Novo presidente da SATA quer acabar com “má gestão” e rejeita mais aviões como o “Cachalote”
Rui Coutinho admitiu que “o caminho será difícil, por vezes tortuoso”, pois “todas as empresas do grupo estão tecnicamente falidas há muitos anos”. Gestor defende um aumento do tarifário.
O novo presidente do conselho de administração da SATA, Rui Coutinho, considerou esta sexta-feira que houve “muita má gestão” na companhia aérea durante “muitos anos” e não quer mais aviões como a aeronave “Cachalote”. Para Rui Coutinho, “foram cometidos demasiados erros por diversos responsáveis, cujos efeitos influenciam a prestação atual” e “continuarão a condicionar todas as decisões e toda a gestão diária e estratégica do grupo”.
O gestor foi ouvido na Comissão da Economia da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, reunida em Ponta Delgada, após a sua indigitação pelo Governo dos Açores para presidente do conselho de administração da SATA Holding, S.A.. “Houve muita má gestão durante muitos anos na SATA”, frisou, acrescentando que quer “salvar a SATA”.
O presidente recém-indigitado admitiu que “o caminho será difícil, por vezes tortuoso”, pois “todas as empresas do grupo estão tecnicamente falidas há muitos anos” – o grupo, acrescentou, “apresenta uma situação económica e de tesouraria extremamente delicada, com dificuldades imediatas e a prazo”.
Rui Coutinho afirmou que a companhia pública açoriana “tem uma estrutura muito pesada”, de acordo com o seu organigrama, com “diretores para muita coisa”, e propôs-se a “ver quais as rotas que são deficitárias e eliminar, para redução de custos”. “Não há tempo para gastar dinheiro com rotas deficitárias”, declarou, indicando que pretende também reduzir os voos no designado regime ACMI (aluguer de aviões e tripulações) “ao mínimo indispensável”.
O novo representante quer “ganhar eficiências e maximizar os recursos humanos e materiais na companhia”, o que “neste momento não é feito”, bem como promover vendas a bordo, cobrar por bagagem adicional e encerrar lojas, transitando o pessoal para os aeroportos, para apoiar os passageiros. O gestor não quer “mais ‘Cachalotes’ ou aviões daquela dimensão”, recusando leasings de aeronaves “extremamente caras”.
O aluguer do avião Airbus A330 para integrar a frota da SATA em 2016 motivou buscas realizadas em 18 de junho pela Polícia Judiciária (PJ) nas instalações da companhia aérea, conforme revelou à agência Lusa fonte da empresa no mês passado. O contrato de leasing custou à SATA mais de 40 milhões de euros, tendo o aparelho ficado parado durante dois anos, devido aos elevados custos de manutenção, segundo um ofício do Governo dos Açores revelado em março de 2021.
Rui Coutinho afirmou que as novas rotas “têm que ser muito bem fundamentadas” e quer aumentar os voos charters no período de inverno, “como forma de reduzir e diluir os custos fixos que a empresa tem”. No quadro da salvaguarda da empresa, o gestor defende um aumento do tarifário “em função da inflação, como consta das obrigações de serviço público”. “Não se pode estar com valores de 2015”, sublinhou.
No âmbito de privatização da Azores Airlines (responsável pelas ligações de e para fora do arquipélago, integrada no Grupo SATA), há que “melhorar os rácios e indicadores”, que “estão bastante desfasados do que era o plano de reestruturação aprovado por Bruxelas”. A Azores Airlines obteve um prejuízo de 25,6 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, face a 22,7 milhões negativos do período homólogo, enquanto a SATA Air Açores (responsável pelas ligações entre as ilhas) melhorou as perdas para 4,7 milhões de euros.
Em 2 de maio, o Governo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM) cancelou o concurso de privatização da companhia aérea Azores Airlines, anunciando a intenção de lançar um novo procedimento. O executivo alegou que a companhia estava avaliada em seis milhões de euros no início do processo e vale agora 20 milhões.
Em junho de 2022, a Comissão Europeia aprovou uma ajuda estatal portuguesa para apoio à reestruturação da companhia aérea de 453,25 milhões de euros em empréstimos e garantias estatais, prevendo medidas como uma reorganização da estrutura e o desinvestimento de uma participação de controlo (51%).
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