Redistribuir “pequena parte” dos lucros da banca é “dever social”, justifica governo italiano

  • Lusa
  • 9 Agosto 2023

Após rever taxa extraordinária sobre bancos, governo italiano frisa que redistribuição de "pequena parte" dos lucros milionários obtidos por "decisões erradas" do BCE é "um dever económico e social".

A redistribuição de uma “pequena parte” dos lucros milionários obtidos pelos bancos devido às “decisões “erradas do Banco Central Europeu (BCE) é “um dever económico e social”, afirmou esta quarta-feira Matteo Salvini, vice-presidente do governo italiano.

“Com o imposto extraordinário queremos confirmar o aumento dos salários e das pensões também para o próximo ano”, disse Salvini em declarações à rádio pública Rai, um dia depois de o setor bancário ter perdido cerca de 9.000 milhões de euros na bolsa devido aos receios gerados pelo novo imposto de 40% sobre os lucros extraordinários das instituições de crédito anunciado de surpresa na segunda-feira.

As receitas deste imposto “vão chegar aos que têm hipotecas que estão a aumentar desproporcionadamente devido à taxa variável e vão acabar na lei orçamental, dentro de algumas semanas, para confirmar a descida dos impostos e o aumento dos salários“, explicou o líder da Liga, que faz parte da coligação governamental presidida pela extrema-direita Giorgia Meloni.

“O raciocínio do Governo é que, dos lucros mais elevados que os bancos terão este ano, em comparação com o ano passado, simplesmente devido às políticas erradas do BCE, uma parte será utilizada para ajudar as famílias e confirmar os aumentos salariais“, acrescentou.

E, acrescentou, apesar de “alguns banqueiros o terem lamentado, o setor que obtém milhares de milhões de euros de lucros sem mexer um dedo em virtude das decisões dos outros. Redistribuir uma pequena parte é um dever económico e social“.

Salvini lembrou que os bancos italianos “aumentaram os custos para quem tem um empréstimo, um descoberto ou uma hipoteca, mas não aumentaram os juros para quem tem dinheiro nas suas contas correntes”.

Os bancos foram rápidos [a adaptar-se às decisões do BCE], mas não aumentaram os juros das contas à ordem. Têm lucros de milhares de milhões e quem paga são os italianos.

Matteo Salvini

Vice-presidente do governo italiano

Os bancos “foram rápidos (a adaptar-se às decisões do BCE), mas não aumentaram os juros das contas à ordem. Têm lucros de milhares de milhões e quem paga são os italianos. Enquanto Governo, pensámos que os lucros mais elevados resultantes das políticas erradas do BCE iriam para as famílias com hipotecas e para confirmar os aumentos salariais e das pensões nos seus recibos de vencimento.

E revelou: “Estamos a pensar em tributar as horas extraordinárias, os prémios de produtividade“.

Na segunda-feira, o Governo italiano aprovou a criação de um imposto de 40% sobre os lucros extraordinários dos bancos, limitado aos anos de 2022 e 2023, que – disse na altura – não poderá exceder 25% do património líquido e cujas receitas serão inteiramente utilizadas para “apoiar a compra de hipotecas e a redução de impostos”.

A regra será ativada se a margem líquida de juros registada em 2022 “exceder o valor do exercício de 2021 em pelo menos 5%”, uma percentagem que subirá para 10% se 2023 for comparado com o ano anterior, referiu o Governo.

O receio gerado entre bancos e acionistas levou o Governo a anunciar, na terça-feira ao final do dia, um limite máximo de 0,1% do total dos ativos, o que, segundo a imprensa especializada, poderá significar um pagamento de 2.500 milhões de euros para os seis maiores bancos italianos no primeiro semestre de 2023.

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Televisões dedicaram um em cada quatro minutos da emissão à Jornada Mundial da Juventude

Na semana móvel entre 1 e 7 de agosto, a TVI foi o canal mais visto, com um share de 13,8%. A SIC situou-se nos 13,5% e a RTP1 nos 10,6%. Confira os dados completos.

Na última semana foram emitidas cerca de 278 horas de programas especiais dedicados à Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A análise é da MediaMonitor, do grupo Marktest, e agrega o tempo dedicado ao evento pela RTP1, SIC, TVI e também CMTV, CNN Portugal, SIC Notícias e RTP3, entre os dias 31 de julho e 6 de agosto.

 

Estas 278 horas de emissão são repartidas por uma média de 5h40 por canal e traduz 24% da programação total da semana. Ou seja, em cada quatro minutos de programação emitidos por estes sete canais, um foi relativo à JMJ, resume a Marktest.

A SIC Notícias foi o canal que dedicou mais tempo à cobertura da JMJ, com mais de 66 horas. A RTP3 aproximou-se, com quase 64 horas, mais 22 do que a CNN Portugal, que dedicou ao evento perto de 42 horas.

A CMTV foi o canal que menos tempo acompanhou a JMJ, com perto de 13 horas de emissão especial.

Entre os canais generalistas em sinal aberto também foi a estação do grupo Impresa que dedicou mais tempo ao evento, com cerca de 33 horas. A RTP1 transmitiu 31 horas e a TVI 28 horas.

Sábado, dia 5 de agosto, foi o dia com mais tempo de emissão sobre a JMJ, com quase 63 horas. No arranque da Jornada, a 2 de agosto, os canais emitiram quase 55 horas de especiais, e, no dia de encerramento, domingo, 47 horas.

Esta análise foi realizada com recurso ao software YumiAnalytics Desktop da MediaMonitor, com a base de dados CAEM-TV, para o período compreendido entre 31 de julho e 6 de agosto de 2023, considerando apenas os programas especiais identificados como relativos à JMJ.

