Mario Draghi alerta para “lenta agonia” da Europa e apela a reformas urgentes

  • Servimedia
  • 16 Setembro 2024

Mario Draghi, enviou uma mensagem urgente à União Europeia no seu último relatório, advertindo que a Europa enfrenta uma “morte económica lenta”, se não tomar medidas imediatas.

O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, enviou uma mensagem urgente à União Europeia no seu último relatório, advertindo que a Europa enfrenta uma “morte económica lenta” se não tomar medidas imediatas e decisivas. O relatório, encomendado pela Comissão Europeia e apresentado à sua Presidente, Ursula von der Leyen, alerta para a falta de competitividade do continente face a potências como a China e os Estados Unidos, apelando à reforma da estrutura política e económica para evitar o declínio.

Draghi, conhecido por ter salvo o euro durante a crise financeira de 2012 com a sua famosa frase “farei o que for preciso para preservar o euro”, afirmou que a Europa se encontra num estado crítico, em grande parte devido à inação política e à incapacidade de se adaptar às mudanças globais. De acordo com o relatório, a Europa corre o risco de se tornar irrelevante na cena mundial se não tomar medidas para reformar o seu sistema burocrático, que impede a tomada rápida de decisões.

O documento sublinha que a competitividade da economia europeia foi ultrapassada pela dos EUA e da China, o que levou à deslocalização de sectores-chave, especialmente a indústria transformadora. Draghi sublinha a necessidade de a Europa adotar uma estratégia industrial comum que integre as políticas fiscal, comercial e externa, à semelhança das que são seguidas pelos seus principais concorrentes. No entanto, lamenta o facto de a UE estar ainda presa a um sistema de decisão lento e fragmentado, o que dificulta a implementação das reformas necessárias.

AVISO

O “relatório Draghi”, com mais de 400 páginas, não deixa margem para dúvidas: a Europa está em perigo. Durante a apresentação em Bruxelas, Draghi lançou um aviso grave: “Chegámos a um ponto em que, se não agirmos, teremos de comprometer o nosso bem-estar, o nosso ambiente ou a nossa liberdade”. O antigo presidente do BCE foi direto ao afirmar que os decisores políticos europeus têm de “agir em conjunto” e levar os desafios a sério. As reformas que propõe incluem a redução da burocracia, a simplificação dos processos legislativos e a coordenação em torno de uma estratégia industrial sólida.

Um dos problemas mais graves, de acordo com o relatório, é o excesso de legislação na UE. Em 2019, a UE aprovou 13.000 atos legislativos, enquanto os EUA aprovaram apenas 3.000, o que reflete um sistema sobrecarregado e lento. Esta teia burocrática impede a Europa de responder rápida e eficazmente aos desafios globais, como a transição ecológica, a crise na Ucrânia e a concorrência de economias mais dinâmicas.

O relatório sugere também que estamos a assistir ao fim da globalização tal como a conhecemos, um modelo económico que dominou o panorama mundial durante décadas e que foi ultrapassado por novos paradigmas. Draghi adverte que a classe política europeia parece incapaz de liderar as reformas necessárias para que a Europa se mantenha competitiva. Enquanto a China e os Estados Unidos estão a avançar nos domínios da inteligência artificial, dos semicondutores e das tecnologias limpas, a Europa continua a ficar para trás.

A situação em setores como o automóvel é particularmente preocupante. Draghi refere que a indústria europeia está a perder postos de trabalho devido à concorrência desleal da China e reitera a importância de uma resposta industrial coordenada, evitando o protecionismo.

DÍVIDA

Para Draghi, a única forma de enfrentar os desafios colossais que a Europa tem pela frente é através de um investimento maciço. O relatório estima que a UE precisaria de mobilizar mais de 750 mil milhões de euros por ano para competir com a China e os EUA, o que significa aumentar o investimento público e privado dos atuais 22% para 27% do PIB.

Draghi sugere também que a UE emita regularmente dívida comum para financiar projetos que reforcem a competitividade europeia em áreas-chave como a descarbonização, a transformação digital e a defesa. Esta estratégia, semelhante à implementada com os fundos de nova geração, é vista como uma ferramenta necessária para garantir o crescimento a longo prazo da Europa.

DESAFIOS

O relatório não deixa de apontar as resistências políticas que dificultarão a implementação das reformas propostas. O caso de Espanha é paradigmático. Mario Draghi alerta que, apesar de a Espanha ter aprovado mais de 206 mil regulamentos desde 1995, a produtividade continua estagnada e a burocracia continua a afetar o crescimento. A nível europeu, a ascensão da extrema-direita e dos movimentos populistas também complica o cenário, enfraquecendo os governos que deveriam estar a liderar a transformação.

Draghi conclui o seu relatório com uma mensagem clara: a Europa tem de agir agora ou enfrentará um declínio irreversível. “Mais uma vez, temos de confiar em Mario Draghi”, dizem alguns observadores, conscientes de que o seu diagnóstico da crise não é novo.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Mario Draghi alerta para “lenta agonia” da Europa e apela a reformas urgentes

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião