“Não temos porta-aviões na nossa economia”, diz CEO da Bial
O líder da Bial contraria a ideia de que a solução para a economia é a redução da carga fiscal. Apenas se poderá inverter o ciclo de taxas de crescimento reduzidas com a implementação de reformas.
Portugal precisa criar condições para que as empresas possam internacionalizar-se e crescer. Mas isso não se faz apenas com menos impostos, são necessárias reformas, defende António Portela. Segundo o CEO da Bial, ao contrário do que acontece com outros países, Portugal não tem multinacionais, “não temos porta-aviões na nossa economia”.
“Acho que o ponto principal não é a descida de impostos“, defendeu António Portela, na conferência da CIP “Pacto Social: Mais economia para todos”. O empresário português argumentou que é possível atrair tanto talento português como estrangeiro, referindo a atratividade do regime especial para portugueses que regressam ao país, após mais de cinco anos fora.
Ainda que reconheça que a parte fiscal é “importante”, o CEO da Bial considera que é preciso que as empresas portuguesas cresçam, para que também assim possam investir e pagar melhores salários. “Se a minha empresa tivesse crescido 0,8% a cada ano nos últimos 20 anos, onde estaria a minha empresa?“, questiona num paralelismo com o que foi a evolução da economia nacional neste período.
Se assim fosse, continua, a empresa “não tinha capacidade de inovação. A única solução era endividar-nos para investir em inovação em novos produtos, para internacionalizar para levar os produtos para mercados externos e aumentar os salários”, o que não é solução, porque a fatura do endividamento terá que pagar-se no futuro.
Para quebrar este ciclo, o empresário pede reformas e que as empresas tenham vontade de crescer. Olhando para a sua empresa, António Portela revela que a Bial assentou o seu crescimento, nos últimos trinta anos, na investigação e desenvolvimento na área de novos medicamentos” e nunca deixou de investir. “Investimos mais de 20% da nossa faturação. Somos a empresa que mais investiu, 81 milhões de euros”.
Temos mais de 85% de licenciados na empresa e 11% de doutorados, que não recebem o salário mínimo, recebem bem acima disso, mas são essas pessoas que trazem valor acrescentado.
Além do investimento em inovação, Portela tem também priorizado o investimento em pessoas. “Temos mais de 85% de licenciados na empresa e 11% de doutorados, que não recebem o salário mínimo, recebem bem acima disso, mas são essas pessoas que trazem valor acrescentado“.
Bruno Bobone, presidente da Pinto Basto, também concorda que apenas com salários dignos é possível reter e atrair talento. “Se lhe der um ordenado de 800 euros, com que espírito vem trabalhar?”, questiona, defendendo o pagamento de um salário digno, que permita à pessoa pagar as suas despesas, ter férias e ainda chegar ao fim do mês com dinheiro.
“Se tivermos empregados com salários dignos vamos ter produtividade significativamente superior e vamos chegar aos 4% de crescimento“, antecipa.
Se tivermos empregados com salários dignos vamos ter produtividade significativamente superior.
O empresário argumenta que o governo “deve preocupar-se com as pessoas e as pessoas em Portugal não vivem bem” e as empresas beneficiam se as pessoas estiverem bem.
De volta à questão fiscal, o economista Ricardo Arroja rebate o “discurso que redução dos impostos não vai acelerar o crescimento da economia”, referindo que esta é uma “questão relevante”, com as grandes empresas em Portugal a enfrentarem uma taxa efetiva de IRC mais elevada do que na UE.
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