Se olharmos para as audiências, na semana móvel entre 1 e 7 de agosto, a TVI foi o canal mais visto, com um share de 13,8%. A SIC situou-se nos 13,5% e a RTP1 nos 10,6%.

De acordo com os dados CAEM, que analisa o total dia e tem como alvo o universo de potenciais telespetadores, a CMTV obteve um share de 6%, a CNN Portugal de 4% e a SIC Notícias de 2,9%. A RTP3 fixou-se nos 1,4%.

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Luís Filipe Vieira culpa Rui Pinto por Benfica falhar “penta” e pede 31 mil euros

  • ADVOCATUS
  • 9 Agosto 2023

Luís Filipe Vieira pede uma indemnização de 31 mil euros no novo processo que o MP abriu contra Rui Pinto. O ex-presidente do Benfica diz que o hacker contribuiu para que o clube falhasse o "penta".

Luís Filipe Vieira culpa Rui Pinto pelo Benfica não ter conquistado o pentacampeonato em 2018 e pede 31 mil euros de indemnização, avança o jornal Público. Esta posição surge no âmbito de um novo processo do Ministério Público contra o hacker.

O ex-presidente do Benfica acredita que Rui Pinto, ao aceder e divulgar aos seus emails, bem como de outros colaboradores, e ao lançar contra si suspeitas de práticas ilícitas na gestão do clube, contribuiu para que o Benfica perdesse o título. “Foi o início do fim da era Vieira no Sport Lisboa e Benfica”, lê-se no pedido de indemnização que o Público teve acesso.

Em julho, o Ministério Público (MP) abriu um novo processo contra o fundador do FootballLeaks, no qual é acusado de 377 crimes: 202 são de acesso ilegítimo qualificados, 134 de violação de correspondência, 23 de violação de correspondência agravados e 18 de dano informático.

Segundo a acusação do MP, entre fevereiro e abril de 2017, Rui Pinto terá retirado informações de forma ilegal dos emails de 25 colaboradores do Benfica, incluindo Luís Filipe Vieira.

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Bancos fecharam mais de mil balcões em cinco anos, mas Portugal é o país do Euro com mais caixas multibanco por habitante

Lisboa, Porto, Braga e Aveiro concentram a maioria dos encerramentos das agências bancárias desde 2017. Banco de Portugal alerta para "desafio sobretudo em matéria de inclusão financeira".

Nos últimos cinco anos, os bancos encerraram 1.077 balcões em todo o país. A grande maioria destes encerramentos aconteceu nos distritos de Lisboa, Porto, Braga e Aveiro.

De acordo com um estudo divulgado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP) sobre a cobertura da rede de caixas automáticas e agências bancárias, referente ao ano passado, entre 2017 e 2022 houve uma redução de agências bancárias de 4.592 para 3.515. Prestavam sobretudo serviços relacionados com o depósito e o levantamento de notas e moedas.

A redução da rede de balcões foi especialmente concentrada nos distritos de Lisboa, Porto, Braga e Aveiro, que em conjunto representaram 60% do número total de agências encerradas. “Os cinco municípios com mais agências (Lisboa, Porto, Sintra, Cascais e Gaia) dispunham de tantas quanto o conjunto dos 161 municípios com menos agências”, lê-se no relatório do BdP.

O banco central antecipa, por outro lado, que a tendência de encerramento de agências em todo o território vai continuar nos próximos anos, ainda que não tenha sido feita nenhuma comunicação oficial da parte das instituições financeiras, deixando um alerta quanto aos possíveis impactos socioeconómicos.

“No limite, a inevitável substituição dos canais tradicionais, especialmente das agências, por instrumentos tecnológicos alternativos poderá constituir um desafio, sobretudo em matéria de inclusão financeira, e culminar numa situação subótima em termos de distribuição de numerário”, alerta a entidade.

99% tem ATM a menos de cinco quilómetros de casa

O estudo do BdP dá também conta de que a quase totalidade da população (99%) dispõe de um ponto de acesso à rede multibanco a menos de cinco quilómetros, em linha reta, de distância do seu local de residência. Ao mesmo tempo, das 3.092 freguesias, menos de 50 estavam localizadas a uma distância superior a dez quilómetros de um balcão ou de uma caixa automática. Este valor, informa o BdP, não sofreu alterações face aos estudos que decorreram em anos anteriores.

Em 2022, a maior distância, em linha reta, entre uma freguesia e o ponto de acesso mais próximo era de 17 quilómetros. Embora o Banco de Portugal não dê detalhes quanto à localização e reconheça a “dificuldade que esta distância possa representar em Portugal”, o supervisor frisa, ainda assim, que “a cobertura por pontos de acesso continuava a ser quase integral”.

O estudo indica ainda que há 31 balcões por cada 100 mil habitantes — valor que coloca Portugal na sexta posição quando comparado com os restantes países da zona euro. O país lidera, no entanto, quando se olha para o número de caixas automáticas: existem 131 por 100 mil habitantes.

Segundo o banco central, no final de 2022 havia um total de 310 mil caixas automáticas e 120 mil balcões nos países da moeda única, ou seja, descreve, 430 mil pontos de acesso ao numerário. França é o país do grupo com o maior número de meios, seguindo-lhe Itália, Alemanha e Espanha. Em conjunto, estes países têm quase 80% do parque instalado na zona euro.

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Vendas das fábricas portuguesas voltam a tropeçar quase 8% em junho. Índice de remunerações dispara

  • Joana Abrantes Gomes
  • 9 Agosto 2023

Dados do INE mostram que o volume de negócios das fábricas portuguesas baixou mais no mercado externo (-10,2%) do que no mercado doméstico (-5,8%). Índice de remunerações dispara 8,3%.

