou “por amor à moda”, mas não evitou as perdas dos acionistas, muitos deles trabalhadores.

Quando José Neves decidiu criar, em 2008, a Farfetch, o mundo financeiro debatia-se com a maior crise desde a Grande Depressão. Durante esse ano, milhões de milhões foram perdidos nos mercados financeiros, com os investidores fechados a novos projetos e focados em evitar mais perdas. O empresário português manteve-se inflexível e não se deixou desanimar pelas dificuldades que lhe surgiam e todos os bancos lhe fechavam a porta. Valeu-lhe o seu próprio dinheiro, que investiu na empresa.

Mas a veia empreendedora não começou com a Farfetch. Antes de ter a ideia de lançar esta plataforma eletrónica de venda de produtos de luxo, numa feira de moda em Paris, já tinha lançado, aos 19 anos, uma empresa de produção e desenvolvimento de software. “Aos 19 anos, em 1993, comecei a minha primeira empresa. Era uma “loja de software”, onde criava software para empresas e, sendo do norte de Portugal e com um historial de família ligado ao calçado, as empresas de moda dessa área bastante cedo se tornaram nas minhas principais clientes”, conta na apresentação da empresa aquando do IPO na bolsa de Nova Iorque.

Apaixonado por moda e tecnologia – começou a programar com apenas 8 anos, quando recebeu o seu primeiro computador –, a Farfetch foi o resultado do casamento destas duas paixões.

Aos 19 anos, em 1993, comecei a minha primeira empresa. Era uma “loja de software”, onde criava software para empresas e, sendo do norte de Portugal e com um historial de família ligado ao calçado, as empresas de moda dessa área bastante cedo se tornaram nas minhas principais clientes.

José Neves

Fundador da Farfetch

Da Paris Fashion Week, em 2007, trouxe a “ideia de criar uma plataforma que ajudaria as pequenas e médias empresas a ter acesso a esse mercado global, um negócio que teria alguma margem de defesa e de manobra relativamente à concorrência dos grandes gigantes mundiais do ecommerce. Era uma área que estava em crescimento explosivo. E foi a génese da Farfetch”, adiantou numa entrevista à Visão em 2016. Daí até ao nascimento da Farfetch passou-se sensivelmente um ano.

Depois de dois primeiros anos difíceis, a partir de 2010 conquistou as primeiras rondas de financiamento e acelerou o crescimento. Em 2015, atingiu o estatuto de primeiro unicórnio português, com uma avaliação acima de mil milhões de euros, aquando da entrada da DST Global. No auge de crescimento, José Neves adiantava que esperava que a sua empresa fosse como a Apple e, tal como há um momento antes e depois da criação do iPhone, haja um momento antes e depois da Farfetch.

Se é certo que a ascensão da Farfetch é inegável, assim como a sua influência no comércio eletrónico de bens de luxo, a crise chegou aos negócios da empresa. A guerra na Europa e o encerramento da economia chinesa foram dois golpes para as contas da empresa, ao mesmo tempo que o regresso às lojas físicas abrandou as vendas online.

“Há áreas da empresa com um crescimento muito forte, temos novos projetos, como a adição da Reebok ao nosso portefólio de marcas, e temos outras em que, devido a uma procura menos acentuada, à nossa decisão de terminar as operações na Rússia – era um mercado muito grande para a Farfetch – e também o abrandamento na China, em que efetivamente, essa racionalização significa que vai haver redução de equipas. Em grande medida, foi o que já fizemos nos últimos meses. Continuamos uma empresa que cresceu mais de 30% ano em todos os seus 15 anos de história e, este ano (2022) vai ter um crescimento que apontamos de 0-5%, basicamente, flat. Tem de haver uma adaptação a estas novas circunstâncias”, adiantava numa entrevista ao Eco, em fevereiro.

A verdade é que os problemas acabaram por levar a melhor e as contas do primeiro semestre deste ano já indicavam problemas. A empresa reportou prejuízos de 281,34 milhões de dólares no primeiro semestre deste ano. As contas do terceiro trimestre já não foram conhecidas, com a companhia a adiar o reporte, a 28 de novembro, e a espoletar uma correção sem precedentes no preço das ações.

Com uma dívida de 1,6 mil milhões de dólares, a vencer entre 2027 e 2030, e sem apoio de parceiros, como a Richemont, que se mostrou indisponível para investir ou emprestar dinheiro à Farfetch, José Neves começou a ficar sem hipóteses. Recorde-se que, em agosto do ano passado, a fabricante das joias Cartier e dos relógios IWC tinha informado que a Farfetch se preparava para comprar uma participação de 47,5% na retalhista de artigos de luxo online YOOX Net-A-Porter (YNAP) à Richemont. O acordo – entretanto desfeito – entre Richemont, Farfetch e Symphony Global abria o caminho, através de um mecanismo de opções de compra e venda, à possibilidade de a empresa fundada por José Neves vir a adquirir as restantes ações na YNAP.

