Telecom e ‘utilities’ lideram preferência na bolsa portuguesa em 2025
A bolsa lisboeta prepara-se para fechar o ano com um desempenho negativo, arrastada pelas fortes quedas do Grupo EDP. Após este desaire, os analistas antecipam uma recuperação em 2025.
Enquanto as bolsas europeias e norte-americanas celebraram novos recordes em 2024, o índice de referência português prepara-se para fechar o ano com um pé nas perdas, arrastado pela forte correção das ações do grupo EDP. A poucos dias de entrar em 2025, os analistas traçam um cenário moderadamente otimista para a bolsa lisboeta, mostrando-se confiantes numa recuperação do mercado de ações nacional. Telecomunicações e utilities recolhem a preferência.
Depois de ter fechado o ano de 2023 com um ganho de 11,78%, a subir pelo terceiro ano, o índice PSI prepara-se para encerrar 2024 a cair. Ao contrário das principais bolsas europeias que registam um comportamento positivo — o alemão DAX é o campeão dos ganhos com uma subida de quase 20% — e até chegaram a tocar novos máximos, a bolsa lisboeta recua mais de 1% desde o início do ano. Um desempenho determinado pelo comportamento da família EDP: a elétrica cai 30% e a EDP Renováveis tomba cerca de 47%.
Índice português desce 1,5% em 2024
“Depois de um ano em que o PSI ficou aquém do desempenho das restantes praças europeias, espera-se que o mercado de ações nacional em 2025 seja influenciado por vários fatores macroeconómicos e setoriais, havendo potencial para uma boa performance relativa“, antecipa Pedro Maruny, gestor de ações ibéricas do BPI Gestão de Ativos. O responsável lembra que a bolsa portuguesa está concentrada em cinco grandes setores: utilities, bancos, retalho alimentar, petróleo e telecomunicações.
“Na nossa perspetiva, as empresas desses setores estão a cotar a valorizações que podem oferecer algum potencial de valorização“, acrescenta. Quanto às ações que poderão oferecer maior potencial de subida na praça lisboeta, Pedro Maruny refere que, no contexto de entrada da Digi no mercado nacional, “a cotação da NOS, pode ainda estar a descontar uma significativa destruição de valor, subvalorizando a capacidade da empresa de ajustar custos e investimentos, fazer face à diferença na qualidade das redes e dos serviços que oferece bem como à pronta reação dos três operadores instalados, que deixa pouco espaço para o crescimento do novo operador”, aponta.
A cotação da NOS pode ainda estar a descontar uma significativa destruição de valor, subvalorizando a capacidade da empresa de ajustar custos e investimentos, fazer face à diferença na qualidade das redes e dos serviços que oferece bem como à pronta reação dos três operadores instalados, que deixa pouco espaço para o crescimento do novo operador.
O mesmo especialista identifica oportunidades na EDP Renováveis, destacando que a empresa de energias renováveis, que acumula uma desvalorização de cerca de 47% em 2024, “pode estar a refletir o capital investido sem criação de valor adicional”. “As ações nacionais que tiveram pior desempenho em 2024 poderão estar a preços atrativos, e as que tiveram melhor performance ainda poderão ter potencial de valorização”, justifica Maruny.
Também Pedro Barata, gestor de ações nacionais da GNB, argumenta que, num contexto de instabilidade geopolítica internacional, Portugal “apresenta uma situação política estabilizada, com uma taxa de desemprego relativamente baixa e com um crescimento económico esperado superior à média europeia”.
A juntar a isto, diz o gestor, “o país continua a beneficiar da entrada de dinheiro no âmbito do PRR e de um rácio de dívida que neste momento se encontra controlado. Deste modo, as nossas expectativas vão no sentido de que as empresas cotadas no nosso mercado possam beneficiar destas condições de forma a terem um desempenho positivo em 2025“, sintetiza Pedro Barata.
Dito isto, o responsável destaca que Portugal é um mercado periférico e “muito concentrado em poucas empresas”, o que leva a que “uma má performance, como a que teve o Grupo EDP em 2024, possa impactar fortemente a performance do mercado como um todo e camuflar o bom desempenho das outras empresas do índice.”
Acreditamos que pelo facto da grande maioria das empresas serem bastante bem geridas e financeiramente bastante sólidas, elas poderão atrair novos investidores que procuram ativos bem geridos, sólidos financeiramente, mas ainda pouco conhecidos e valorizados.
Pedro Barata acredita que, “pelo facto da grande maioria das empresas serem bastante bem geridas e financeiramente bastante sólidas, elas poderão atrair novos investidores que procuram ativos bem geridos, sólidos financeiramente, mas ainda pouco conhecidos e valorizados” e, “a confirmar-se esta ideia, será sem dúvida uma boa notícia para o mercado português e para a valorização das empresas que o compõem e isso leva-nos a estar moderadamente otimistas para o mercado português em 2025″.
David Afonso, do departamento de ações da IMGA, concorda que “a recuperação das empresas do setor de utilities, que representam mais de 25% do índice, desempenhará um papel decisivo na valorização do PSI“.
O gestor da IMGA refere ainda que “o setor bancário parece encontrar-se num contexto favorável, em que a resiliência económica dará suporte a uma tendência de redução das taxas de juro, concretamente em Portugal, onde a expectativa é de crescimento superior ao do agregado da Área Euro.”
