Esforço financeiro das famílias para arrendar casa dispara em menos de três anos

Desde 2021 que as rendas contratadas das casas aumentaram mais do triplo que os salários, dificultando ainda mais as finanças das famílias. Isso foi particularmente sentido em Matosinhos e Guimarães.

O mercado de arrendamento, tal como sucede com o mercado de compra e venda de casas, continua a mostrar sinais de enorme vitalidade. Apesar de o portal imobiliário Idealista ter revelado um aumento expressivo do número de casas no mercado de arrendamento no primeiro e no segundo trimestre, aumentando assim a oferta, as rendas continuam a aumentar.

Segundo dados do Confidencial Imobiliário, se em 2021 as rendas contratadas em Portugal continental tinham um preço médio de 9,9 euros por metro quadrado, este ano apresentam um preço de 14,4 euros. Numa casa de 70 metros quadrados, por exemplo, trata-se de uma diferença de 315 euros por mês no espaço de dois anos e meio, com a renda média a passar de 693 euros em 2021 para mais de 1000 euros este ano, de acordo com cálculos do ECO.

Entre os concelhos com mais de 100 mil habitantes, Lisboa e Cascais continuam a praticar as rendas mais elevadas, com os novos contratos a serem contratualizados por 19,3 euros por metro quadrado na capital e 18,6 euros em Cascais. No entanto, estas não são as autarquias onde as rendas mais aumentaram nem onde o esforço financeiro dos seus residentes mais cresceu desde 2021.

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A passagem de 2023 para 2024 trouxe um aumento das rendas como há muito não se via. Se, por um lado, as rendas dos contratos já existentes puderam aumentar até 6,94%, por o Governo não ter aplicado qualquer travão à atualização das rendas para 2024, por outro, o valor mediano dos novos contratos de arrendamento de alojamentos familiares disparou 10,5% no primeiro trimestre face ao mesmo período de 2023, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Esta realidade, aliada a uma subida homóloga de apenas 7% dos salários no primeiro trimestre ou mesmo com uma subida de 8,9% dos rendimentos das famílias no segundo trimestre, traduz-se num crescente aumento da dificuldade de arrendar casa em Portugal por parte da maioria das famílias.

Esta dinâmica não é propriamente nova: enquanto as rendas médias aumentaram a um ritmo médio anual de 16,2% entre 2021 e o primeiro semestre deste ano, o rendimento mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem aumentou apenas 5,21% ao ano. Significa que desde então o esforço financeiro agravou-se consideravelmente.

Enquanto as rendas e os preços das casas continuam a escalar, os salários parecem estar presos num compasso de espera, incapazes de acompanhar o ritmo da subida dos custos de ter casa.

De acordo com cálculos do ECO, se em 2021 a renda de uma casa de 65 metros quadrados consumia um terço dos rendimentos de um casal de trabalhadores por conta de outrem, atualmente a renda de uma casa com as mesmas dimensões absorve, em média, cerca de 42% do rendimento mensal desse agregado familiar.

Esta situação tornou-se particularmente complicada nos concelhos de Matosinhos e Guimarães, em que a taxa de esforço para arrendar casa aumentou mais de 1,35 vezes desde 2021, quando na média dos 23 concelhos mais populosos de Portugal continental esse aumento foi de 1,28 vezes.

Em Matosinhos, por exemplo, se a renda média de uma casa de 100 metros quadrados arrendada em 2021 era equivalente a 47% dos rendimentos de um casal trabalhador por contra de outrem, no primeiro semestre deste ano, um contrato de arrendamento de uma casa também de 100 metros quadrados traduz-se numa renda equivalente a 65% do rendimento desse agregado familiar.

No canto oposto estão Leiria e Amadora que, nos últimos dois anos e meio, apesar de também terem registado um aumento das rendas acima da atualização dos salários, registaram um diferencial menor em comparação com os restantes concelhos, fazendo com o que o esforço financeiro para arrendar casa tivesse aumentado apenas 1,15 vezes em Leiria e 1,2 vezes no concelho da Grande Lisboa.

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Portugal é tradicionalmente um país de proprietários. Os últimos dados conhecidos, publicados no Census 2021, revelam que sete em cada dez alojamentos familiares clássicos de residência habitual eram ocupados pelos seus proprietários em 2021, enquanto apenas três encontravam-se em arrendamento ou noutras situações.

A pouca dinâmica do mercado de arrendamento no passado e a maior facilidade para comprar casa através de crédito à habitação a partir da década de 1980 com a queda a pique das taxas de juro ajudam a explicar estas estatísticas.

Mas enquanto as rendas e os preços das casas continuam a escalar, os salários parecem estar presos num compasso de espera, incapazes de acompanhar o ritmo da subida dos custos de ter casa. Esta situação transforma o sonho de ter uma casa num desafio financeiro crescente, onde as famílias se veem a gastar uma parcela cada vez maior dos seus rendimentos em habitação.

Neste contexto, a habitação em Portugal emerge como um tema crítico, onde a retórica de um mercado dinâmico contrasta fortemente com a realidade enfrentada por muitas famílias.

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