ECO da Campanha: Chega quer a mão da AD e IL fica com ciúmes
Luís Montenegro não quer "participar no recreio", afirmou depois de "forças vivas" do PSD terem garantido acordo pós-eleitoral com o partido de extrema-direita. Rocha acusa Ventura de "desespero".
O 10.º dia de campanha para as legislativas de 10 de março arrancou, esta terça-feira, a todo o vapor com “ataques pessoais” de Luís Montenegro à “estabilidade emocional” de Pedro Nuno Santos. Dois eleitos do PAN, de Faro, desfiliaram-se do partido, com Inês de Sousa Real a reagir com tranquilidade. Quem perdeu a paciência foi o presidente do PSD. Confrontado com um manifestante pelo clima que criticou as políticas ambientais propostas pela Aliança Democrática (AD), coligação que junta PSD, CDS e PPM, Montenegro atirou: “Vocês querem defender as vossas causas e eu respeito. Mas têm de ter abertura de espírito e compreender os outros. Se quiser apenas ver o seu ponto, vote noutro”.
Mas o tema que marcou o dia foi o noivado entre AD e Chega e entre a AD e IL. André Ventura quer a mão de Montenegro para subir ao altar de uma maioria de direita no dia 11 de março. Mas o presidente do PSD não quer brincar às casinhas. Rui Rocha, enciumado, acusou o líder do partido de extrema-direita de “desespero”.
Tema quente
Chega quer a mão da AD e IL fica com ciúmes
Está lançada a confusão sobre a política de alianças à direita. Chega e IL vão disputar a mão da AD até ao último segundo da campanha, acenando com a tese de que a coligação, liderada pelo PSD, vai precisar de entendimentos, de acordos para conseguir governar com estabilidade, num cenário em que a AD vença sem maioria absoluta.
“Forças vivas” do PSD garantiram a André Ventura que ia haver um governo AD/Chega, revelou o líder do partido de extrema-direita, na segunda-feira à noite, em entrevista à RTP. O presidente do Chega até destacou os nomes que já tinham falado publicamente no assunto: Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, Ângelo Correia e Rui Gomes da Silva. Relvas desmentiu de imediato e Correia disse que não fala com Ventura há 15 anos. Já Gomes da Silva, antigo dirigente do PSD e antigo ministro dos Assuntos Parlamentares do curto Governo de Pedro Santana Lopes, acabou por confirmar as palavras do líder do Chega.
As declarações de Ventura fizeram logo ricochete na campanha desta terça-feira, com Luís Montenegro a rejeitar entendimentos com o partido de extrema-direita: “Não participo no recreio”. “Vemos muitos líderes de partidos, nomeadamente o líder do PS e do Chega, a falar de coisas que não interessam. Aqueles que passam a vida a falar de nós ou a falar de coisas que ninguém sabe de onde vêm, estão a dar um sinal aos eleitores: ‘Não contem connosco para resolvermos os vossos problemas. O que aumenta a responsabilidade da AD”, rematou.
O líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, reagiu de imediato, acusando Ventura de “desespero”, numa tentativa de frustrar as expectativas do Chega. Aliás, o pedido de noivado, ainda que não oficial nem direto, à AD foi feito em primeiro lugar pela IL. “Cabe ao PSD esclarecer se entender que deve esclarecer. Nós também já estamos habituados a uma certa tentativa, que parece às vezes desespero, de trazer argumentos para o debate quando se vê que as coisas não estão a correr bem”, atirou.
Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, também pediu esclarecimentos à AD, concretamente a Luís Montenegro: “Caberá a Luís Montenegro vir dizer se se comprova, ou não, a existência desse acordo”.
Já o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, conclui que André Ventura quer “ir para o poder, seja qual forem os meios”, o que significa que “está a marimbar-se” para os problemas das pessoas.
A figura
Christian Lindner
O ministro das Finanças alemão decidiu declarar o apoio à Iniciativa Liberal, à semelhança do que tinha feito nas eleições de 2022. Christian Lindner, que é presidente do partido liberal alemão FDP, fez um vídeo de apoio à Iniciativa Liberal, onde diz que o programa do partido assegura “crescimento, competitividade e a liberdade de escolha nos domínios da saúde e da educação”.
A frase
“Estamos num partido político, não numa associação de amigos”.
A surpresa
Ex-dirigente do PSD assume que tem contactos com Ventura e defende acordo com Chega
Contra todas as expectativas, já que Montenegro tem reiteradamente afastado alianças com o Chega, surgem, de dentro do PSD, vozes a defender entendimentos com o partido de André Ventura.
Rui Gomes da Silva, antigo dirigente do PSD e ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, defendeu que “deve haver uma aliança à direita com o Chega“, sublinhando que considera “errada a estratégia do PSD”.
Além disso, Gomes da Silva assumiu, em declarações à TSF, que “fala há muitos anos com André Ventura” sobre “alguns desafios que se põem dentro da política portuguesa”.
