Operações israelitas deixaram economia palestina “em ruínas”, afirma a ONU

  • Lusa
  • 12 Setembro 2024

"O Produto Interno Bruto de Gaza caiu 81%, deixando a sua economia em ruínas" e "ultrapassa de longe o impacto de todos os anteriores confrontos militares em 2008, 2012, 2014 e 2021".

As operações militares israelitas nos territórios palestinas provocaram “devastação económica” na Faixa de Gaza e um “declínio sem precedentes da atividade económica” também na Cisjordânia, segundo um relatório divulgado esta quinta-feira pela ONU.

O relatório sobre a “evolução da economia dos territórios palestinos ocupados”, publicado pela Comissão das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), revela que, na sequência da operação israelita em Gaza que se seguiu aos ataques do Hamas de 07 de outubro de 2023, “o Produto Interno Bruto (PIB) de Gaza caiu 81%, deixando a sua economia em ruínas”.

Sublinhando “a dimensão impressionante da devastação económica e o declínio sem precedentes da atividade económica”, que “ultrapassa de longe o impacto de todos os anteriores confrontos militares em 2008, 2012, 2014 e 2021”, a UNCTAD aponta que “as pressões inflacionistas, combinadas com o aumento do desemprego e o colapso dos rendimentos, empobreceram gravemente as famílias palestinas”.

“A operação militar causou uma perda de vidas sem precedentes, deslocações e destruição generalizada de infraestruturas. Entretanto, na Cisjordânia assistiu-se a um aumento da violência, à demolição de bens palestinos, a confiscos e à expansão dos colonatos. O impacto combinado da operação militar em Gaza e das suas repercussões na Cisjordânia provocou um choque sem precedentes que esmagou a economia palestina em todo o território ocupado, incluindo Jerusalém Oriental”, lê-se no relatório.

A análise da UNCTAD indica que o PIB de Gaza caiu para um sexto do seu valor anterior a outubro de 2023, sendo que, no início do corrente ano, “entre 80% e 96% dos ativos agrícolas de Gaza – incluindo sistemas de irrigação, explorações pecuárias, pomares, maquinaria e instalações de armazenamento – tinham sido dizimados, prejudicando a capacidade de produção alimentar da região e agravando os já elevados níveis de insegurança alimentar”.

“A destruição também atingiu duramente o setor privado, com 82% das empresas, um dos principais motores da economia de Gaza, danificadas ou destruídas”, prossegue o relatório, assinalando que “os danos causados à base produtiva têm continuado a agravar-se à medida que a operação militar prossegue”.

O relatório centra-se também nas consequências do conflito na Cisjordânia, que, de acordo com a UNCTAD, “tem vindo a sofrer um declínio económico rápido e alarmante”, como resultado de fatores como a expansão dos colonatos, a confiscação de terras, a demolição de estruturas palestinas e o aumento da violência dos colonos ao longo de 2023 e 2024, que deslocaram comunidades e afetaram gravemente as atividades económicas”.

“Estas perturbações afetaram vários setores em toda a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, onde o comércio, o turismo e os transportes sofreram uma quebra considerável. Em consequência, 80% das empresas da Cidade Velha de Jerusalém Oriental cessaram parcial ou totalmente as suas atividades”, lê-se no relatório.

Por outro lado, “a estabilidade orçamental do Governo palestiniano está sujeita a uma enorme pressão, o que compromete a sua capacidade de funcionar eficazmente e de prestar serviços essenciais”, adverte ainda o organismo da ONU, apontando que, em 2023, “o apoio dos doadores internacionais atingiu o seu nível mais baixo, com 358 milhões de dólares, o equivalente a apenas 2% do PIB, contra 02 mil milhões de dólares, ou seja, 27% do PIB em 2008”.

Em conclusão, a UNCTAD apela a “uma intervenção imediata e substancial da comunidade internacional para travar a queda livre da economia, resolver a crise humanitária e lançar as bases para uma paz e um desenvolvimento duradouros”, defendendo “um plano de recuperação global para os territórios palestinos ocupados, o aumento da ajuda e do apoio internacionais, a libertação das receitas retidas e o levantamento do bloqueio a Gaza”.

O conflito na Faixa de Gaza foi desencadeado por um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 7 de outubro, onde deixou cerca de 1.200 mortos e levou mais de duas centenas de reféns. Desde então, Israel encetou uma ofensiva em grande escala no território palestino, que já matou mais de 41 mil pessoas, na maioria civis de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas, além de ter provocado um desastre humanitário e desestabilizado todo o Médio Oriente.

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