Aceleração da economia da Zona Euro adiada para o quarto trimestre

Esperanças de uma rápida recuperação da economia da zona euro no verão são prematuras, segundo os analistas, que identificam aumento dos riscos negativos em torno da atividade económica.

A economia da zona euro deverá manter um ritmo de crescimento tímido no terceiro trimestre deste ano, penalizada por uma indústria a perder gás em diversos países da moeda única. Após um crescimento de 0,3% no segundo trimestre na comparação face ao primeiro trimestre, os analistas apontam agora para um aumento dos riscos negativos nas previsões do Produto Interno Bruto (PIB) em países como a Alemanha.

“Os riscos negativos para muitas das nossas previsões de crescimento do PIB no terceiro trimestre estão a aumentar – especialmente para os 0,1% em termos trimestrais que esperamos para a Alemanha, mas em menor grau também para o resto da Zona Euro“, aponta Salomon Fiedler, economista do Berenberg.

Apesar da Zona Euro ter surpreendido no início do ano, com um crescimento ligeiramente acima do esperado (0,3% em cadeia nos dois primeiros trimestre e 0,6% e 0,5% em termos homólogos no segundo e primeiro trimestre, respetivamente), “as esperanças de uma rápida recuperação parecem prematuras“, considera Bert Colijn, economista sénior do ING.

Um olhar global para a economia da Zona Euro não é à primeira vista totalmente desencorajador. O índice composto de gestores de compras da Zona Euro (PMI, na sigla em inglês), que inclui indústria e serviços, publicado na quinta-feira, subiu para 51,2 em agosto, face a 50,2 em julho, acima do esperado pelos analistas, apontando para uma expansão económica.

Contudo, este aumento deve-se sobretudo à ajuda dos Jogos Olímpicos em Paris, que impulsionou o aumento da atividade em França, o que os analistas apontam como sendo temporário. “À primeira vista, isto parece uma surpresa agradável: a atividade na zona euro aumentou em agosto. Mas um olhar mais atento as números revela que os fundamentos subjacentes podem ser mais instáveis ​do que parecem”, destaca Cyrus de la Rubia, economista-chefe do Hamburg Commercial Bank, na nota divulgada na quinta-feira.

O PMI francês registou em agosto o primeiro aumento desde abril, para 52,7 pontos, o maior nível em 17 meses, refletindo uma forte recuperação na atividade dos serviços. O PMI desta atividade subiu para 55 pontos em agosto face a 50,1 em julho, mas parte dessa recuperação “pode ser revertida nos próximos meses”, segundo Salomon Fiedler.

O economista destaca que os detalhes apontam para uma economia francesa “muito mais frágil“, como a produção industrial a cair ao ritmo mais rápido desde janeiro, com as encomendas às fábricas a caírem ao ritmo mais rápido em quatro anos e o emprego no setor privado a diminuir pela primeira vez desde janeiro. “Na verdade, para além da melhoria do índice principal, os dados do PMI de agosto destacaram a fragilidade em toda a economia francesa”, considera.

Os dados dos inquéritos recentes da zona euro “têm estado em linha com a desaceleração do crescimento e, fora o salto nos serviços franceses, o PMI” da Zona Euro “não dá muitas razões para pensar que esteja a ocorrer uma aceleração do crescimento“, considera Bert Colijn.

Os dados dos inquéritos recentes da zona euro “têm estado em linha com a desaceleração do crescimento e, fora o salto nos serviços franceses, o PMI” da zona euro “não dá muitas razões para pensar que esteja a ocorrer uma aceleração do crescimento”, considera Bert Colijn.

Os dados do PMI da Zona Euro apontam, assim, para duas realidades distintas. Ao contrário da aceleração nos serviços, a indústria está em contração, com as empresas a reduzirem novamente as compras de fatores de produção em agosto como resposta à fraqueza da procura. Com menos novas encomendas, os stocks de compras caíram, bem como os de produtos acabados.

Este quadro coincide “com uma diminuição da confiança relativamente às perspetivas futuras para a produção”, segundo a nota da S&P Global em parceria com o Hamburg Commercial Bank, que destaca que “o sentimento caiu para o nível mais baixo em 2024 até agora e ficou abaixo da média da série”, existindo uma redução generalizada do otimismo, com a confiança a cair na Alemanha, França e no resto dos países da moeda única.