O índice de volume de negócios na indústria registou uma diminuição homóloga de 7,8% em junho, maior em 6,1 pontos percentuais face ao decréscimo observado no mês anterior, segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Excluindo o agrupamento de energia — que deu o contributo mais influente para a variação do índice total (-6,6 p.p.) devido a um decréscimo de 27% em junho –, as vendas na indústria caíram 1,5% após um crescimento de 0,7% em maio.

O agrupamento dos bens intermédios “acentuou a diminuição homóloga em 0,2 p.p., para uma taxa de variação de -9,6%, tendo contribuído com -3,4 p.p.”, revela ainda o gabinete estatístico.

Já os bens de consumo e os bens de investimento desaceleraram 0,7 p.p. e 11,9 p.p., respetivamente, para taxas de crescimento de 7,6% e 2,2% em junho, contribuindo em conjunto com 2,2 p.p. para a variação do índice total.

Em junho, as vendas para o mercado interno sofreram uma redução de 5,8% (contra -1,4% em maio), enquanto para o mercado externo recuaram 10,2%, depois de uma queda de 2,2% no mês anterior. O contributo de ambos os índices para a variação total foi de -3,3 p.p. e -4,5 p.p., respetivamente.

Volume de negócios na indústria

Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE).

Por outro lado, os índices de emprego, de remunerações e de horas trabalhadas apresentaram variações homólogas de 0,9%, 8,3% e -0,5%, respetivamente (contra 0,8%, 8,6% e 1,2% em maio).

Ainda de acordo com o INE, as vendas na indústria passaram de um crescimento homólogo de 6,5% no primeiro trimestre deste ano para uma queda homóloga de 4,7% entre abril e junho.

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Papa Francisco diz que Jornada Mundial da Juventude em Lisboa mostrou que há “alternativa à guerra”

  • Lusa
  • 9 Agosto 2023

O papa Francisco disse que a Jornada Mundial da Juventude mostrou ser possível "uma alternativa à guerra" e questionou depois se a "mensagem clara dos jovens" será ouvida pelos líderes mundiais.

O papa Francisco disse esta quarta-feira que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, mostrou que é possível um mundo alternativo à guerra e pediu aos líderes mundiais que escutem a mensagem de fraternidade dos jovens.

Enquanto na Ucrânia e noutras partes do mundo há combates, e enquanto em certas salas escondidas se planeia a guerra, a JMJ mostrou a todos que um outro mundo é possível: um mundo de irmãos e irmãs, onde as bandeiras de todos os povos voam juntas, lado a lado, sem ódio, sem medo, sem armas”, disse.

O líder da Igreja Católica falava durante a audiência geral de quarta-feira no Vaticano, na qual fez o balanço da sua visita a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude, que contou com a participação de cerca de 1,5 milhões de pessoas e se realizou entre 01 e 05 de agosto.

Na mesma intervenção, o papa Francisco questionou-se depois se a “mensagem clara dos jovens” será ouvida pelos “grandes da terra”.

“Esperamos que o mundo inteiro os ouça e veja que estão a avançar”, acrescentou, afirmando que a JMJ mostrou ser possível “uma alternativa à guerra”.

Francisco dirigiu ainda algumas palavras de encorajamento ao povo ucraniano: “Muitos de vós vão em peregrinação a Jasna Góra (Polónia) e a outros santuários marianos, por isso confio-vos um desejo que trago no coração: o desejo de paz no mundo (…). Rezai por este dom inestimável, especialmente pela amada e atormentada Ucrânia”.

O papa assegurou ainda que durante a deslocação a Fátima rezou pela paz.

“Durante as JMJ voltei a Fátima, ao local da aparição, e juntamente com alguns jovens doentes rezei para que Deus curasse o mundo das doenças da alma: orgulho, mentira, inimizade, violência. O mundo está doente com estas doenças”, disse.

“Rezei pela paz, porque há tantas guerras em todas as partes do mundo”, acrescentou naquela que foi a primeira audiência geral após a pausa de julho.

O papa já tinha adiantado, durante o voo de regresso a Itália, que quando esteve no santuário de Fátima – onde não leu o discurso nem a oração que tinha preparado – apesar de ser esperado um apelo público à paz, decidiu fazê-lo em silêncio e sem o publicitar.

Disse ainda que encontrou “um grupo de jovens ucranianos que trouxeram histórias de dor” para a JMJ, adiantando que o encontro “não era uma viagem de férias, uma viagem turística, mas um encontro com Cristo”.

Depois de garantir que “a sua saúde está ótima” e que não tem problemas de visão, disse que cortou ou não leu os discursos em algumas cerimónias da JMJ para comunicar melhor com os jovens.

A jornada, cuja próxima edição ocorrerá em 2027, em Seul, é considerada o maior evento da Igreja Católica.

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Ordem denuncia agressões a duas advogadas e faz queixa à Procuradoria-Geral da República

  • Lusa
  • 9 Agosto 2023

A Ordem dos Advogados revelou ter recebido queixa de agressões físicas a duas advogadas, adiantando que um dos casos foi também denunciado à Procuradoria-Geral da República.

A Ordem dos Advogados (OA) revelou na terça-feira ter recebido queixa de agressões físicas a duas advogadas, adiantando que um dos casos foi também denunciado à Procuradoria-Geral da República (PGR), questionando a atuação do DIAP de Vila Nova de Gaia.

Em comunicado, a OA refere que os advogados “são cada vez mais confrontados com ameaças diversas contra a sua integridade física e, por vezes, até contra as suas próprias vidas, com diversos registos de agressões e até de homicídio”, adiantando que em menos de um mês recebeu queixa de duas advogadas “vítimas de agressões graves perpetradas nos seus respetivos domicílios profissionais, onde foram sequestradas e agredidas em plena luz do dia”.