Prova dos 9
“AD tem um cenário macroeconómico com indicadores que não estão previstos por nenhuma organização internacional.”
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, afirmou que a “AD tem um cenário macroeconómico com indicadores que não estão previstos por nenhuma organização internacional”. A declaração estará certa ou errada?
O programa económico da coligação, liderada pelo PSD, é bem mais ambicioso do que o plano dos socialistas. Para a AD, a economia deverá crescer 1,6%, este ano, evoluindo para 3,4%, no final da legislatura, com a taxa de desemprego a baixar de 6,3%, este ano, para 5%, em 2028, segundo o programa da AD. As estimativas do PS são mais modestas, apontando para um impulso do PIB, de 1,5%, este ano, e de 2%, no final da legislatura, e para uma diminuição do desemprego de 6,5% para 5,7%.
Em relação ao saldo orçamental, a AD promete excedentes durante todos os quatro anos da próxima legislatura, começando em 0,8% do PIB em 2024, terminando em 0,2%, em 2028. Enquanto o PS projeta um saldo positivo de 0,3%, este ano, que passará a um equilíbrio orçamental (0%), isto é, sem excedente e sem défice, no final da legislatura.
Mas, em relação à dívida pública, os dois parecem bastante alinhados. A AD espera que o rácio baixe para 96%, este ano, diminuindo para 80,2% do PIB, no final da legislatura. O PS vai mais além, apontando para uma redução da dívida para 95,1%, este ano, que deverá evoluir até aos 80,1%, em 2028.
Estarão então as projeções da AD em consonância com as estimativas das organizações internacionais? Analisando os dados mais recentes disponíveis da Comissão Europeia (CE), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e Fundo Monetário Internacional (FMI), verifica-se que, para este ano, nenhuma instituição projeta um crescimento do PIB acima de 1,5%: FMI aponta para 1,5% e CE e OCDE estimam 1,2%. Para 2028, apenas existem projeções do FMI que mostram a economia a crescer 1,9%. Nos anos anteriores, o PIB não evoluirá acima de 2,2%, de acordo com as mesmas instituições. Ora a AD estima um crescimento da economia bem mais alto, de 1,6%, este ano, e de 3,4%, no final da legislatura.
Quanto à taxa de desemprego, que a coligação de direita estima que baixe de 6,3% para 5%, nenhuma instituição internacional aponta para um rácio inferior a 6,2%. Neste ponto, o PS também é mais ambicioso do que as organizações, uma vez que indica que a taxa irá recuar para 5,7%, no final da legislatura.
Em relação ao saldo orçamental, a OCDE aponta para um excedente de 0,2% e o FMI para um défice de 0,1%, este ano, que irá evoluir para um saldo negativo de 0,2%, no final da legislatura. Também neste ponto, a AD é mais otimista, estimando um superávite de 0,8%, para este ano, e um saldo positivo de 0,2%, em 2028.
Sobre a dívida pública, que deverá diminuir de 96%, este ano, o para 80,2% do PIB no final da legislatura, segundo a AD, FMI e OCDE são bem mais pessimistas, estimando um rácio de 104% e 101,%, este ano, respetivamente. Em 2028, o FMI é a única instituição com projeções e aponta para um peso da dívida no PIB de 89,7%, acima das estimativas tanto da AD como de PS.
Ou seja, a afirmação de Pedro Nuno Santos está certa. Mas as projeções dos socialistas em relação à taxa de desemprego e à dívida pública também são bem mais ambiciosas do que as estimativas internacionais.
Conclusão: Certo.
Norte-Sul
À medida que se entra na reta final da campanha, os partidos começam a focar-se mais em Lisboa, o maior círculo eleitoral. PS, BE, PAN e Livre começaram o dia na capital, sendo que Pedro Nuno Santos seguiu depois para Setúbal, Mortágua para Aveiro e Inês Sousa Real para Santarém, onde estará a CDU.
Já o Chega passou o dia em Évora e a IL em Setúbal. Luís Montenegro, por sua vez, começou o dia em Aveiro e à tarde foi para Alcobaça e Caldas da Rainha.
Na quarta-feira, Pedro Nuno Santos volta a ficar por Lisboa, tal como Rui Tavares, indo também a Setúbal. Paulo Raimundo também vai a Setúbal e Évora, local escolhido também por André Ventura. O Chega tem ainda um jantar comício em Faro que contará com a presença de Santiago Abascal, líder do partido espanhol Vox.
É de notar ainda assim que o líder do Chega decidiu mudar a estratégia da campanha, que apenas previa três arruadas – duas das quais já realizadas, para contar com uma arruada por dia.
Pelo norte estão os restantes partidos, sendo que Montenegro tem marcadas ações em Viana do Castelo e Braga. Já IL, Bloco e PAN começam o dia em Braga, com Rui Rocha e Inês Sousa Real a seguir depois para o Porto.
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