De Viana ao Funchal, conheça a estratégia dos portos nacionais para “zarpar” o crescimento
O porto de Setúbal está a investir numa nova concessão de ro-ro para pesados, Viana quer afirmar-se como porto industrial e a Madeira quer concorrer com as Caraíbas nos destinos de cruzeiros.
Atrair novos investimentos para apostar no crescimento, na digitalização e na sustentabilidade é uma das prioridades para os portos nacionais, que têm vindo a debater-se com faltas de capital para responder às suas necessidades. O Governo promete ajudar o setor a crescer e já anunciou uma medida há muito reclamada: aumentar o prazo das concessões portuárias de 30 para 75 anos. Apesar de reconhecer que cada porto é um porto, o Executivo quer uma “visão coordenada” para a indústria.
“Queremos maximizar o potencial de cada porto, ter novos terminais, novos players – e isto é muito importante. Para isso tem de haver uma mudança e essa primeira mudança tem a ver com o que são as concessões dos terminais portuários”, que vão passar de 30 para 75 anos, explicou Hugo Espírito Santo, durante a iniciativa Porto Maritime Week, que decorreu esta semana em Matosinhos.
“Tem de haver uma visão coordenada nacional” para os portos e cada um “irá apresentar um plano concreto para o seu crescimento”, adiantou o secretário de Estado, reforçando o seu compromisso para apoiar os portos nacionais em áreas chave.
No caso do Porto de Leixões, o governante defende que é preciso aumentar a capacidade, nomeadamente em contentores; Aveiro tem de expandir-se geograficamente, explorando a sua vocação industrial; Figueira da Foz tem de ser capaz de encontrar novas oportunidades; o Porto de Lisboa tem de rever a simbiose entre o porto e a cidade; Setúbal é um dos portos com maior potencial do país; e Sines tem a possibilidade de expandir terminais.
Leixões: novos projetos para responder à procura
A ausência de obras para aumentar o Porto de Leixões é um dos grandes desafios que o porto nortenho tem enfrentado nos últimos anos para dar resposta às necessidades da região. No início deste ano, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, S.A. (APDL) anunciou que vai avançar com o projeto de modernização e reordenamento das vias portuárias do Porto de Leixões, que estará concluída em 2027.
Além desta empreitada, o organismo liderado por João Neves está agora a concluir o novo plano estratégico para apresentar à tutela, assente em três pilares: sustentabilidade económica e competitividade; sustentabilidade ambiental; sustentabilidade social. Segundo o responsável, está a apostar em “investimentos para que porto de Leixões esteja daqui a 10 anos com a capacidade instalada de que precisa“.
Segundo adiantou o gestor, o Porto de Leixões está a trabalhar na modernização das vias rodoviárias do porto e da ponte móvel, na construção de novo centro inspetivo e na viabilização da conclusão do polo 2 da plataforma logística. “Há ainda um conjunto de projetos seletivos no âmbito do sustentável 2030 para serem apoiados”, sintetizou.
Viana quer assumir-se como porto industrial
Ainda mais a Norte, o porto de Viana do Castelo assume uma “vocação mais industrial”, segundo explica João Neves. O responsável diz que é preciso “criar condições para, como fazem Aveiro, as indústrias que precisam ter o apoio do navio para poderem operar, ou porque importam matérias-primas, ou porque exportam matéria acabada que precisa sair diretamente para o navio”.
“Temos em Viana condições para poder crescer e criar porto industrial que permita movimentar mais carga”, destaca João Neves.
Setúbal vai ter nova concessão de ro-ro de pesados
O Porto de Setúbal é considerado um dos portos com maior potencial para crescer no país. A proximidade da Autoeuropa, em Palmela, e a proximidade geográfica do novo aeroporto de Lisboa abrem oportunidades para esta infraestrutura, que vai explorar uma nova concessão direcionada para o segmento automóvel de pesados.
Segundo explicou o presidente do Conselho de Administração dos Porto de Setúbal (APSS) e LIsboa (APL), Carlos Correia, está a ser preparado um programa de novas concessões, na mesma altura que está a concluir-se o processo de renegociação das concessões atuais para a prorrogação por mais 10 anos quer do terminal da zona 1, quer da zona 2. As novas concessões “estarão preparadas para suportar as eólicas offshore, mas não se esgotam nisso”. “Preveem possibilidade de ter outros tipos de movimentação de carga, associada a essas eólicas offshore“, explicou Carlos Correia.