As advogadas, que exercem ambas em prática individual, foram contactadas pela OA, que “proferiu despacho para autorizar o patrocínio e a constituição de assistente nos respetivos processos”.

No caso de uma das advogadas, a OA denunciou à PGR “a reação que considera ser pouco adequada de uma das secções do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Vila Nova de Gaia”.

Segundo refere o comunicado da Ordem, o DIAP de Vila Nova de Gaia “decidiu deixar sair em liberdade, e apenas com termo de identidade e residência, o agressor de uma destas advogadas, que tinha sido detido em flagrante delito, (…) suspeito dos crimes de sequestro e tentativa de homicídio, sem recolher um único depoimento dos intervenientes (testemunhas, queixosa e do próprio arguido)”.

“Isto depois de os manter nas instalações durante três horas e meia, por se entender que não valeria a pena, naquele momento, realizar outras diligências de investigação, já que o arguido se encontra social e profissionalmente inserido, uma vez que nada consta do seu registo criminal, e também por se ter decidido que não estaria preenchido nenhum dos requisitos” previstos no Código do Processo Penal para aplicação de medidas de coação, acrescenta o comunicado.

A advocacia é uma profissão que tem custódia constitucional, com prerrogativas que são legalmente estabelecidas para garantir os direitos, liberdades e garantias dos/as cidadãos/ãs, e é dever de todos/as, especialmente do detentor da ação penal, proteger e manter seguro o exercício da profissão. E isso não se consegue desvalorizando comportamentos graves e cada vez mais recorrentes, por parte de quem não sente nenhuma espécie censura perante a perigosidade dos seus atos e do que os mesmos significam para as vítimas e para o seu normal dia-a-dia”, critica a OA no comunicado.

A Ordem alerta para “comportamentos que atentam contra o exercício livre, sem medo ou amarras desta tão importante profissão” e sublinha que compete também aos órgãos de polícia criminal e ao “titular da ação penal” a obrigação de defender a profissão.

“Se poderá ser mais fácil criar regras de segurança para os operadores judiciários que têm a sua atuação num espaço que é público, não se poderá nunca descurar a obrigação de também zelar pela segurança de quem não tem o seu domicílio profissional nesses locais, mas tem também uma atividade absolutamente crucial na boa aplicação da justiça”, defende a OA.

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Euribor desce a três e 12 meses e sobe a seis meses

  • Lusa
  • 9 Agosto 2023

Esta quarta-feira, a taxa Euribor desceu a três e a 12 meses, para 3,759% e 4,053%, respetivamente, e subiu a seis meses para 3,927%.

A taxa Euribor desceu esta quarta-feira a três e a 12 meses e subiu a seis meses em relação a terça-feira.

  • A taxa Euribor a 12 meses, que atualmente é a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável, recuou hoje para 4,053%, menos 0,012 pontos, depois de ter subido até 4,193% em 07 de julho, um novo máximo desde novembro de 2008. Segundo dados referentes a maio de 2023 do Banco de Portugal, a Euribor a 12 meses representava 40,3% do ‘stock‘ de empréstimos para habitação própria permanente com taxa variável. Os mesmos dados indicam que a Euribor a seis e a três meses representava 34,4% e 22,8%, respetivamente. A média da taxa Euribor a 12 meses avançou de 4,007% em junho para 4,149% em julho, mais 0,142 pontos.
  • Em sentido contrário, no prazo de seis meses, a taxa Euribor, que entrou em terreno positivo em 07 de julho de 2022, avançou hoje, ao ser fixada em 3,927%, mais 0,007 pontos do que na terça-feira e contra o máximo desde novembro de 2008, de 3,972%, verificado em 21 de julho. A média da Euribor a seis meses subiu de 3,825% em junho para 3,942% em julho, mais 0,117 pontos.
  • A Euribor a três meses baixou hoje, para 3,759%, menos 0,006 pontos, depois de ter subido para um novo máximo desde novembro de 2008, de 3,765%, na terça-feira. A média da Euribor a três meses subiu de 3,536% em junho para 3,672% em julho, ou seja, um acréscimo de 0,136 pontos percentuais.

As Euribor começaram a subir mais significativamente a partir de 04 de fevereiro de 2022, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter admitido que poderia subir as taxas de juro diretoras devido ao aumento da inflação na zona euro e a tendência foi reforçada com o início da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022.

Na mais recente reunião de política monetária, realizada em 27 de julho, o BCE voltou a subir os juros, pela nona sessão consecutiva, em 25 pontos base — tal como em 15 de junho e 04 de maio –, acréscimo inferior ao de 50 pontos base efetuado em 16 de março, em 02 de fevereiro e em 15 de dezembro, quando começou a desacelerar o ritmo das subidas.

Antes, em 27 de outubro e em 08 de setembro, as taxas diretoras subiram em 75 pontos base. Em 21 de julho de 2022, o BCE tinha aumentado, pela primeira vez em 11 anos, em 50 pontos base, as três taxas de juro diretoras.

A próxima reunião de política monetária do BCE realiza-se em 14 de setembro.

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Taxa de desemprego recua para 6,1% no segundo trimestre, mas há mais 25 mil sem trabalho do que há um ano

No trimestre havia 324,5 mil pessoas desempregadas, menos 55,8 mil (-14,3%) do que no trimestre anterior, mas mais 25,7 mil que no trimestre homólogo.

A taxa de desemprego no segundo trimestre fixou-se em 6,1%, um recuo de 1,1 pontos percentuais (p.p) face ao trimestre anterior, mas uma subida de 0,4 p.p. face a igual período do ano passado. No trimestre havia 324,5 mil pessoas desempregadas, menos 55,8 mil (-14,3%) do que no trimestre anterior, mas mais 25,7 mil que no trimestre homólogo, apontam os dados Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados esta quarta-feira.

