‘Índice do medo’ dispara 122% e atira bolsas para o vermelho
As principais bolsas estão a negociar com fortes correções e um elevado nível de volatilidade, que é visível pela subida de 100% do VIX nos EUA e quase 50% do Vstoxx na Europa, para níveis históricos.
Os mercados financeiros estão a atravessar um período de grandes correções e de forte volatilidade. O nervosismo dos investidores é notado pela subida de 122% do VIX esta segunda-feira.
Também conhecido como o “índice do medo”, o VIX está a negociar nos 52 pontos, o valor mais elevado desde abril de 2020 e 2,6 vezes acima da média dos últimos dez anos. Este aumento abrupto no “índice do medo”, que mede a volatilidade esperada do mercado do índice S&P 500 nos próximos 30 dias com base nos preços das opções do índice norte-americano, reflete atualmente um nível de nervosismo e de preocupação dos investidores semelhante ao observado no início da pandemia de Covid-19.
A acompanhar este movimento está também o Vstoxx, uma espécie de “irmão mais velho” do VIX para o mercado europeu com base na negociação das opções sobre o índice Euro Stoxx 50, que esta segunda feita negoceia com uma subida de quase 50% para o valor mais elevado desde maio de 2022 e com a maior subida desde novembro de 2021.
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O disparo da cotação dos dois índices do medo na sessão desta segunda-feira reflete a crescente incerteza entre os investidores, que foi exacerbada pela queda acentuada do índice japonês Topix esta segunda-feira, que encerrou a afundar 12,2%, após ter registado uma queda de 5,4% na sexta-feira.
A queda do Topix, que representa uma das maiores quedas diárias desde a “Segunda-feira negra” de 1987, teve repercussões imediatas nos mercados europeus e americanos. O índice pan-europeu STOXX 600 está a negociar no vermelho com uma queda de 3%, atingindo o seu nível mais baixo desde fevereiro deeste ano, enquanto os principais índices de ações na Alemanha, França, Reino Unido e Espanha também registaram quedas superiores a 3% — Lisboa negoceia a cair 2,67% com todos os títulos no vermelho.
Em Wall Street, que abre em dentro de pouco mais que uma hora, os principais índices preparam-se para arrancar em forte queda. Os contratos de futuros do S&P 500 apontam para uma abertura em queda de 3,3% do principal índice acionista dos EUA, após ter fechado a perder 1,8% na sexta-feira.
Os futuros do Nasdaq-100 apontam para uma queda de 5%, com as grandes tecnológicas a serem fortemente penalizadas, e os futuros do Dow Jones Industrial Average (Dow) estão a cair 900 pontos, ou 2,3%, após uma perda de 611 pontos na sexta-feira.
Entre os títulos mais penalizados estão as empresas a operar na indústria da inteligência artificial, com as ações da Nvidia a apresentarem uma queda de 13% no pré-mercado esta segunda-feira, após já terem registado uma queda de mais de 25% desde o seu recente máximo.
A Apple está a negociar a poucas horas da abertura da bolsa com uma queda de 8% após a Berkshire Hathaway de Warren Buffett ter reduzido a sua participação para metade, e a Testa afunda quase 9%. Este cenário pinta um quadro sombrio para os mercados, com os investidores a navegarem num mar de incertezas económicas.
Recessão nos EUA?
Além das ações, praticamente todos os ativos estão também em queda. O ouro, tradicionalmente visto como um refúgio seguro, está a cair 2,2%, situando-se nos 2.3 90 dólares por onça. O petróleo também está em queda, com o Brent, que serve de referência à Europa, está a cair quase 2% para 75,3 dólares por barril. Até a Bitcoin, que é tantas vezes vista como um ativo de fuga, não escapa à onda vermelha e acumula perdas de 16% esta segunda-feira, negociado perto dos 51 mil dólares, o valor mais baixo desde fevereiro.
A sustentar o comportamento de queda generalizada está uma fuga dos investidores de ativos de risco, temendo uma possível recessão nos EUA. A recente divulgação de dados económicos fracos, incluindo um relatório sobre a saúde do mercado de trabalho que mostrou a criação de apenas 114 mil postos de trabalho em julho, 35% abaixo das expectativas do mercado, aumentou as preocupações sobre a saúde da maior economia do mundo, levando a um “sell off” de ações, particularmente de tecnológicas que, nos últimos tempos, têm acumulado os maiores ganhos.
Segundo a Bloomberg, os traders atribuem mesmo uma probabilidade de 60% a uma redução de 25 pontos base na taxa de juros pela Fed dentro de uma semana, apesar de a decisão mais recente do banco central ter sido anunciada há apenas alguns dias, com os governadores da Fed a decidirem-se pela manutenção das Fed Funds.
Os receios dos investidores sobre a saúde do mercado norte-americano são de tal ordem que há expectativa de que a Reserva Federal norte-americana (Fed) possa realizar um corte de emergência das taxas de juro.
Segundo a Bloomberg, os traders atribuem mesmo uma probabilidade de 60% a uma redução de 25 pontos base na taxa de juros pela Fed dentro de uma semana, apesar de a decisão mais recente do banco central ter sido anunciada há apenas alguns dias, com os governadores da Fed a decidirem-se pela manutenção das Fed Funds no intervalo 5,25%-5,5% e com Jerome Powell, presidente da Fed, a abrir a portar ao primeiro corte na reunião de setembro.
Este ambiente está a gerar ganhos apenas nas obrigações, particularmente nos títulos de dívida soberana, com os investidores a aproveitaram “a última oportunidade” para tomarem posições com yields destes valores. Isso é visível tanto nas obrigações do Tesouro dos EUA a 10 anos, que esta segunda-feira acumulam uma valorização de 0,4% com a yield a situar-se nos 3,74% quando há um mês estavam a negociar com uma taxa média de 4,28%, como também nos títulos do Tesouro português com a mesma maturidade, que acumulam uma valorização de 0,45%, com a yield a negociar nos 2,83%.
A possibilidade de cortes nas taxas de juros pela Fed e BCE está a gerar uma incerteza adicional ao mercado que continua a lidar com um escalar das tensões geopolíticas, particularmente no Médio Oriente, agora com um iminente ataque do Irão e do Hezbollah a Israel nas próximas 24 a 48 horas, como retaliação ao assassinato do líder do Hamas na sua residência em Teerão há uns dias, segundo declarações de Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, junto dos responsáveis do G7.
A situação atual dos mercados é um lembrete da volatilidade inerente aos mercados financeiros globais, especialmente em tempos de incerteza económica. Enquanto esse sentimento não desvanecer, as ações continuarão a ser penalizadas, desde logo por acumularem ganhos expressivos ao longo do ano: mesmo já descontando estes comportamentos dos últimos dias, o japonês Topix acumula ganhos de 8,5% este ano, em euros; o pan-europeu Stoxx 600 acumula uma valorização de 3,8% e o norte-americano S&P 500 regista uma subida de 13% desde o início do ano, também em euros.
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