“Espero ter o mínimo de problemas geopolíticos, mas não os ignoro”, diz novo chairman da EDP
António Lobo Xavier diz que diversidade da EDP a nível global, incluindo acionistas variados com perspetivas diferentes, é "difícil de gerir". Mas acredita que tem o perfil certo para criar consensos.
Eleito em abril para presidir ao Conselho Geral e de Supervisão (CGS) da EDP EDP 0,00% , António Lobo Xavier reconhece que o órgão é “difícil de gerir” e que tem de ter em atenção os acionistas, que no caso da energética têm perspetivas, pretensões, preocupações e perfis culturais diferentes.
Questionado, em entrevista ao site da EDP, sobre as prioridades do mandato, Lobo Xavier começou por responder que o CGS “tem funções raras no contexto português”. “Este órgão mistura responsabilidades de conselho de administração, com responsabilidades de conselho fiscal, com responsabilidades de assembleia geral”, explica. “É muito difícil de gerir, são funções muito variadas”.
Sublinha que tem de “ter em atenção os acionistas e de ver as suas pretensões e preocupações, gerir a informação e a discussão com eles”, além de colaborar com os executivos, não só para conhecer o negócio, mas também para participar na definição da estratégia a médio e longo prazo.
Segundo o site da EDP, a China Three Gorges, controlada pelo Estado chinês, é a maior acionista da empresa, com 21,01% do capital. Em segundo lugar está a Oppodium Capital (detida em 55,9% pela espanhola Masaveu Internacional, com os restantes 44,1% a pertencerem ao Liberbank) com 6,83% e em terceiro a norte-americana BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, com 6,33%.
“A EDP tem uma enorme diversidade, o que é uma ajuda”, afirma Lobo Xavier, vincando que se as coisas estão a correr mal num lado, podem estar a correr bem no outro. “Mas é algo muito difícil de gerir. Não quero exagerar, mas em grande medida, uma parte do mundo está em pré-guerra. Todos os negócios com exposição a muitas geografias têm o drama da geopolítica. A EDP também. Depois também temos acionistas variados, com perspetivas diferentes sobre o mundo“.
“Espero ter o mínimo de problemas geopolíticos, mas não os ignoro”, diz o chairman. Salienta que escala global da EDP é algo a que está habituado, sobretudo na experiência na embalagem de vidro, BA Glass, onde foi administrador, numa empresa que tem presença no México, Roménia, Bulgária, Polónia, Grécia, Espanha, Portugal e já teve o Brasil. “Estou habituado a perceber as diferenças das jurisdições: do sistema legal, do sistema de pensamento, do sistema cultural”, afirma.
“Eu julgo que o que se espera de mim – que tenho experiência política e até fiz parte de um Conselho de Estado – é que tenha alguma capacidade para proteger os interesses da EDP em presença de tantas diferenças” explica. “Quer das jurisdições, quer até dos estilos e dos perfis culturais de acionistas, e dos perfis culturais dos colaboradores“.
Em relação à transição energética, Lobo Xavier diz que é preciso convencer os stakeholders que o percurso continua a ser importante. “Nós estamos numa situação internacional em que há, novamente, enormes forças de recuo – o mundo do oil & gas está com mais força hoje, paradoxalmente, do que tinha há dois anos”, aponta. “Isso é fruto de várias razões, entre elas a incerteza do mundo, das crises económicas, as guerras, a própria pandemia e as dificuldades geopolíticas”.
Recorda que e EDP estava na linha da frente da transição energética, “levava a bandeira, de repente para o mundo, isso já não é um valor assim tão aceite“.
“Há muitas pressões para que se proteja um valor de curto prazo recuando na passada da transição energética” e esse é um dos grandes desafios: “convencer os stakeholders da EDP de que o trajeto continua a ser importante, mesmo do ponto de vista da criação de valor”.
“Já não se trata apenas de uma missão de salvar o mundo, é também uma missão de se contribuir para a sustentabilidade do mundo, mas produzindo valor Isso hoje nem sempre está claro”, conclui.
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