Bert Colijn sublinha que relativamente “às expectativas de inflação, o PMI sinalizou um aumento nos preços de venda comunicados pelas empresas, mas também foi reportada uma queda contínua nos preços dos fatores de produção”.

“Isto significa que as pressões inflacionistas em curso estão a enfraquecer, o que é importante para o Banco Central Europeu (BCE), na medida em que define a política a médio prazo”, assinala. Com a reunião de setembro a aproximar-se, grande parte atenção está centrada nos dados mais recentes. O BCE anunciou que o aumento dos salários na zona euro foi de 3,55% no segundo trimestre, face ao período homólogo, o mais baixo desde o último trimestre de 2022, após a subida de 4,74% no primeiro trimestre.

O economista do ING considera que segundo os dados “há poucos motivos para que os falcões se oponham a um corte [das taxas de juro] em setembro”, até porque do lado das ‘pombas’ do BCE não há dúvidas. O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, salientou na sexta-feira passada que “a economia da zona euro não está a crescer” e que a reunião de setembro será “fácil“.

Alemanha em “apuros”

A recuperação prevista para a economia alemã no segundo semestre do ano ainda não começou a ganhar forma e os sinais não são promissores. “Havia boas razões para ter esperança – a inflação mais baixa e os salários mais altos pareciam a receita perfeita para o aumento do consumo”, destaca Cyrus de la Rubia.

Contudo, “parece que a incerteza em torno da política económica colocou um freio nos gastos dos consumidores”, enquanto a recuperação da produção global azedou antes que as empresas alemãs pudessem sentir o impulso. “Em vez disso, as probabilidades de um segundo trimestre consecutivo de crescimento negativo aumentaram”, antevê.

O PMI composto da Alemanha caiu para 48,5 pontos, o nível mais baixo em cinco meses, sinalizando assim uma contração, com a atividade empresarial a cair em agosto pelo segundo mês abaixo dos 50 pontos.

“O país provavelmente permanecerá quase estagnado até pelo menos ao inverno”, considera Salomon Fiedler, considerando que a economia alemã está “em apuros”. Neste sentido, alerta que “devido a graves problemas estruturais (escassez de trabalhadores qualificados, investimento insuficiente na capacidade produtiva, elevados custos de energia, tributação e regulamentação excessivas, etc.), o crescimento potencial do PIB é baixo na Alemanha”.

A nota do PMI deste país, divulgada pela S&P Global, realça que a produção industrial continuou a cair acentuadamente, embora a uma taxa ligeiramente mais lenta do que no mês anterior (índice de 42,9). Paralelamente, o crescimento da atividade empresarial do setor de serviços diminuiu pelo terceiro mês consecutivo para um ritmo modesto, o mais fraco desde março.

Cyrus de la Rubia realça que “as novas encomendas diminuíram mais acentuadamente do que no mês passado, principalmente devido a uma queda significativa na procura externa, sinalizando mais problemas pela frente“, pelo que considera que “não surpreende que as empresas estejam a aumentar os cortes de pessoal” e a reduzir os stocks de forma “ainda mais agressiva”.

Perante este quadro, as empresas expressaram menos otimismo em relação às perspetivas de crescimento no próximo ano.

Confiança dos consumidores cai em agosto

Em agosto, a confiança dos consumidores caiu ligeiramente na Zona Euro para -13,4 pontos (-0,4 pontos percentuais abaixo do mês anterior), situando-se abaixo da média de longo prazo, de acordo com os dados divulgados na quinta-feira pela União Europeia.

Por outro lado, manteve-se globalmente estável na União Europeia (-0,1 pontos percentuais em comparação com julho), situando-se em -12,3.

Já o indicador de sentimento económico manteve-se relativamente estável em junho, tanto na zona euro (0,1 pontos para 95,8), como na União Europeia (mais um ponto para 96,4), e o indicador de expetativas de emprego da Zona Euro caiu 1,8 pontos para 97,8 e da União Europeia 1,6 pontos para 98,7.

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