Inteligência Artificial arrisca agravar desigualdade. OIT apela a “políticas fortes”

A tecnologia tem estimulado a produtividade, mas os ganhos daí resultantes não têm sido partilhados de forma equitativa com os trabalhadores, alerta a Organização Internacional do Trabalho.

Os avanços tecnológicos das últimas décadas têm sido sinónimos de maior produtividade e melhores resultados, mas os trabalhadores não têm recebido uma fatia equitativa desses ganhos. E a Inteligência Artificial generativa poderá vir agravar essa desigualdade. O alerta é lançado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que deixa claro que são precisas “políticas fortes” e transversais aos vários setores para contrariar esse cenário.

De acordo com o “World Employment and Social Outlook”, a fatia de rendimentos totais dos países que chega aos trabalhadores como fruto do seu trabalho (isto é, através, por exemplo, do salário) não tem tido uma trajetória positiva.

Aliás, entre 2019 e 2022, houve mesmo um recuo de 0,6 pontos percentuais desse indicador, que mede a desigualdade. E, desde então, a fatia estabilizou, como mostra o gráfico abaixo.

Essa diminuição pode até “parecer modesta” em termos relativo, admite a OIT, mas, se olharmos para o seu impacto na carteira dos trabalhadores, a relevância fica evidente: se a fatia de rendimentos conseguidos através do trabalho fosse hoje igual à de 2004, os trabalhadores receberiam mais 2,4 biliões de dólares do que estão, neste momento, a ganhar.

“Entre outros fatores, os estudos identificam a tecnologia como um fator chave para este declínio da fatia de rendimentos do trabalho“, aponta a OIT.

É que os desenvolvimentos tecnológicos das últimas duas décadas até têm aumentado “de forma persistente” a produtividade do trabalho e os resultados, mas “os trabalhadores não têm partilhado de forma equitativa os ganhos resultantes” desses progressos, observa a organização.

Pior. Se os padrões registados até aqui não forem alterados por “políticas fortes numa larga variedade de domínios”, os recentes avanços no campo da Inteligência Artificial generativa arriscam agravar este problema da desigualdade. “Podem exercer ainda mais pressão sobre a fatia de rendimentos do trabalho”, avisa a OIT.

Previsão ou simples aviso?

A Organização Internacional do Trabalho salienta que os referidos potenciais efeitos negativos da Inteligência Artificial não têm de ser uma “previsão dos efeitos da Inteligência Artificial”. Antes, esta análise destaca por agora a “importância de assegurar que os ganhos da Inteligência Artificial são distribuídos de forma abrangente“.

“A inovação tecnológica pode ser influenciada e moldada por políticas que mitiguem os potenciais impactos adversos na desigualdade, para garantir que os benefícios do progresso são distribuídos de forma alargada“, observa a OIT.

Citada em comunicado, Celeste Drake, vice diretora-geral da organização, insiste na necessidade de políticas abrangentes: “Sem elas, os desenvolvimentos recentes no campo da Inteligência Artificial podem agravar a desigualdade“, adverte a responsável.

A OIT não detalha que políticas poderão ser essas, mas chama a atenção para os jovens que nem estão a estudar, nem estão a trabalhar. Afirma que, apesar das melhorias recentes, é preciso fazer mais, especialmente num contexto de “rápidos avanços tecnológicos”. “O baixo ritmo de progressos mostra que é preciso aumentar os esforços para disponibilizar oportunidades de trabalho decentes e melhorar o acesso à educação“, remata a organização.

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