Analistas otimistas perante prejuízos da Greenvolt. Empresa espera ano “muito melhor” que 2023
"A expectativa de significativas melhorias até ao final deste ano aparenta ser fundamentada", tendo em conta o portefólio "robusto", entende o Banco Carregosa.
Os analistas olham para o prejuízo de quase três milhões que a Greenvolt apresentou no primeiro trimestre como um resultado que não mancha as perspetivas de um futuro promissor. Apesar de alguns riscos no horizonte, como é o caso dos preços da eletricidade no Reino Unido, o desenvolvimento da atividade parece trazer confiança ao setor financeiro.
“Os resultados de um único trimestre não deverão impactar todo o seu potencial [da Greenvolt]. Para além disso, a posição financeira da empresa não demonstra, por enquanto, sinais alarmantes” e “a capacidade de gerar lucros futuros perdura no seu horizonte”, prevê o analista da XTB, Vítor Madeira. O Banco Carregosa, na voz do responsável de Trading João Queiroz, reforça que “embora o prejuízo do primeiro trimestre possa criar apreensão e poder constituir uma preocupação inicial, a análise detalhada e o contexto fornecido pela empresa indicam que são esperadas melhorias substanciais nos trimestres subsequentes“.
A Greenvolt apresentou um prejuízo de 2,7 milhões de euros no primeiro trimestre de 2024, abaixo dos 300 mil euros de lucro obtidos no mesmo período do ano anterior. Os resultados foram divulgados na terça-feira através de um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Queiroz realça que os resultados dos três primeiros meses terão sido impactados, sobretudo, por fatores sazonais e específicos, como a baixa nos preços de eletricidade no Reino Unido e a suspensão de duas unidades de biomassa em Portugal, “que constituem fatores temporários e não refletem necessariamente o desempenho esperado para o restante do ano”.
O CEO do grupo Greenvolt, João Manso Neto, indicou numa chamada com analistas a propósito da apresentação das contas que “os resultados eram realmente esperados porque o primeiro trimestre é fraco”, reforçando o argumento da sazonalidade, e afirmou-se mesmo confiante de que, no conjunto de 2024, a empresa irá apresentar resultados “muito melhores” que em 2023. A Greenvolt apresentou um resultado líquido de 1,2 milhões de euros no ano passado, uma quebra de 92,9% face ao ano anterior.
Operação dá bons sinais
“A expectativa de significativas melhorias até ao final deste ano aparenta ser fundamentada“, tendo em conta o portefólio “robusto”, a expansão e diversificação de ativos, a estrutura financeira sólida e um mercado favorável, considera João Queiroz.
Pela positiva, as receitas operacionais subiram quase 60%, embora os custos operacionais vejam um aumento muito superior, de 106,8%. Esta diferença levou a que as margens fossem “drasticamente reduzidas”, ao mesmo tempo que a empresa decidiu incorporar nestes resultados as perdas por imparidade de um negócio na Polónia de 3,9 milhões.
“Esta perda assumida será menos uma preocupação para a empresa no futuro enquanto expande as suas áreas de produção”, já que, no entender da XTB, está a “olhar para os respetivos investimentos numa ótica de longo prazo”.
A Greenvolt incrementou a sua carteira de projetos para 8,8 gigawatts (GW), com 2,9GW prontos para construção e 4,3GW esperados até o final do corrente ano. “Este crescimento significativo indica um aumento substancial na capacidade de geração futura e potencial de receita“, sublinha o porta-voz do Banco Carregosa.
O relatório dos resultados assinala que estão em curso quatro processos de venda de solar de grande escala, dois dos quais já com propostas vinculativas e dois com um proponente preferencial, que se espera estejam concluídos durante este ano.
No segmento de geração distribuída, a capacidade instalada aumentou 47% face ao ano anterior. A expectativa de que até ao final do ano este segmento passe a ter um contributo positivo para o EBITDA parece realista da ótica do Banco Carregosa, tendo em conta a crescente procura por energia solar distribuída.
No dia da apresentação de resultados, a Greenvolt aproveitou para anunciar a compra de uma unidade de biomassa no Reino Unido. A empresa adquiriu uma participação de 100% na Kent Renewable Energy, uma central de cogeração a biomassa, num investimento de cerca de 230 milhões de euros que “deverá representar uma “fonte adicional de receitas estáveis para o grupo”, lia-se no relatório dos resultados. “Estas aquisições e novos projetos diversificam a base de ativos da empresa e podem contribuir adicionalmente à formação de receita”, entende Queiroz.
Preços da luz, licenças e biomassa representam riscos
Apesar da visão otimista apresentada pelos analistas, estes também têm riscos a assinalar. Entre as “incertezas a serem monitorizadas” e que “podem afetar o desempenho financeiro” estão a capacidade de recuperação no segmento de biomassa e a queda nos preços da eletricidade no Reino Unido, que desceram 49% em comparação com o primeiro trimestre de 2023, identifica João Queiroz. “Embora esta cotada estime uma recuperação, a volatilidade nas cotações da eletricidade podem constituir um desafio numa trajetória de desinflação”, remata. Já na chamada com analistas, João Manso Neto considerou que “o novo desenho do mercado [de eletricidade] aponta para uma estabilidade de longo prazo”.
Com menos impacto mas como outro fator a estar atento, Queiroz aponta os atrasos na conclusão de projetos devido a questões climáticas e de licenciamento na geração distribuída, que podem impactar negativamente no curto prazo. “As barreiras estruturais na obtenção de licenças e permissões continuam a constituir um desafio“, aponta.
Bolsa acomoda novidades
“Enquanto os resultados do primeiro trimestre podem gerar algum conservadorismo e ceticismo numa potencial reação negativa a curto prazo, a estratégia de crescimento pode sustentar ou melhorar a avaliação da empresa no mercado a longo prazo, desde que esta cotada consiga cumprir suas expectativas para este ano de 2024″, considera João Queiroz.
Esta terça-feira, a Greenvolt fechou a sessão na bolsa nacional com a cotação inalterada nos 8,3 euros. Na análise de Vítor Madeira, os resultados do primeiro trimestre “não deverão ter qualquer impacto, visto que a aquisição da Greenvolt está num processo final e as ações deixarão de estar em circulação”. O analista realça que os títulos da Greenvolt fecharam a sessão nos 8,30 euros, precisamente o valor acordado que seria pago aos acionistas. Além disso, “se a empresa não tivesse potencial não teria sido adquirida pelo fundo KKR“, defende.
Em junho, a KKR concluiu os acordos de compra de ações dos acionistas maioritários da Greenvolt, converteu as suas Greenvolt Convertible Bonds 2030 em ações e adquiriu ações no mercado, tornando–se o maior acionista da Greenvolt com 83,62% do capital social.
Queiroz também entende que a conversão das obrigações da KKR em participação de capital, assim como “a manutenção de uma robusta liquidez” indicam “uma base financeira mais sólida”, pelo que a empresa poderá estar melhor posicionada para financiar seu plano de crescimento.
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