Bitcoin em máximos após eleição de Trump é “altamente positivo” para o Bison Bank

  • Lusa
  • 8:51

Mesmo que a bitcoin venha a cair 60% num mês, o ecossistema "continua contente" porque a tecnologia por trás criptoativos, "é bastante robusta e só por si tem valor", argumenta António Henriques.

O presidente executivo (CEO) do Bison Bank considera, em entrevista à Lusa, que a valorização da bitcoin, que voltou a registar máximos na quarta-feira, “é sempre positivo” para o banco e relevante para o ecossistema. António Henriques participa esta quinta-feira à tarde no painel “The fringe economy”, na Web Summit.

Na quarta-feira, a bitcoin ultrapassou pela primeira vez os 90.000 dólares, sendo que desde que Donald Trump ganhou as eleições presidenciais norte-americanas, a criptomoeda tem vindo a registar recordes.

Questionado se esta valorização é boa para o Bison Bank, António Henriques é perentório: “É muito importante mostrar que o ativo continua a ter o percurso que todos querem que tenha e isso é sempre positivo”. Agora, “naturalmente que também não se consegue desconectar este valor atual da eleição nos Estados Unidos, mas ainda assim este mercado hoje já representa um valor muito interessante”, acrescenta.

“Para o banco é altamente positivo, para o ecossistema é altamente positivo”, diz, referindo que mesmo que daqui a um mês a bitcoin venha a cair 60%, o ecossistema “continua contente”. Porque a tecnologia que está por trás da bitcoin, dos criptoativos, “é, de facto, bastante robusta e ela só por si tem valor”, argumenta, admitindo que a atual valorização tem “um pouco de especulação por trás”, mas não é isso que move o banco ou o setor. “Não olhamos para a bitcoin como um ativo, olhamos para aquilo que a bitcoin pode ser dentro de um ecossistema tecnológico”, sublinha.

Questionado sobre qual a razão que leva a que a adoção da inteligência artificial (IA) seja mais acelerada que a das criptomoedas, António Henriques explica que o motivo está no facto de, em algum momento, todos já terem usado IA. “Todos nós já usámos inteligência artificial. Se calhar, nem todos nós comprámos criptoativos” e com isto “quero dizer que a inteligência artificial aparece de uma forma que permite a qualquer cidadão, de uma forma super simples e gratuita, ter um [caso de uso] que ele percebe”, considera.

“Agora, o blockchain não é assim, a tecnologia é altamente complexa, criptografada, que tem um conjunto de ativos que as pessoas até vendem, compram e ganham dinheiro” e até pode ser usado para lavagem de dinheiro, tem uma componente de soberania em cima, com países contra e outros a favor, o que “não é altamente interessante para o cidadão”, explica António Henriques. Por isso, “diria que essa é a razão principal pela qual nós temos a inteligência artificial a progredir muito e blockchain ainda a fazer o seu caminho normal de transformação”, remata.

Bison vai ter “resultado positivo superior a um milhão de euros” em 2024

Por outro lado, o presidente executivo (CEO) do Bison Bank, António Henriques, avança que 2024 “vai ser um ano bastante bom para a instituição”, com “um resultado positivo superior a um milhão de euros”. O antigo banco de investimento do Banif, agora Bison Bank, atingiu lucros de cerca de 641 mil euros em 2023, os primeiros em cinco anos de atividade. Apesar de a instituição só apresentar resultados no início do 2025, o gestor adianta que 2024 “vai ser um ano bastante bom”.

Quando o banco foi adquirido, em julho de 2018, “era um bocadinho como uma startup que acaba de nascer, porque, entretanto, teve três anos sem negócio, com a resolução do Banif, que nasceu em 2015″, recorda. Entretanto, em 2018 aparece com “um novo acionista e é um bocadinho uma ‘startup’ sem negócio, mas com 10 milhões de prejuízo, que é altamente complexo, principalmente em Portugal”, refere o CEO.

“Desafiou-nos e pensámos num modelo de negócio totalmente diferente dos outros” e no ano passado já fechámos o ano, pela primeira vez, “com break-even muito marginal”, prossegue. Contudo, “este ano vamos já fechar o ano com um resultado positivo superior a um milhão de euros”, avança.

António Henriques, CEO do Bison Bank.Hugo Amaral/ECO

Sobre a área de criptoativos, o executivo adiantou que não vão ter ainda resultados positivos nesta área: “Mas estamos, pelo menos, a esforçar-nos muito para fechar já o ano em break-even’. A área dos criptoativos “tem sido um acelerador grande” para o banco porque a “nossa marca melhorou muito internacionalmente” nesta área, explica.

