Acionistas da Inapa processam PwC: “Não posso descobrir num domingo que os meus investimentos desapareceram”
A Carisvalor, um acionista com cerca de 5% do capital da empresa, diz ter sido surpreendido com a falência da empresa, quando os relatórios, aprovados pelo auditor sem reservas, garantiam viabilidade.
“Não posso descobrir num domingo que os meus investimentos desapareceram, quando havia um auditor” que aprovava as contas sem reservas. É desta forma que reage o representante da Carisvalor, uma sociedade que controla cerca de 5% da Inapa, e que, juntamente com outro acionista, abriu uma ação popular contra a PwC pela auditoria feita aos relatórios e contas da empresa de distribuição de papel, que apresentou o seu pedido de insolvência no final de julho.
Este é já o segundo processo instaurado pela acionista, depois de na última sexta-feira ter dado entrada com uma ação judicial contra todos os membros do anterior conselho de administração da Inapa, presidido por Frederico Lupi, pelos danos diretos causados, conforme noticiou o ECO.
Tal como o ECO também avançou no final da semana passada, esta ação que agora entrou já estava a ser preparada uma outra ação judicial e previa-se que desse entrada esta segunda-feira, tal como veio a confirmar-se.
Em declarações ao ECO, o representante desta sociedade acusa a auditora “de não ter sido diligente“. “O auditor é que dá confiança aos investidores para acreditarem nos relatórios que estão a ser apresentados”, atira.
Baseei toda a estratégia de investimento nos relatórios e contas, muito baseado no que o auditor afirmava sem reservas.
“Fui apanhado completamente de surpresa” com a falência da Inapa, reconhece o investidor, que foi surpreendido com a notícia da insolvência pela comunicação social num domingo. Em declarações ao ECO, o investidor realçou que conhecia os riscos da atividade, mas confiou na informação financeira divulgada pela companhia e transmitida nas assembleias-gerais de acionistas. “Baseei toda a estratégia de investimento nos relatórios e contas, muito baseado no que o auditor afirmava sem reservas“, lamenta o representante da Carisvalor.
No relatório e contas relativo ao exercício de 2023, a gestão garantia a continuidade das operações, assegurando que “a administração concluiu que a empresa dispõe de recursos adequados para manter as atividades, não havendo intenção de cessar as atividades no curto prazo, pelo que considerou adequado o uso o pressuposto da continuidade das operações na preparação das demonstrações financeiras.” O documento garantia ainda que existia liquidez suficiente para assegurar a continuidade nos próximos 12 meses, um relatório que foi aprovado sem reservas pelo auditor.
Ao contrário de outros grandes acionistas, como a Parpública, a Nova Expressão e o Novobanco, que reuniram com a administração para discutir uma solução para a empresa conseguir o financiamento de 12 milhões de euros de que precisava para evitar o colapso na Alemanha, com repercussão na atividade em Portugal, a Carisvalor, apesar de ter uma posição relevante, desconhecia os problemas da empresa. “Não tinha informação. Devia ter sido feita uma AG e propostos caminhos que envolvessem todos os acionistas“, acusa.
A Inapa há vários anos que enfrentava dificuldades, fruto da forte quebra registada pelo mercado da distribuição de papel, mas a sorte da empresa precipitou-se nalguns dias no passado mês de julho. Perante uma situação de quebra de tesouraria de curto prazo na Alemanha, a Inapa viu-se forçada a pedir uma injeção de emergência aos acionistas de referência: Parpública (45%), Nova Expressão (10,85%) e Novobanco (6,55%).
O pedido de insolvência foi formalizado no passado dia 29 de julho, depois de a empresa ter comunicado, no dia 21 de julho, que o colapso na Alemanha era inevitável, uma vez que não conseguiu aprovação da Parpública, o seu maior acionista, para uma injeção de emergência de 12 milhões de euros, o teria repercussão na atividade da holding, puxando-a também para a falência.
A Carisvalor, que detém há mais de um ano a sua posição na empresa, uma participação que diz não vender porque confia que a empresa tem viabilidade económica, garante que vai acompanhar com “muita atenção o que o administrador da insolvência vai fazer” e avaliar a necessidade de outras ações, nomeadamente “contra o administrador de insolvência, se não forem intentados todos os esforços para defender a viabilidade e continuidade da empresa, com o mínimo de perda para os acionistas“.
O acionista aponta ainda para o regulador do mercado de capitais, realçando que “aguardamos ainda que a CMVM exerça o poder-dever de regular e supervisionar os mercados de instrumentos financeiros, promovendo a proteção dos investidores designadamente instaurando os processos contraordenacionais que se impõe contra o Emitente, membros do Conselho de Administração e Auditor, tal como bem fez em outros muitos casos, pela prestação de informação falsa e incompleta ao mercado e falha na auditoria às contas”.
Os escândalos financeiros em Portugal têm minado completamente a confiança dos investidores nos últimos anos e cabe a CMVM, junto com outros agentes, criar condições para que essa confiança seja restabelecida, nomeadamente no trabalho de auditoria a empresas cotadas.
“Os escândalos financeiros em Portugal têm minado completamente a confiança dos investidores nos últimos anos e cabe a CMVM, junto com outros agentes, criar condições para que essa confiança seja restabelecida, nomeadamente no trabalho de auditoria a empresas cotadas“, acrescenta.
O processo de insolvência da Inapa está agora nas mãos do administrador Bruno Costa Pereira, estando marcada a Assembleia de Credores para o próximo dia 27 de setembro.
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