No período, a população empregada (4.979,4 mil pessoas) aumentou 1,1% (54,7 mil) em relação ao trimestre anterior e 1,6% (77,6 mil) relativamente ao trimestre homólogo.

Apesar do recuo face ao trimestre anterior, em relação ao período homólogo registou-se uma subida de mais de 25 mil do número de desempregados (+8,6%), com o principal contributo para esta subida ter sido o aumento do desemprego feminino (15,4 mil; 9,9%); de pessoas dos 16 aos 24 anos (12,2 mil; 23,0%) e dos 55 aos 74 anos (12,0 mil; 22,6%); com ensino secundário ou pós-secundário (22,6 mil; 22,1%); à procura de novo emprego (21,4 mil; 8,3%); e desempregados há menos de 12 meses (41,3 mil; 28,1%), descreve o INE.

No 2.º trimestre de 2023, 42,0% da população desempregada encontrava-se nesta condição há 12 ou mais meses (desemprego de longa duração), valor superior em 5,5 p.p. ao do trimestre precedente e inferior em 8,9 p.p. ao do trimestre homólogo”, pode ler-se no relatório.

Entre os jovens (16 a 24 anos) a taxa de desemprego situou-se em 17,2%, uma descida de 2,4 p.p em relação ao trimestre anterior, mas superior em 0,5 p.p face ao trimestre homólogo.

Quatro regiões com taxa de desemprego acima da média nacional

Área Metropolitana de Lisboa (7%), Região Autónoma dos Açores (6,7%), Norte (6,4%), Região Autónoma da Madeira (6,4%) são as regiões que no segundo trimestre registam uma taxa de desemprego superior à média nacional (6,1%), tendo três regiões — Alentejo (5,3%), Algarve (5%) e Centro (4,9%) – assinalado uma taxa abaixo da média.

“Em relação ao trimestre anterior, a taxa de desemprego diminuiu em todas as regiões, com exceção da Região Autónoma dos Açores, onde aumentou 0,5 p.p. A maior diminuição foi observada no Algarve (2,2 p.p.)”, refere o INE.

Face ao homólogo, registam-se subidas em quatro regiões, “destacando-se o aumento de 0,9 p.p. na região Norte e no Alentejo, e decréscimos nas restantes três NUTS II, o maior dos quais na Região Autónoma da Madeira (0,9 p.p.)”.

A subutilização do trabalho abrangeu 625,3 mil pessoas, menos 8,1% (55,4 mil) do que face ao trimestre anterior e uma subida de 4,1% (24,6 mil) relativamente ao homólogo. “De modo idêntico, a taxa de subutilização do trabalho, estimada em 11,5%, diminuiu trimestralmente (1,0 p.p.) e aumentou em termos homólogos (0,3 p.p.)”.

A população inativa com 16 e mais anos (3.544,7 mil pessoas) subiu 0,2% (7,4 mil) em relação ao trimestre anterior e recuou 1,7% (59,7 mil) face ao homólogo.

Mais de 908 mil em teletrabalho

Havia 4.979,4 mil pessoas no segundo trimestre, uma subida de 1,1% (54,7 mil) em relação ao trimestre anterior e de 1,6% (77,6 mil) quando comparado com o trimestre homólogo.

Para esse aumento homólogo, o principal contributo veio do acréscimo do emprego entre “os homens (48,5 mil; 2,0%); das pessoas dos 16 aos 24 anos (49,4 mil; 18,7%); que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (171,3 mil; 10,7%); empregados no setor da indústria, construção, energia e água (72,2 mil; 6,1%), nomeadamente nas atividades de construção (40,7 mil; 13,3%), cujo aumento representou 56,4% da variação do setor; trabalhadores por conta de outrem (110,8 mil; 2,7%), com contrato com termo (68,1 mil; 12,2%); e a tempo completo (59,8 mil; 1,3%)”, descreve o INE.

Do total de pessoas empregadas, 960 mil (19,3%) trabalharam em casa no 2.º trimestre, destes 248,6 mil (25,9%) fizeram-no sempre; 330,1 mil (34,4%) “fizeram-no regularmente mediante um sistema que concilia trabalho presencial e em casa”; 141,2 mil (14,8%) pontualmente e 232,9 mil (24,3%) fora do seu horário de trabalho.

Entre os que trabalharam em casa, “94,7% (908,9 mil) estiveram em teletrabalho, ou seja, utilizaram tecnologias de informação e comunicação (TIC) para desempenhar as suas funções a partir de casa. Este regime de prestação de trabalho abrangeu 18,3% do total da população empregada, mais 0,4 p.p. do que no trimestre anterior“, pode ler-se no relatório.

Face ao trimestre anterior, os números apontam uma subida de 2,8 p.p. dos que conciliaram trabalho presencial e em casa.

“Entre os que indicaram trabalhar regularmente em casa mediante um sistema que concilia trabalho presencial e em casa, o sistema de combinação mais comum foi o que conjuga alguns dias por semana em casa todas as semanas (69,3%; 228,6 mil), tendo sido igualmente o sistema que registou a maior variação trimestral (mais 2,4 p.p. do que no 1.º trimestre de 2023)”, refere o INE.

Os empregados num sistema híbrido trabalharam em casa, em média, três dias por semana

(Última atualização às 12h02)

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Exportações portuguesas recuam 3,4% em junho. É o terceiro mês em queda

Quedas nos combustíveis e lubrificantes influenciam desempenho do comércio internacional, tanto pelas descidas de preços como pela comparação com o ano passado.

O comércio internacional continua a arrefecer. As exportações portuguesas de bens registaram uma diminuição de 3,4% em junho, enquanto as importações recuaram 7,6%, o que representa o terceiro mês consecutivo de quedas, segundo mostram os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) esta quarta-feira.

