Exclusivo Presidente do Supremo Tribunal Administrativo avisa: “Problema da imigração é dramático e crueldade absoluta”
Presidente do Supremo Tribunal Administrativo, Dulce Neto, pede resolução urgente para os imigrantes com medidas legislativas, sob pena de "paralisar" o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa.
Todos os dias, entram no Tribunal Administrativo de Lisboa 100 processos de intimação de pedidos de imigrantes para autorização ou renovação de residência, uma situação que a presidente Supremo Tribunal Administrativo (STA) classifica de dramática e para a qual não tem meios humanos suficientes para processar. Os números foram revelados pela juiza-conselheira Dulce Neto no encerramento da 7ª edição da Advocatus Summit que decorreu esta semana, em Lisboa, no Estúdio ECO. “Não estamos a falar de refugiados, não estamos a falar de pedidos de asilo, Estamos a falar de pessoas imigrantes, muitos dos quais estão já com contrato de trabalho, mas precisam de autorização de residência ou de renovação dessa autorização“, explicou a presidente STA.
A 31 de março deste ano, o Tribunal de Círculo de Lisboa – que recebe todos esses pedidos – tinha 1.465 processos pendentes. Só no mês de abril entraram mais 1.326, estando neste momento pendentes mais de 3.200 processos. Mas o panorama vai piorar. Segundo a Agência para a Integração para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) estão para dar entrada no Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa 350 mil processos.
O problema é dramático. É um problema de direitos humanos e uma crueldade absoluta e que tem que ser resolvido com urgência, a montante do poder judicial, com medidas legislativas, sob pena de este Tribunal Administrativo ficar absolutamente congestionado e paralisado com este tipo de processos de caráter muito sério. E não temos simplesmente meios humanos para o efeito.
“O problema é dramático. É um problema de direitos humanos e uma crueldade absoluta e que tem que ser resolvido com urgência, a montante do poder judicial, com medidas legislativas, sob pena de este Tribunal Administrativo ficar absolutamente congestionado e paralisado com este tipo de processos de caráter muito sério. E não temos simplesmente meios humanos para o efeito“.
Veia o vídeo com as declarações de Dulce Neto.
Processos pendentes fiscais nos TAF caíram 15% no ano passado
Outro dos aspetos realçados pela presidente do STA – cujo mandato termina em outubro e não pode ser renovado – tem sido a melhoria do número de processos pendentes que “tem vindo a melhorar nestes três últimos anos”, com as pendências a diminuir gradualmente, estando já abaixo dos 30.000 processos em matéria tributária e em cerca de 20.000 processos em matéria administrativa.
“Ao todo, perto de 49.000 processos. Esta é a boa notícia e que se deve essencialmente ao esforço de cerca de 240 juízes, atualmente em efetividade de funções nos tribunais de primeira instância, o que já representa uma média de dois juízes por 100.000 habitantes”, explicou a magistrada.
Segundo dados da Direção-Geral de Políitca de Justiça (DGPJ), o número de processos de natureza fiscal pendentes nos tribunais administrativos e fiscais (TAF) caiu no ano passado para os 29.608, menos 14,8% que no ano anterior e uma redução de cerca de 25% face aos números de 2015, quando os processos à espera de resolução atingiram números acima dos 50 mil.
“Depois de décadas de desatenção e desinvestimento político nestes tribunais que geraram as tais pendências invisíveis, com o volume de processos em primeira instância que em 2015 ascendia a mais de 75.000 processos, dos quais 53.791 processos só na área tributária, foi decisiva a atenção que a senhora Ministra Francisca Van-Dúnem e a Senhora Ministra Catarina Sarmento e Castro votaram a estes tribunais numa dinâmica sem precedentes”, disse Dulce Neto.
As estatísticas da Direção-Geral de Política da Justiça (DGPJ) mostram que se o número de processos findos estabilizou nos últimos três anos, na ordem dos 15 mil processos ano, os novos processos entrados têm vindo a recuar ligeiramente. Em 2023 foi menos cerca de um milhar, mais ou menos a diferença registada em 2022 face ao ano anterior.
Já no que toca à jurisdição administrativa, o número de processos administrativos pendentes nunca chegou a números tão elevados como se registou na parte fiscal, mas mantém-se estável, nos cerca de 20 mil pendentes.
Olhando para a taxa de resolução – que permite medir a capacidade de resposta dos tribunais face aos novos processos entrados – verifica-se que, no ano passado, foi de 120,2%, em média, para ambas as jurisdições, fiscal e administrativa. Isto significa que o número de findos ultrapassou o número de entrados, evidenciando que processos pendentes, transitados de anos anteriores, foram terminados, mas, sublinha-se, isso aconteceu, sobretudo, do lado dos processos tributários.
“Este corpo tão reduzido de magistrados tem atingido taxas de resolução processual bastante superiores a 100%. E isto significa que findam em cada ano mais processos de que os processos entrados em cada ano“, concluiu a juíza conselheira.
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