Verbas do fundo de compensação incentivam empresas a dar formação aos trabalhadores

Dos oito milhões já levantados do FCT pelos empregadores, maior parte serviu para apoiar formação. Diretor-geral da escola FLAG revela que há maior abertura das empresas para investir em formação.

Os empregadores portugueses estão a usar as verbas do Fundo de Compensação do Trabalho, sobretudo, para dar formação aos seus trabalhadores. Os dados disponibilizados ao ECO pelo Ministério do Trabalho já o tinham sinalizado e agora o diretor-geral da FLAG – uma escola dedicada à formação em design, marketing digital e comunicação – vem adiantar que, à boleia deste fundo, tem notado uma “crescente interesse e capacidade” das empresas em investir na formação dos seus trabalhadores.

“As empresas estão mais disponíveis para dar formação aos seus profissionais, cientes da importância destas ações para o sucesso do negócio, para a inovação da organização, para a capacidade de respostas aos grandes desafios que se levantam. A forma como estão a aceder ao Fundo de Compensação do Trabalho é bem exemplificativa desta dinâmica e motivação“, sublinha Gabriel Augusto, em declarações ao ECO.

Na visão deste especialista, a formação começa a ser percebida como um trunfo não apenas para que as empresas sejam mais produtivas e competitivas, mas também para atrair e reter talento.

Além disso, o diretor-geral avança que muitas empresas têm procurado não só atualizar as competências de que os profissionais já dispõem, como também muni-los de novas habilidades, preparando-os para os desafios do futuro. “Dessa forma, garante-se uma força de trabalho mais qualificada e adaptada às exigências do mercado”, argumenta o responsável.

Quanto às competências mais destacadas, neste momento, Gabriel Augusto ressalva que “tudo depende do setor e da dimensão da organização“, daí a importância dos programas feitos à medida que a FLAG tem disponibilizado às empresas.

Ainda assim, há a realçar, avança, que há áreas mais quentes transversais em termos de formação, como a liderança, a resolução de problemas com design thinking, a gestão de projeto, a inovação e gestão e mudança, bem como o marketing digital, a análise de dados e a inteligência artificial.

Quando toda a equipa tem acesso a novas competências, a capacidade de inovação da empresa é significativamente otimizada. Com uma formação diversificada, a empresa torna-se mais resiliente.

Gabriel Augusto

Diretor-geral da FLAG

O diretor-geral acrescenta também que a formação tem sido dada não apenas às lideranças, mas à globalidade da força de trabalho, de modo a “garantir que todos os membros da organização estão capacitados e alinhados com as novas competências e tecnologias”.

“Ao garantir uma ampla formação transversal, as empresas garantem que toda a equipa está devidamente atualizada, com uma clara cultura de colaboração onde todos os membros da equipa podem contribuir de maneira mais eficaz e integrada. A capacidade de inovação da empresa é significativamente otimizada“, salienta Gabriel Augusto.

O responsável afirma ainda que a formação é uma forma de reforçar a resiliência das empresas, admite que há custos associados que não podemos ignorar, mas atira: “O reconhecimento da formação como um investimento com retorno e não apenas um custo tem vindo a crescer, destacando-se cada vez mais a sua importância numa estratégia viável e de futuro.”

O Fundo de Compensação do Trabalho foi criado durante o período da troika para cobrir uma parte das compensações por despedimento. Foi, contudo, convertido recentemente. E os 600 milhões que aí estavam têm estado agora à disposição dos empregadores que para ele descontaram.

Segundo adiantou ao ECO o Ministério do Trabalho, desde fevereiro foram levantados mais de oito milhões de euros, dos quais 5,1 milhões de euros para apoiar a formação dos trabalhadores.

Cheque de formação digital com “procura bastante elevada”

Gabriel Augusto é diretor-geral da escola FLAG.

Fora do âmbito das empresas, os trabalhadores podem por eles próprios apostar na sua formação com o apoio, nomeadamente, do cheque de formação digital, que lhes garante até 750 euros a quem faça programas em áreas como cibersegurança e o marketing digital.

Aquando da abertura das candidaturas desta medida, o diretor-geral da FLAG já tinha adiantado ao ECO que a procura estava a ser forte e agora, quase um ano depois, garante que tem sido mesmo “bastante elevada“. “Acreditamos que tem permitido o acesso a formação a muitos indivíduos que, de outra forma, poderiam ficar excluídos dado a constrangimentos financeiros”, declara o responsável, deixando elogios a esta iniciativa.

Apesar de ter gerado muito interesse, o cheque de formação digital tem afastado alguns candidatos por causa dos custos, isto é, o tal cheque de 750 euros só chega às mãos do trabalhador após a conclusão da ação de formação, o que significa que este tem de adiantar a verba e só depois é reembolsado.

Esses constrangimentos nunca são positivos, em especial junto dos interessados que tenham maiores dificuldades financeiras para fazer face a ações deste cariz.

Gabriel Augusto

Diretor-geral da FLAG

“Esses constrangimentos nunca são positivos, em especial junto dos interessados que não exercem atualmente quaisquer funções profissionais ou de baixo perfil, ou seja, que tenham maiores dificuldades financeiras para fazer face a ações deste cariz”, comenta Gabriel Augusto.

Do lado do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), numa conferência no final de outubro, Luís Manuel Ribeiro avisou os candidatos que não precisam de correr qualquer risco, uma vez que podem apresentar uma candidatura para uma ação de formação ainda por iniciar e só avançar com ela quando tiverem o “sim”, que tem de ser dado até 30 dias após a apresentação da candidatura.

Também o então secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, realçou os riscos diminutos deste modelo e explicou que o Governo de António Costa escolheu não avançar com o pagamento prévio das ações uma vez que tal exigiria uma estrutura burocrática bem mais robusta.

Os dados mais recentes disponibilizados ao ECO revelam que só 1.417 candidaturas ao cheque de formação digital receberam “luz verde” até agora. A meta era chegar aos 25 mil formandos até setembro do próximo ano, de acordo com o acordado com Bruxelas no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, que financia a medida.

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