“Vamos fechar o ano muito bem” e “estamos a desenvolver um modelo de negócio totalmente diferente da banca em Portugal, muito direcionado para as áreas internacionais”, acrescenta António Henriques. “Vamos fazer seis anos no Bison Bank, a licença”, adianta, referindo que a licença para ter os criptoativos faz dois anos em janeiro.

Questionado sobre o estado de arte das criptomoedas em Portugal, o executivo sublinha que o Bison Bank continua a ser “único banco com um projeto de ativos virtuais” aprovado pelo Banco de Portugal. “E isso tem sido altamente importante para nós porque, na verdade, somos o único banco em Portugal, mas continuamos a ser um dos poucos bancos no mundo inteiro e isso é muito agradável para nós e para mim, em particular: vou a Singapura, Hong Kong, Estados Unidos ou a Londres e toda a gente conhece o Bison Bank”, relata.

Até porque “o Bison Bank é um banco pequenino de 90 pessoas”, salienta, referindo que em Portugal ainda não existe uma comunidade de portugueses suficiente para suportar o negócio nesta área dos criptoativos. “Penso que o mercado de criptoativos para portugueses ainda é incipiente”, ou seja, ainda é insuficiente para acomodar uma linha de negócio de um banco.

“Não obstante, o mercado em Portugal de pessoas que vivem em Portugal, que não são necessariamente portugueses”, aí a situação é diferente, diz. Isto porque “há muita gente a escolher Portugal não por causa de criptoativos, mas a escolher Portugal para viver e há muita gente que, de facto, tem já a fortuna em criptoativos”, salienta. “Conheço pessoas que só receberam salários na sua vida em criptoativos”, exemplifica, adiantando que o Bison Bank “tem uma aposta muito forte em clientes não portugueses”.

No banco todo, “mas em particular na área de criptoativos, de facto, os clientes internacionais representam mais de 90% dos nossos clientes”, aponta António Henriques. Sobre a necessidade de as pessoas terem mais literacia financeira sobre criptoativos, o CEO salienta que é “preciso mais”, mas “em toda a área financeira”.

Portugal pode “claramente ser hub do Web3 e blockchain no futuro”

O presidente executivo do Bison Bank considera que Portugal pode “claramente ser o ‘hub’ do Web3 e blockchain no futuro e defende “um pensamento estratégico” para o país a longo prazo. Questionado sobre se Portugal poderia ter um papel importante na área dos criptoativos, o gestor diz perentoriamente que “sim”. “Penso que Portugal pode ter um papel importante no desenvolvimento do ecossistema Web3 ou blockchain”, até porque “Web3 e blockchain não são só criptoativos”, salienta. António Henriques acredita que o blockchain [tecnologia que permite rastrear informação] e Web3 [que cria interconexões entre várias tecnologias] “podem ser altamente transformadoras”.

No caso do blockchain “estamos a falar de uma base de dados gigante com extrema segurança descentralizada que, na verdade, custodia dados estruturados”, agora “imagine o que é aplicar a inteligência artificial em cima de uma base de dados gigante com dados estruturados. É uma explosão de coisas novas”, salienta.

Questionado sobre o que é preciso fazer para Portugal dar o ‘salto’ na inovação, defende um “pensamento estratégico” para o país “a longo prazo”. “Costumo dizer que Portugal é tão bom que não precisamos de fazer nada para atrair pessoas e capital estrangeiro. E a questão é: ‘e se fizéssemos'”, questiona. E se “fizéssemos alguma coisa para escolher, exatamente qual é o investimento que queremos trazer para Portugal? Quais são as pessoas que queremos trazer para Portugal? Quais são os países que nós queremos que invistam” no país, pergunta António Henriques.

O CEO dá o exemplo de Singapura, que nos anos 60 “estava anos atrás de Portugal e hoje está anos à frente de Portugal” porque fez um “planeamento de super longo prazo” e “conseguiu”, aponta. “Temos que ter um Portugal completamente diferente daqui a 50 anos”, afirma. Esse pensamento estratégico seria “determinante”, em que seriam definidos quais os setores estratégicos que seriam desenvolvidos no país. “Temos é que definir o que queremos para Portugal e ativar esses mecanismos”, remata António Henriques.

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