Com as ações em queda livre na bolsa de Nova Iorque – estrearam-se no mercado em setembro de 2018, vendidas a 20 dólares cada – e sem liquidez, o empresário recorreu a todos os recursos para travar a falência da empresa de “coração português” que criou em 2008. Os salvadores, com uma linha de liquidez de 500 milhões de euros, têm nome sul-coreano: Coupang. O futuro do empresário português na nova Farfetch é ainda uma incógnita, mas José Neves terá pedido desculpa aos trabalhadores pela forma – solitária – como conduziu este processo, mantendo-os no escuro sobre as opções em cima da mesa.

“O CEO está sempre num palco, aquilo que diz aos colaboradores, aos colegas do board [conselho de administração], aos investidores, aos media, é analisado de uma forma que não se aplica a outras pessoas da empresa. Costuma dizer-se que quando as decisões são fáceis nunca chegam ao CEO. As coisas escalam e quando chegam ao CEO são decisões que podem determinar o futuro da empresa e normalmente não têm grandes variáveis”. A citação, quase profética, remonta a 2016 mas não poderia ser mais certeira.

Acionistas (e trabalhadores) perdem tudo nas ações

O principal arrependimento de José Neves é não ter sido possível salvar a empresa cotada, a empresa que criou “por amor à moda”, conforme explicou, em carta, e que constava dos documentos que a empresa apresentou à New York Stock Exchange para oficializar o IPO do unicórnio, na bolsa nova-iorquina.

Na mesma carta, onde apresentava a empresa, reiterava que a Farfetch nasceu de uma paixão. “A minha paixão pelos designers que conhecia, pelas boutiques, pelas pessoas apaixonadas pela moda espalhadas pelo mundo todo, inspiraram-me a criar um sítio único, uma plataforma, onde todos poderiam cruzar-se e encontrar-se. Consumidores, criadores, curadores, todos unidos por amor à moda: foi esta a visão que esteve na génese daquilo que é hoje a Farfetch“.

A nossa promessa para com os nossos investidores é de uma dedicação, um laço inquebrável, que criamos com os nossos consumidores, baseando-nos na inovação e foco num crescimento sustentável e contínuo.

José Neves

Fundador da Farfetch

E concluía: “A nossa promessa para com os nossos investidores é de uma dedicação, um laço inquebrável, que criamos com os nossos consumidores, baseando-nos na inovação e foco num crescimento sustentável e contínuo“. Mas, conforme foi confirmado pelo próprio empresário esta segunda-feira, 18 de dezembro, a promessa aos investidores não foi cumprida e quem confiou na empresa vai perder todo o seu investimento.

“O Conselho de Administração lamenta que o processo não tenha conduzido a uma solução que garanta que a Farfetch Limited, a entidade cotada na bolsa, continue a ser uma empresa em atividade”, adianta a Farfetch em comunicado. “Quando a venda estiver consumada, a Farfetch Limited estima que os detentores das ações ordinárias de classe A e B e as notas convertíveis não recuperarão qualquer valor do investimento na Farfetch”, acrescenta o mesmo documento.

Depois de anos a especular sobre a entrada em bolsa, a Farfetch rumou ao mercado de capitais em setembro de 2018, com as ações no IPO a serem vendidas a 20 dólares. Os títulos fecharam a cotar nos 0,64 dólares, na véspera do anúncio do acordo com a Coupang.

Estamos a criar valor e, se todos colaborarmos na criação desse valor, todos vamos colher esses benefícios. São mais de 100 milhões de dólares por ano – em 2020 e 2021 foram entregues cerca de 80 milhões em ações aos colaboradores – que pagamos em ações aos nossos colaboradores.

José Neves

Fundador da Farfetch

Conhecido pelo seu espírito empreendedor e sonhador, José Neves sempre foi visionário e dois um dos primeiros empresários a incluir os trabalhadores no plano de distribuição de ações. “No caso da Farfetch, tentamos criar um pacote mais atrativo possível. Posso dar o exemplo de algo invulgar – certamente no tecido empresarial português, mas mesmo a nível internacional – que é todos os colaboradores da Farfetch serem acionistas”, adiantou o empresário nortenho na mesma entrevista ao Eco, referindo que “parte da nossa compensação é em ações”.