“No lançamento desta nova concessão em termos de ro-ro [Roll on Roll Off para automóveis e veículos], de expansão da área do ro-ro, queremos que não se esgote só no ro-ro ligeiro de automóveis. Queremos captar um segmento de mercado do ro-ro pesado, de trailers“, anunciou o responsável, justificando a aposta com a proximidade da Autoeuropa.
“Setúbal tem esse potencial. Temos ali a fábrica da Autoeuropa que nos tem sinalizado o potencial que existe para termos esse segmento de mercado no porto de Setúbal, que será adjacente ao terminal atual. Ali terá a nova concessão para dar resposta ao ro-ro de pesados em termos de trailers“, adiantou.
Em termos estratégicos globais, realça que “a questão dos novos combustíveis, da nova energia, da transição energética assume particular relevo”. “Pela sua vocação industrial e pelos espaços disponíveis, olhamos para o porto de Setúbal como tendo esse potencial de atrair negócios associados a novos combustíveis, quer para shipping, quer até para o novo aeroporto”, refere.
“À volta de Alcochete desenvolver-se-á uma nova cidade portuária e um centro logístico e isso trará potencial e novos desafios para porto de Setúbal”, remata Carlos Correia.
Lisboa: hub da inovação marítimo-portuária
Em relação ao Porto de Lisboa, o presidente do Conselho de Administração dos Porto de Setúbal (APSS) e Lisboa (APL) vê-o com “potencial de atração de áreas de inovação na lógica marítimo-portuária”. “Ter esta nova componente de atrair para o porto e constituir-se como um polo de inovação”, completou durante o evento.
Num momento em que se prepara para negociar as concessões da zona oriental de Lisboa, atualmente com cinco concessões, Carlos Correia refere que “parte dessas [concessões] termina o prazo no próximo ano ou em 2026″. Sendo que três admitem prorrogação por mais cinco anos e outras não a admitem. “Idealizamos a redução do número de concessões. São concessões demasiadamente retalhadas que condicionam a sua operacionalidade. O que vamos propor é a redução do número de concessões. Idealizamos ali um terminal de contentores e um terminal multiusos — duas concessões. O secretário de Estado depois dirá”, frisou.
Aveiro: porto vocacionado para a indústria
Eduardo Feio, presidente do Porto de Aveiro tem-se batido pela necessidade de aumentar a capacidade de entrada na barra de Aveiro, para acolher navios maiores. O responsável considera que o Porto de Aveiro tem “grande experiência industrial”, em apoiar a indústria da região Centro. Uma estratégia que Eduardo Feio visa prosseguir.
De olho na sustentabilidade, Eduardo Feio acredita que o Porto de Aveiro pode “capacitar-se como hub de energia”, tendo uma nova concessão para uma empresa de combustíveis.
Na área industrial, o responsável destacou que o Porto de Aveiro “movimenta mais 500 mil toneladas de químicos e está a crescer nesse setor.”
Madeira quer ser “as novas Caraíbas”
Finalmente, o Porto da Madeira tem vários investimentos em curso, procurando “arrepiar caminho” na sustentabilidade e reforçar a aposta como itinerário de cruzeiros. “Da mesma forma como hoje temos as Caraíbas como referência no mundo dos cruzeiros, gostávamos que daqui a uma geração se dissesse ‘vamos à Macaronésia’. Criar um novo destino turístico nesta região do Atlântico”, explica Paula Cabaço, presidente da APRAM.
“Estamos a reforçar a presença junto da indústria de cruzeiros enquanto porto de destino de cruzeiros no corredor do Atlântico e a reforçar a parceria com Canárias, Cabo Verde e Açores, os nossos parceiros de itinerário nesta bacia geográfica da Macaronésia”, detalhou a responsável pela estratégia do Porto da Madeira.
Outra prioridade do Porto da Madeira é o abastecimento de navios a eletricidade. “Estamos a fazer uma avaliação técnica e financeira da que será melhor solução para abastecer navios a eletricidade no porto do Funchal. O número de cruzeiros preparados para ligar se ligar a terra, percentualmente é muito superior ao número de portos europeus preparados para receber estes navios”.
“Temos de arrepiar caminho, 2030 é amanhã. A indústria dos cruzeiros é muito pioneira e está à frente e temos que concluir os nossos estudos e encontrar a melhor solução“, destacou.
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