UE “não deve retaliar, mas sim negociar” com Donald Trump, apela Lagarde
Chefe do BCE considera que Bruxelas deve ter uma “estratégia de livro de cheques” e comprar mais produtos norte-americanos, em vez de seguir uma "retaliação pura” da qual “ninguém sai vencedor”.
Christine Lagarde considera que os líderes políticos europeus “não devem retaliar, mas sim negociar” com Donald Trump perante uma eventual aplicação de taxas alfandegárias pela futura Administração norte-americana sobre produtos provenientes da Europa.
Em entrevista ao Financial Times, a primeira que concede desde as eleições presidenciais dos EUA, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) assinala que uma “guerra comercial generalizada” não é “do interesse de ninguém” e conduziria a “uma redução global do PIB”.
Por isso, defende que a estratégia da União Europeia (UE) para enfrentar um segundo mandato de Trump na Casa Branca deve ser com um “livro de cheques”: a UE comprar produtos fabricados nos Estados Unidos, como gás natural liquefeito e equipamento militar.
“É um cenário melhor do que uma estratégia de retaliação pura, que pode levar a um processo de retaliação em que ninguém sai verdadeiramente vencedor”, sublinhou a presidente do BCE na entrevista ao jornal britânico.
O regresso de Donald Trump à Casa Branca suscita receios em Bruxelas de que, caso o Presidente eleito decida aplicar taxas alfandegárias sobre produtos importados à UE, estas anulem o grande excedente comercial do bloco comunitário com os EUA e levem os fabricantes da região a deslocar a produção para o outro lado do Atlântico.
Lagarde considera “interessante” que o sucessor de Joe Biden tenha sugerido a introdução de tarifas entre 10% e 20% sobre as importações não chinesas, pois “o facto de colocar um intervalo mostra que está aberto a negociação“.
Não obstante, saiu em defesa do diagnóstico do seu antecessor Mario Draghi sobre a necessidade de a UE recuperar a sua competitividade económica. “Cabe-nos agora a nós, os europeus, transformar essa atitude de ameaça num desafio ao qual temos de responder“, apelou.
Quanto às consequências de uma eventual aplicação de tarifas dos EUA a produtos europeus sob a inflação da Zona Euro, a presidente do BCE argumenta que é demasiado cedo para fazer essa avaliação. Mas, a existirem efeitos, será “talvez um pouco de inflação líquida a curto prazo”, ressalva, antecipando também uma provável redução da atividade económica e oscilações nas taxas de câmbio.
Na entrevista ao jornal britânico, Lagarde exortou ainda a UE a “avançar rapidamente” na criação da União dos Mercados de Capitais, uma ideia proposta pela primeira vez em 2014, mas que tem sido sucessivamente travada por vários Estados-membros, cabendo agora a sua conclusão a Maria Luís Albuquerque, comissária com a pasta dos Serviços Financeiros. “Nunca vi um nível de compreensão e entusiasmo tão grande como agora”, diz a líder do BCE.
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