Moscovo critica “passo hostil” de Lisboa ao entregar helicópteros russos a Kiev
"Consideramos que a transferência destas aeronaves para o regime de Kiev é mais um passo hostil em relação ao nosso país", disse a porta-voz do MNE russo.
A Rússia condenou esta sexta-feira a entrega de seis helicópteros russos de combate a incêndios à Ucrânia pelo Governo português, concluída no final da semana passada. “Consideramos que a transferência destas aeronaves para o regime de Kiev é mais um passo hostil em relação ao nosso país”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, citada pela agência noticiosa Efe.
Segundo Moscovo, este passo demonstra a “quase completa perda de independência política” de Lisboa e contribui para um “maior aprofundamento” da crise nas relações russo-portuguesas. Moscovo recorda ainda que, apesar da conclusão do processo de transferência dos helicópteros ‘Kamov’ em setembro deste ano, a decisão política para a sua entrega foi aprovada em outubro de 2022.
Nessa ocasião, a Rússia criticou o Governo português e sublinhou que Moscovo não tinha dado o seu consentimento para a entrega dos helicópteros, tanto mais que o objetivo da transferência não era o combate a incêndios. O último transporte dos seis helicópteros ‘Kamov’ doados por Portugal à Ucrânia seguiu na sexta-feira passada para Kiev, “após um longo período de incerteza e de negociações”, segundo o Ministério da Defesa Nacional (MDN).
Segundo o ministério tutelado por Nuno Melo, “o último camião com material ‘Kamov’ com destino à Ucrânia” saiu de Ponte de Sor, 140 quilómetros a nordeste de Lisboa. Em outubro de 2022, a então ministra da Defesa portuguesa, Helena Carreiras, anunciou que Portugal iria enviar para a Ucrânia os seis helicópteros russos de combate a incêndios que estavam sem licença para operar em Portugal, um dos quais inoperacional por ter sofrido um acidente.
A informação foi avançada por Helena Carreiras em Bruxelas, no final de uma reunião dos ministros da Defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), na qual foi discutida a guerra na Ucrânia. Em novembro de 2023, mais de um ano depois do anúncio da cedência à Ucrânia, as aeronaves ainda estavam em Portugal, com o anterior Governo a referir que aguardava da “contraparte ucraniana indicação sobre os próximos passos a adotar” nesse processo.
“Após um longo período de incerteza e de negociações, o atual Governo, através do MDN, em articulação com o Ministério da Administração Interna, coordenou o transporte dos helicópteros com as autoridades ucranianas, em particular com a Embaixada da Ucrânia em Lisboa e com o Ministério da Defesa ucraniano”, adiantou o comunicado.
A doação dos seis helicópteros médios tinha sido solicitada pela Ucrânia a Portugal, ficando decidido que os aparelhos seriam cedidos no estado de conservação em que se encontravam. Os ‘Kamov’ foram adquiridos em 2006 pelo Ministério da Administração Interna, então liderado por António Costa. A Lusa procurou obter um comentário do Governo sobre a posição das autoridades russas, mas sem sucesso até ao momento.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
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