Da dívida aos custos, o que correu bem e mal nas contas da TAP
A companhia aérea encaminha-se para o terceiro ano consecutivo de lucros, beneficiando do crescimento das receitas. Mas nem todas as rubricas evoluíram de forma positiva.
A TAP apresentou esta segunda-feira as contas dos primeiros nove meses, que já incluem os meses da época alta de verão. Os lucros aproximaram-se dos 120 milhões de euros, mas ficaram aquém do registado no ano anterior.
Veja onde as contas evoluíram positivamente e o que as penalizou.
A correr bem
Receitas de manutenção com aumento expressivo
A TAP transportou mais 1,5% de passageiros nos primeiros nove meses deste em relação ao mesmo período de 2023, contribuindo para que a companhia mantenha o crescimento das receitas verificado desde a pandemia, embora a um ritmo mais reduzido (2,8%).
Este ano, há um negócio que está a correr particularmente bem à transportadora portuguesa: a manutenção de aeronaves. As receitas desde segmento crescem 40% este ano, para 165,5 milhões, pesando 5,1% no total. Já a receita de carga e correio baixou 10%.
Aumento da capacidade e da taxa de ocupação
Apesar de ter uma frota limitada a 99 aeronaves, por imposição do plano de reestruturação, a TAP tem conseguido aumentar o número de lugares-quilómetro oferecidos (ASK), substituindo aeronaves mais antigas por outras mais recentes e com maior capacidade. De tal forma que o ASK está já acima dos níveis de 2019, antes da pandemia
Outro indicador onde a companhia portuguesa tem registado uma evolução favorável é na taxa de ocupação, que subiu para 82,9% nos primeiros nove meses deste ano, também já acima de 2019.
Custos operacionais
Os gastos operacionais da TAP cresceram 4,4% para 596,1 milhões, mas o aumento foi atenuado pela descida de 5,3% nos custos operacionais de tráfego, num contexto em que a atividade cresceu. A companhia explica a poupança com o menor recurso ao aluguer externo de aeronaves e redução no custo com irregularidades de voo, como cancelamentos e atrasos, com a melhoria da pontualidade.
Positiva foi também a evolução dos custos com combustíveis, que desceram 2,4%, com a TAP a fazer a cobertura de risco para 41% do jet fuel consumido.
Redução expressiva da dívida
A TAP manteve a tendência de descida da alavancagem financeira. O endividamento líquido no final de setembro era de 491 milhões de euros, menos 24% do que há um ano e quase metade do que no final de 2019.
No fecho do terceiro trimestre, o endividamento líquido era equivalente a 2,3 vezes o EBITDA (resultados antes de encargos com juros e impostos, depreciações e amortizações), caindo face ao final de dezembro de 2024 e forma significativa face ao último antes da pandemia.
A companhia aérea tem vindo também a melhorar a sua posição de liquidez, com o dinheiro em caixa a crescer 153,7 milhões para 943,1 milhões no final de setembro.
A correr mal
Custos com pessoal
O aumento dos gastos operacionais da TAP deve-se, em grande medida, ao aumento de 31,8% nos custos com pessoal face aos primeiros nove meses de 2023. Um incremento que se deve ao fim dos cortes salariais, que a melhoria dos resultados permitiu levantar, bem como aos gastos associados aos novos contratos coletivos de trabalho.
Este aumento dos encargos com pessoal levou uma subida ligeira dos custos por lugar-quilómetro, para 7,11 cêntimos, o que compara com 6,22 cêntimos em 2019, antes do forte aumento da inflação registado em 2022 e 2023.
Erosão na receita por passageiro
O aumento da oferta de capacidade pelas companhias aéreas colocou uma pressão sobre o preço dos bilhetes em vários mercados, conduzindo a uma diminuição da receita por passageiro e quilómetro voado. A TAP não escapou a essa tendência e viu a chamada yield descer 4% no seu principal mercado internacional, a América do Sul (Brasil), na África e Médio Oriente (-4%) e na América do Norte (-2%). A única exceção foi a Europa, onde o indicador cresceu 5%.
Um dos desafios assumidos pelo CEO da TAP é o aumento da receita por passageiro, indicador em que a companhia europeia fica abaixo das pares europeias. A yield é já substancialmente superior à que se verificava antes da pandemia.
Margem de rentabilidade encolhe
O resultado operacional recuou 9,6% para 338,1 milhões, ou 5,7% se for considerado o resultado recorrente, com o aumento dos gastos a pesar nas contas. A margem de rentabilidade operacional caiu 1,4 pontos percentuais.
Perdas cambiais
O resultado líquido da TAP nos primeiros meses diminuiu 85% para 118,2 milhões de euros. Além da quebra de 35,8 milhões no resultado operacional, as contas foram penalizadas por 40 milhões de euros em perdas cambiais, relacionadas sobretudo com a desvalorização do real. No mesmo período do ano passado, as diferenças de câmbio tinham gerado um ganho de 33,8 milhões.
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