Os combustíveis e lubrificantes são uma das categorias a influenciar este desempenho, “refletindo descidas nos preços, mas também um efeito base, dado que em junho de 2022 se tinham registado aumentos significativos nas transações destes produtos, antecipando a escassez e subida de preços perspetivadas pelo conflito na Ucrânia”, como explica o INE.

De facto, se olharmos para o total excluindo combustíveis e lubrificantes, chegam mesmo a verificar-se aumentos de 1,1% nas exportações e 2,7% nas importações. Estes produtos influenciam os preços, sendo que no ano passado tinham disparado devido à guerra na Ucrânia.

Assim, “os índices de valor unitário (preços) registaram variações de -4,8% nas exportações e -9,1% nas importações”, como nota o INE, mas se retirarmos os produtos petrolíferos, as variações são de +0,4% nas exportações e -2,6% nas importações.

A queda dos preços do petróleo explica “em grande medida” os decréscimos nas exportações de combustíveis e lubrificantes, que atingiram os 41,0% no sexto mês do ano. Além disso, é de destacar também o recuo nos fornecimentos industriais (-10,8%, principalmente para Espanha), “sobretudo de pastas celulósicas e papel e produtos químicos”.

Nas importações, também se sente as descidas dos preços e o efeito base no decréscimo de combustíveis e lubrificantes (-47,4%), sobretudo do Brasil e de Angola. “Destaca-se também o decréscimo de fornecimentos industriais (-8,8%), principalmente de plásticos e borrachas”, indica o gabinete de estatísticas.

Quanto aos países com que Portugal tem relações comerciais, sobressai a diminuição das exportações para os Estados Unidos (-24,3%) e das importações do Brasil (-45,8%), sobretudo de combustíveis e lubrificantes.

No agregado do trimestre terminado em junho, as exportações e as importações diminuíram 4,9% e 6,1%, respetivamente, em relação ao 2º trimestre de 2022, naquela que foi a primeira queda em mais de dois anos e meio.

Como o decréscimo nas importações foi mais expressivo no mês de junho, registou-se uma diminuição do défice da balança comercial em 496 milhões de euros face a junho de 2022, atingindo 2.122 milhões de euros.

(Notícia atualizada às 11h35 com mais informação)

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Gigante dos pneus Continental passa de prejuízos a lucros no primeiro semestre

  • Lusa
  • 9 Agosto 2023

Entre janeiro e junho, a fabricante de pneus e componentes para automóveis teve um resultado líquido de quase 591 milhões de euros. O volume de negócios cresceu 10,7% face ao período homólogo.

A Continental registou um lucro de 590,8 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, depois de ter tido um prejuízo de 11,2 milhões de euros em termos homólogos, anunciou esta quarta-feira o fabricante de pneus e componentes para automóveis.

O volume de negócios da Continental ascendeu a 20.732 milhões de euros no primeiro semestre (+10,7% em termos homólogos) e alcançou um resultado operacional de 907,8 milhões de euros (+331% face a igual período do ano anterior).

A margem de lucro operacional sobre as vendas aumentou para 4,4%, contra 1,1% no primeiro semestre do ano precedente.

O presidente executivo da empresa, Nikolai Setzer, afirmou, ao apresentar os resultados financeiros, que, “apesar das difíceis condições de mercado, o setor dos pneus terminou o segundo trimestre de novo com bons lucros“.

As encomendas direcionadas à divisão automóvel aumentaram no segundo trimestre deste ano para 8.600 milhões de euros, o que se deveu à contribuição da parceria com exclusividade que tem com o fabricante norte-americano de veículos autónomos Aurora.

A Continental e a Aurora vão produzir sistemas de condução autónoma para camiões a partir de 2027 nos Estados Unidos, um acordo que irá gerar uma entrada de encomendas de 4.800 milhões de euros para a empresa alemã.

Mas os lucros da divisão automóvel foram inferiores ao previsto pelos analistas, embora devam recuperar no segundo semestre deste ano, segundo Setzer.

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Maioria das mulheres tem conhecimentos “básicos” de literacia financeira. Mais de metade nunca renegociou salário

Relatório da Portuguese Women in Tech e a Natixis revela que mais de metade das mulheres inquiridas teve uma ideia de negócio, mas não lhe deu continuidade por sentir insegurança.

Mais de metade das mulheres tem apenas conhecimentos básicos sobre literacia financeira, a grande maioria não tem qualquer contribuição para as decisões financeiras na sua empresa e mesmo entre a minoria (7,2%) das mulheres que dizem ser as principais responsáveis por essa decisão na empresa, uma larga maioria (72,7%) dizer ter apenas conhecimentos básicos. Mais de metade considera o seu salário injusto, mas não o negociou, mais de um terço por não sentir segurança em fazê-lo, o mesmo motivo que as impediu de avançar com uma ideia de negócio, aponta o inquérito “Women & Wealth – Literacia Financeira no Feminino”, realizada pela Portuguese Women in Tech e a Natixis.

O inquérito, realizado entre 26 de maio e 28 de junho de 2023, recolheu respostas de 154 mulheres, dos 21 aos 70 anos, a residir no distrito do Porto, mas o retrato sobre os níveis de literacia das mulheres não deve diferir muito a nível nacional.

“Tudo me leva a querer que esta é uma realidade nacional. A nossa decisão de lançarmos a conferência Women & Wealth — realizada em junho, no Porto — foi por vermos uma grande necessidade de se discutir este tema e aceder a conteúdo relevante sobre o mesmo, necessidade transversal a todo o país”, diz Inês Santos Silva, cofundadora da Portuguese Women in Tech, ao Trabalho by ECO.

