FMI defende maior coordenação entre bancos centrais na luta contra a inflação
O FMI sugere também uma revisão dos modelos económicos dos bancos centrais para capturarem as ligações setoriais e a heterogeneidade na economia e assim tornar as políticas monetárias mais eficazes.
O recente ambiente inflacionista global, desencadeado pela pandemia de Covid-19 e exacerbado pela guerra na Ucrânia, ofereceu uma série de lições valiosas para os bancos centrais em todo o mundo, incluindo o Banco Central Europeu (BCE).
No capítulo 2 do World Economic Outlook (WEO) de outubro, publicado esta quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) detalha estas aprendizagens sugerindo, desde logo, uma estreita comunicação e coordenação entre as autoridades monetárias na abordagem das suas políticas.
“As economias abertas podem beneficiar de spillovers positivos do aperto da política de outros bancos centrais através de preços mais baixos de bens transacionáveis”, observa o documento elaborado por uma equipa de especialistas liderada por Jorge Alvarez. Segundo o FMI, essas repercussões podem ser particularmente importantes para os países que estão muito expostos a esses preços – por exemplo, os dos produtos alimentares e da energia – e que têm uma margem de manobra limitada para lhes dar resposta, como sucede com os países de baixo rendimento com regimes de taxa de câmbio fixa.
Para a autoridade monetária da Zona Euro liderada por Christine Lagarde, esta lição traduz-se na importância de o BCE manter uma estreita comunicação e coordenação com outros grandes bancos centrais, como a Reserva Federal dos EUA, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão, por forma a tornar mais eficaz as suas políticas monetárias.
O documento do FMI revela também que uma característica definidora do recente episódio inflacionista foi “a proeminência de mudanças setoriais num contexto de estímulo político e de restrições de capacidade, em parte decorrentes de perturbações na cadeia de abastecimento.” Esta dinâmica única levou a uma série de desafios para os bancos centrais, que tiveram de navegar por águas desconhecidas enquanto tentavam conter a inflação sem prejudicar a recuperação económica.
Uma das principais lições identificadas deste episódio pelos especialistas do FMI é a necessidade de os bancos centrais desenvolverem modelos mais sofisticados que capturem as ligações setoriais e a heterogeneidade na economia. O relatório sugere que “investir em modelos aprimorados e recolha de dados ao longo do tempo seria um investimento valioso”.
Para o BCE, isto significa que a autoridade monetária da Zona Euro deve considerar a revisão e atualização dos seus modelos económicos para melhor refletir as complexidades da economia moderna e assim tomar decisões mais eficazes de política monetária. Entre as medidas que se devem promover está a incorporação de análises mais detalhadas das dinâmicas setoriais e das cadeias de abastecimento nas suas projeções e decisões de política monetária.
Outra lição crucial apontada pela equipa Jorge Alvarez é a importância de os bancos centrais diferenciarem nas suas análises os efeitos imediatos e transitórios das restrições setoriais e o seu impacto mais persistente quando combinados com pressões de procura.
Para o BCE, isto implica a necessidade de uma abordagem mais matizada na avaliação das pressões inflacionistas. Segundo os especialistas do FMI, esta abordagem consiste em estar preparado para agir de forma mais agressiva quando as restrições de oferta são generalizadas e interagem com uma forte procura, mas manter uma postura mais paciente quando as restrições estão confinadas a setores específicos.
À medida que o BCE e outros bancos centrais dão continuidade a um novo ciclo de política monetária, estas lições identificadas pelo FMI do período de elevada inflação dos últimos anos podem ter algum relevo nas suas considerações.
Ao incorporar estas aprendizagens, o FMI acredita que o BCE e restantes bancos centrais podem estar mais bem preparados para enfrentar futuros desafios inflacionistas e salvaguardar a estabilidade de preços. Para a autoridade monetária do espaço do euro, o primeiro teste será já esta quinta-feira, com a realização da penúltima reunião do ano do Conselho do BCE, com o mercado a antecipar o terceiro corte das taxas diretoras desde junho, como resultado de um abrandamento progressivo da inflação.
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