“Estamos a criar valor e, se todos colaborarmos na criação desse valor, todos vamos colher esses benefícios. São mais de 100 milhões de dólares por ano – em 2020 e 2021 foram entregues cerca de 80 milhões em ações aos colaboradores – que pagamos em ações aos nossos colaboradores. Mais um exemplo de algo de inovador que temos na Farfetch e que tem funcionado muito bem”, confirmava. Perante o desfecho confirmado esta semana, quem manteve as ações em carteira, prepara-se agora para dizer adeus a estas remunerações.

“Hub” tecnológico português

Apesar do desfecho da Farfetch, é inegável a relevância de José Neves para o desenvolvimento de um ecossistema tecnológico em Portugal. Depois da Farfetch, outros unicórnios surgiram em Portugal, colocando o país no radar dos investidores internacionais.

Há muitos exemplos de empresas, a Outsystems, a Talkdesk, a Feedzai, muitas outras que estão a fazer o nome lá fora, e muitas outras pequenas empresas, startups, que criaram realmente um ecossistema muito interessante em Portugal.

José Neves

Fundador da Farfetch

“Portugal já é visto como um país em que se criam tecnológicas de grande qualidade e onde há muito talento”, adiantou José Neves. “Temos tudo para sermos um tech hub, já somos um tech hub na Europa. Mesmo quando a gente fala internacionalmente, quando falo com empresários… Há muitos exemplos de empresas, a Outsystems, a Talkdesk, a Feedzai, muitas outras que estão a fazer o nome lá fora, e muitas outras pequenas empresas, startups, que criaram realmente um ecossistema muito interessante em Portugal”, acrescentou.

Empresas como a Outsystems, Feedzai, Talkdesk, Remote e Sword Health juntaram-se à Farfetch na lista de empresas com uma avaliação superior a mil milhões de dólares com ADN português.

Fundação José Neves investe no conhecimento

Licenciado em Economia pela Universidade do Porto, José Neves é um defensor do conhecimento e usa parte do seu património para ajudar quem precisa e quer aprender. Criada em maio de 2019, a Fundação José Neves nasceu com a “missão de contribuir para a transformação de Portugal num ‘país de conhecimento’, através da educação e do desenvolvimento humano”.

“O meu compromisso como Fundador, é dotar a Fundação de meios significativos, assumindo o compromisso de doar dois terços dos meus ativos, ao longo da minha vida, para perseguir este objetivo maior”, escreve José Neves na carta de apresentação no site da Fundação com o seu nome, na qual se juntaram Carlos Oliveira e António Murta.

O meu compromisso como Fundador, é dotar a Fundação de meios significativos, assumindo o compromisso de doar dois terços dos meus ativos, ao longo da minha vida, para perseguir este objetivo maior.

José Neves

Fundador da Farfetch

Ao longo dos últimos anos tem promovido várias iniciativas, que incluem um programa de bolsas reembolsáveis ISA FJN, na qual a Fundação paga as propinas enquanto o estudante conclui a sua formação. Tem ainda iniciativas na área da saúde mental, Pacto Emprego Jovem e o relatório “O Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal“.

Este importante trabalho de diagnóstico da economia portuguesa tem o objetivo de apresentar a situação do país nesses três domínios e “promover a discussão pública para uma urgente evolução do sistema de educação e formação e o seu alinhamento com as necessidades do mercado de trabalho e com os desafios do futuro”. “É missão deste relatório descobrir e disseminar conhecimento do ponto de situação da educação, do emprego e das competências em Portugal, apresentando metas aspiracionais para 2040”, pode ler-se na página online da Fundação.

Os últimos resultados mostram que ainda há muito para fazer, mas há alguns indicadores positivos. Na mesma entrevista ao Eco, em fevereiro, José Neves congratulava-se com o facto de “os salários em certas áreas técnicas, como engenharia, em Portugal têm vindo a subir constantemente nos últimos anos, tendo acelerado ao longo do teletrabalho. Pessoalmente, deixa-me muito satisfeito, por isso criei a minha Fundação para que mais portugueses tivessem acesso a melhor educação, a melhores salários, e melhores condições de vida”. “Para nós, esta abertura de Portugal e das tecnológicas ao mercado global, não só de clientes, mas também ao mercado global de trabalho, é fantástico”, rematava.

Adepto de práticas de meditação e budista, José Neves tem hoje outras preocupações, como garantir que a Farfetch resiste ao tsunami que está a atravessar, mantendo a sua identidade. A questão é se será o próprio Neves a gerir esse processo e quais as implicações para o futuro destes marketplaces de artigos de luxo a nível global.

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