Desconhecimento sobre literacia financeira — entendido como conhecimento sobre conceitos, serviços ou produtos financeiros como empréstimos, seguros, planos de poupança, ações e outras opções de investimento — que não é exclusivo das mulheres. “Dados de 2022, do Banco Central Europeu, colocam Portugal em último lugar no ranking de literacia financeira da zona euro. A baixa literacia financeira é um problema nacional e sistémico”, aponta Inês Santos Silva.

No ensino obrigatório, em nenhum momento se fala de dinheiro, poupança, investimento ou dívida. Pelo meu conhecimento, não existe qualquer conteúdo programático focado neste tema, sendo que existem algumas organizações privadas que acabam por colmatar essa falta de informação, mas que infelizmente não conseguem chegar a todo o lado. Uma aposta nestes conteúdos escolares poderia ter um impacto enorme no aumento da literacia financeira no nosso país.

Inês Santos Silva

Cofundadora da Portuguese Women in Tech

Dados mais recentes, dão conta de que a situação portuguesa não evolui com a rapidez desejável, com um inquérito da Comissão Europeia, conhecido em julho, a apontar que 18% dos europeus têm elevados níveis de literacia financeira contra 11% em Portugal. Apenas pouco mais de metade (55%) dos 1.000 cidadãos portugueses inquiridos sobre inflação — tema que tem afetado em particular neste último ano e pouco os rendimentos das famílias — respondeu acertadamente à questão colocada.

Até 2028, Portugal tem em marcha uma Estratégia de Literacia Financeira Digital, desenhada com apoio da OCDE e da Comissão Europeia, com vista a “capacitar a população para a utilização adequada de serviços financeiros digitais e reduzir a exclusão financeira digital”, pode ler-se no site do Banco de Portugal.

“Embora não existam diferenças de género em vários aspetos (como a inclusão digital, a utilização de ferramentas digitais, a segurança online ou a exposição a fraudes e burlas online, entre outros), existem diferenças de género noutros domínios, como a propensão a procurar informação sobre a utilização segura de serviços financeiros digitais (em termos relativos, mais mulheres do que homens nunca procuraram essa informação), ou em níveis de conhecimentos financeiros digitais (com as mulheres a revelarem níveis inferiores aos dos homens)”, aponta o documento do Banco de Portugal.

O que revela o inquérito?

Os dados inquérito levado a cabo pela Portuguese Women in Tech dão conta da dimensão do problema junto do público feminino.

Apesar 45,5% das mulheres inquiridas terem uma licenciatura, 42,2% um mestrado e 3,2% um doutoramento — somente 6,5% têm o 12.º ano –, mais de metade (53,9%) diz ter conhecimentos “básicos” de literacia financeira, 33,8% conhecimentos “intermédios” e uma minoria de 5,2% conhecimentos avançados. Há uma fatia de 7,1% que considera mesmo não ter quaisquer conhecimentos relacionados com literacia financeira.

“No ensino obrigatório, em nenhum momento se fala de dinheiro, poupança, investimento ou dívida. Pelo meu conhecimento, não existe qualquer conteúdo programático focado neste tema, sendo que existem algumas organizações privadas que acabam por colmatar essa falta de informação, mas que infelizmente não conseguem chegar a todo o lado. Uma aposta nestes conteúdos escolares poderia ter um impacto enorme no aumento da literacia financeira no nosso país”, aponta Inês Santos Silva, quando questionada sobre possíveis medidas para mitigar o problema da iliteracia financeira.

“Vivemos numa sociedade em que falar de dinheiro é tabu. Muitas vezes, nem as próprias famílias discutem estes temas, pelo que a aprendizagem informal acaba por ser perder. E isto é ainda pior no caso das mulheres, em que falar de dinheiro é visto como ‘feio'”, refere ainda.

Pese embora os números, o inquérito revela ainda que 61% das mulheres procuram manter-se informada sobre “conceitos, serviços e produtos financeiros, mas apenas quando se depara com essa necessidade”, com 22,1% a admitirem o desinteresse e, apenas 16,9% a procurarem ativamente manterem-se informadas, mesmo sem essa necessidade.

Se no agregado familiar 51,3% das mulheres partilham a responsabilidade pelas decisões a nível financeiro com outra(s) pessoa(s), quase metade (44,2%) é a principal responsável por essas decisões, com apenas 4,5% a admitirem não ter qualquer responsabilidade nesse campo na sua família.

no trabalho, uma fatia significativa das inquiridas (63,2%) não tem qualquer contribuição para as decisões financeiras na sua empresa. “Apenas 18,8% contribuem para as decisões financeiras no contexto profissional e é ainda significativamente menor (7,2%) a fatia de mulheres que dizem ser as principais responsáveis pelas decisões financeiras na sua empresa”, aponta o estudo.

Mais, “do grupo de mulheres que afirmam ser as principais responsáveis pelas decisões financeiras na sua empresa, uma percentagem muito significativa (72,7%) afirma ter apenas conhecimentos básicos relacionados com literacia financeira e 27,3% conhecimentos intermédios”, destaca o estudo. “Não há uma única inquirida a afirmar ser a principal responsável pelas decisões financeiras na sua empresa e, simultaneamente, a assumir ter conhecimentos avançados relacionados com literacia financeira”, reforça.

Uma realidade muito próxima do que sucede em casa. Das mulheres que dizem ser as principais responsáveis pelas decisões no lar, 57,4% têm “conhecimentos básicos ou não têm quaisquer conhecimentos relacionados com literacia financeira”. E das que têm conhecimentos básicos ou desconhecimento, cerca de um terço (30,9%) “não procura de, de forma regular, manter-se informada sobre conceitos, serviços e produtos financeiros”.