Os títulos do setor de Utilities foram fortemente fustigados ao longo do ano de 2024. A tendência de redução de taxas de juro é historicamente benigna para o setor, pelo que uma revalorização dos títulos do setor poderia ditar ganhos interessantes para os componentes da bolsa nacional que aí se incluem.
Já os títulos do setor de utilities, que foram fortemente fustigados ao longo do ano de 2024, costumam beneficiar com a redução de taxas de juro, diz, “pelo que uma revalorização dos títulos do setor poderia ditar ganhos interessantes para os componentes da bolsa nacional que aí se incluem”, explica David Afonso.
A EDP e a EDPR lideraram as descidas em 2024, com as quedas a serem intensificadas com a vitória de Donald Trump nas últimas presidenciais nos EUA. Este desempenho afastou as cotações das avaliações dos analistas, aumentando o potencial de subida destas empresas.
No caso da elétrica, o preço-alvo médio dos 16 bancos de investimento que seguem a companhia, de 5,6 euros, apresenta uma margem de progressão de cerca de 80% face à cotação atual, segundo os targets partilhados pela EDP. Já a EDP Renováveis tem um target médio de 15,32%, segundo a informação partilhada no seu site, uma avaliação que representa um potencial de subida de cerca de 59%, com avaliações a começarem em 10 euros e a terminarem em 22 euros.
Nas telecomunicações, o novo entrante [a Digi estreou-se no mercado nacional no passado mês de novembro] ameaça e as valorizações mantêm-se deprimidas e dividend yields elevados, ainda assim, o desempenho operacional dos incumbentes é notável.
António Seladas, analista da AS Independent Research, numa análise setorial, refere que “o retalho alimentar mantém uma execução positiva, apesar de pressão nos custos com pessoal e concorrência”.
“Nas telecomunicações, o novo entrante [a Digi estreou-se no mercado nacional no passado mês de novembro] ameaça e as valorizações mantêm-se deprimidas e dividend yields elevados, ainda assim, o desempenho operacional dos incumbentes é notável”, considera o analista.
A NOS é atualmente a única representante do setor das telecomunicações na bolsa nacional. A operadora liderada por Miguel Almeida, que fechou os primeiros nove meses do ano com um crescimento dos lucros de 59,2% para 201,1 milhões de euros, regista uma subida tímida em 2024 e apresenta um potencial de subida de cerca de 45% face ao preço-alvo médio de 4,775 euros fixado pelos analistas que acompanham a empresa, segundo a informação partilhada no site da empresa.
Dos 17 bancos de investimento que seguem a operadora apenas o JPMorgan Chase e o Citi, com targets de 3,3 e 3,40 euros, avaliam a empresa com um valor próximo da cotação atual, sendo que a Bestinver é o único banco que atribui um preço-alvo acima de cinco euros (5,25 euros).
Quanto à banca, António Seladas tem uma abordagem mais cautelosa, referindo que “o ajustamento nas taxas de juro, que ocorre e se espera em 2025 na Área Euro, comprime as margens e não é linear que esta compressão seja compensada pelo aumento dos volumes de crédito”.
Na pasta e papel, a previsão do analista aponta para um início de ano deprimido, com o preço da pasta pressionado, excesso de oferta e procura fraca. O segundo semestre poderá inverter esta tendência, “principalmente porque em 2026 não deverá haver nova capacidade de pasta no mercado, ao contrário dos anos de 2027, 2028 e 2029”.
Trump, economia e geopolítica lideram riscos
Guilherme Pavão, especialista da área de Research do Bankinter, antecipa um 2025 “marcado por incertezas, onde ‘cautela’ será a palavra de ordem”. “A principal fonte de incerteza centra-se naquilo que serão as ações do novo presidente americano, Donald Trump, ao assumir o cargo na Casa Branca já que a maioria republicana em ambas as Câmaras do Congresso aumenta a sua capacidade de materializar as suas medidas”, diz Guilherme Pavão.
Por outro lado, o mesmo especialista aponta “a instabilidade política das duas maiores economias [Alemanha e França] continua a travar o crescimento da União Europeia” e a questão geopolítica: “com duas guerras em aberto, existe o risco de um aumento súbito nas tensões globais que desencadearia um derrubar generalizado nas bolsas mundiais”.
A principal fonte de incerteza centra-se naquilo que serão as ações do novo presidente americano, Donald Trump, ao assumir o cargo na Casa Branca já que a maioria republicana em ambas as Câmaras do Congresso aumenta a sua capacidade de materializar as suas medidas.
“Apesar disso, acreditamos que os investidores têm demonstrado maior resiliência em navegar por este ambiente de incertezas, embora oscilações mais acentuadas possam sempre surgir de forma inesperada”, argumenta Guilherme Pavão.
Perante este cenário, o Bankinter, na Europa, prefere empresas com um historial sólido e atrativo de distribuição de dividendos. “Empresas menos expostas à ciclicidade económica devem beneficiar dos esperados cortes nas taxas de juro por parte do Banco Central Europeu”, justifica o especialista, destacando os setores das Infraestruturas e Redes de Energia.
“A entrada de um novo governo na maior economia mundial será temática recorrente, em virtude da elevada expectativa em torno da política fiscal e comercial que será adotada”, acrescenta David Afonso. No que diz respeito a Portugal, o responsável da IMGA nota que “a resiliência económica do país e dos seus principais parceiros comerciais será fulcral”. “Os resultados empresariais deverão ditar a performance bolsista, numa altura em que se perspetiva que Portugal continue a registar crescimentos acima do agregado da Área Euro“, remata.
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