51,3% nunca renegociou salário

O estudo também dá conta da relação das mulheres com o salário. Embora junto do universo das inquiridas, apenas uma em cada 10 mulheres questionadas (10,4%) dependa financeiramente de uma pessoa ou instituição para fazer face às suas despesas fixas mensais — contra 89,6% que não se encontra neste momento dependente nesse sentido –, mais de metade (58,5%) não considera “justo” o salário que recebe neste momento, face às suas capacidades, conhecimentos ou função. “Apenas 3 em cada 10 (30,5%) acha que está a receber um salário justo.”

“Apesar de a maioria das inquiridas considerar que o salário que recebe não é justo, a grande fatia (67,8%) não sente que o facto de ser mulher tenha implicações no seu salário. Segue-se a fatia dos 17,8% que não sabe/não tem a certeza se o facto de ser mulher tem implicações no seu salário e a fatia dos 14,4%, representando as mulheres que sentem que o seu género tem implicações no salário que recebem”, aponta o estudo.

Vivemos numa sociedade em que falar de dinheiro é tabu. Muitas vezes, nem as próprias famílias discutem estes temas, pelo que a aprendizagem informal acaba por ser perder. E isto é ainda pior no caso das mulheres, em que falar de dinheiro é visto como ‘feio’.

Inês Santos Silva

Cofundadora da Portuguese Women in Tech

Ainda assim, uma maioria (51,3%) nunca tentou renegociar o seu salário. Porquê? Mais de um terço (35,4%) por não ter “segurança suficiente para o fazer”, com 13,9% a invocar “não ter conhecimentos suficientes” e 12,7% por não sentir necessidade de o fazer.

Com Portugal, a registar há três anos consecutivos um aumento da desigualdade salarial entre género, para 11,9%, segundo dados conhecidos em março do Eurostat — é o 15.º país europeu com maior desigualdade — poderia uma maior literacia financeira ajudar a mitigar a essa discrepância salarial?

“Sem dúvida. Este foi um dos temas abordados na conferência Women & Wealth, que organizamos, e que validou também a nossa iniciativa “Salary Transparency Project”, que visa partilhar informação salarial na área da tecnologia, para nós, mulheres, estarmos mais seguras no momento de negociar o salário”, aponta Inês Santos Silva.

E o inquérito parece corroborar essa perceção. “Das inquiridas que dizem ter conhecimentos avançados relacionados com literacia financeira, 87,5% já tentou negociar o seu salário”, aponta o estudo. Desse grupo, apenas 1,3% nunca tentou negociar o salário.

Mais de metade teve ideia de negócio, mas não deu continuidade

A maioria das mulheres inquiridas (51,3%) afirma já ter tido alguma ideia de negócio, mas uma fatia significativa (53,2%) assume não ter avançado “de todo” com essa ideia, com 17,6% a prosseguirem com a ideia, mas a não a concretizar. Já 16,5% conseguiram concretizar a ideia e 12,7% ainda estão a fazê-lo.

Falta de segurança (64,3%), desafios a nível financeiro (58,9%), falta de conhecimento (44,6%) estão entre os principais motivos que levaram as mulheres a não avançar ou concretizar a sua ideia de negócio. Falta de apoio do mercado (26,8%) e desmotivação (21,4%) são outras das razões apontadas.

Poderá os dados de literacia financeira também contribuir para os baixos números de mulheres founders no ecossistema de empreendedorismo? “Não sendo um entrave, acredito que uma maior literacia financeira por parte das mulheres poderia levar a uma maior estabilidade financeira, que poderia potenciar a criação de mais empresas”, admite a cofundadora da Portuguese Women in Tech. “Isto porque o relatório identifica desafios a nível financeiro como uma das principais razões para as inquiridas não avançarem com a criação de um negócio próprio. Maior literacia financeira poderia ainda, muito provavelmente, potenciar o sucesso das mesmas”, justifica.

A esmagadora maioria das mulheres inquiridas (79,2%) diz estar aquém das suas ambições financeiras, com 11% a admitir as ter atingido e apenas 3,2% a considerar estar além. Uma fatia de 6,6% assume nem sequer ter ambições financeiras, revela o inquérito.

Uma maior literacia financeira por parte das mulheres poderia levar a uma maior estabilidade financeira, que poderia potenciar a criação de mais empresas. (…) Isto porque o relatório identifica desafios a nível financeiro como uma das principais razões para as inquiridas não avançarem com a criação de um negócio próprio. Maior literacia financeira poderia ainda, muito provavelmente, potenciar o sucesso das mesmas.

Inês Santos Silva

Cofundadora da Portuguese Women in Tech

“Mesmo considerando as mulheres que já conseguiram concretizar a sua ideia de negócio, 92,3% destas está aquém das suas ambições financeiras e apenas 7,7% atingiu as suas ambições financeiras. Nenhuma destas mulheres afirma estar além das suas ambições financeiras”, alerta o estudo.

No grupo de mulheres que assume ter atingido ou estar além das suas ambições financeiras, 72,7% tem dinheiro investido nalgum produto financeiro, a maioria das quais (81,3%) considerando investimentos mais “tradicionais”.

Cerca de metade das mulheres (42,2%) tem dinheiro investido nalgum produto financeiro, fazendo a total gestão desse investimento, com 22,1% a partilhar gestão de investimento. Mais de um terço (34,4%) não tem qualquer dinheiro investido em produtos financeiros.

Dentro do grupo de mulheres que tem dinheiro investido em produtos financeiros, 80,8% considera investimentos mais “tradicionais”, como Certificados de Aforro, ações, entre outros. Apenas 3% apostou totalmente esse dinheiro em novos tipos de investimento, como criptomoedas e NFT, e 15,2% tem dinheiro investido em ambos.

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