Galp vai mudar (outra vez) de CEO?

Os últimos dois CEO da Galp saíram da empresa por alegadas divergências com a maior acionista, pressões de mercado e críticas do poder político. E Filipe Silva, vai ser o terceiro a cair?

A liderança da Galp GALP 0,00% está, novamente, envolta em polémica, com um alegado relacionamento do CEO com uma diretora a ser investigada pelo comité de ética. As consequências desta denúncia, noticiada em primeira mão pelo ECO, são ainda imprevisíveis e sem prazo para serem conhecidas, mas o histórico recente da petrolífera demonstra alguma turbulência na presidência executiva, mesmo na ausência de volatilidade acionista.

Nos dois últimos mandatos da Comissão Executiva, Filipe Silva é o terceiro CEO nomeado pelo conselho de administração liderado por Paula Amorim, encontrando-se em funções desde 1 de janeiro de 2023 e, segundo a lei em vigor, até 31 de dezembro de 2026. O futuro do gestor, que é também vice-presidente do conselho de administração, pode estar nas mãos da Comissão de Ética e Conduta.

O último ‘relacionamento’ de longa duração entre a alta gestão da Galp e a sua estrutura acionista ficou materializado na figura de Carlos Gomes da Silva, que teve funções na gestão executiva durante 14 anos – seis dos quais na liderança da petrolífera. Apesar da longevidade no cargo, Carlos Gomes da Silva acabou por sair antes do fim do segundo mandato, em janeiro de 2021, por causa de alegadas divergências com Paula Amorim, chairwoman e maior acionista em nome da Amorim Energia, que controla 36,7% da empresa.

A ‘sombra’ da filha de Américo Amorim, empresário que tinha escolhido Gomes da Silva para chefiar a empresa, a suposta falta de alinhamento entre as partes, as pressões do investimento em renováveis e os prejuízos de 45 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2020 ditaram este desfecho, tal como escreveu o ECO em várias newsletters publicadas na altura.

Os motivos da renúncia de Carlos Gomes da Silva – sucessor de Manuel Ferreira de Oliveira, CEO durante nove anos – nunca foram oficialmente divulgados, havendo apenas espaço para um agradecimento formal da Galp pelos “importantes serviços prestados” e votos de um futuro sucesso profissional.

Brown saiu pelo próprio pé

A escolha recaiu sobre o gestor britânico Andy Brown, que trabalhou 35 anos no setor petrolífero, nomeadamente na multinacional Shell. Caracterizado por “um perfil de liderança dinâmico, foco na performance, segurança, bem-estar e desenvolvimento de pessoas” pela Galp, era a esperança de sol após a tormenta para completar aqueles últimos dois anos de mandato.

De facto, conseguiu levar a Galp a atingir os lucros mais elevados até à data (420 milhões de euros), catapultados pela subida dos preços do petróleo, mas outros fatores negativos sobrepuseram-se, como a instabilidade no setor (crise energética) e a pressão pública sobre os lucros excessivos e o prolongar da polémica sobre o fecho da refinaria de Matosinhos.

A medida, decidida ainda no tempo de Gomes da Silva, resultou no corte de 150 postos de trabalho, mas ainda em setembro de 2021 o então primeiro-ministro António Costa fazia acusações de “total irresponsabilidade social”. Num comício do PS em setembro desse ano, António Costa disse que foi “um exemplo de escola de tudo aquilo que não deve ser feito por uma empresa que seja uma empresa responsável”. “Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade”, atirou, criticando a gestão dos despedimentos por parte da Galp.

Tal como o ECO apurou aquando da renúncia de Andy Brown em outubro de 2022, a decisão de sair terá sido do próprio. E surpreendeu o mercado, que dada a estratégia virada para os recursos naturais, esperava que continuasse por um novo mandato – desta vez, na íntegra. É então nesse contexto que, um mês mais tarde, surge “por unanimidade” o nome de Filipe Silva, Chief Financial Officer (CFO) desde 2012 e, portanto, prata da casa.

Na sexta-feira, veio a público, através de uma notícia do ECO, que a Comissão de Ética e Conduta da Galp está a investigar uma denúncia relativa ao presidente executivo da empresa. FIlipe Silva confirmou a investigação em curso, embora não se tenha pronunciado sobre o conteúdo na mesma. “Sim, tive conhecimento da denúncia, mas não conheço o teor da mesma e assim que tiver conhecimento dela apenas a discutirei com a Comissão de Ética”, escreveu Filipe Silva, numa resposta enviada ao ECO, quando questionado sobre o assunto.

Em análise estarão alegados conflitos de interesse devido a um relacionamento próximo e pessoal, mantido em segredo por Filipe Silva, com uma diretora de topo que é hierarquicamente dependente do CEO da petrolífera.
Durante o fim de semana e esta segunda-feira o tema ganhou expressão nacional e internacional através de agências noticiosas, como Bloomberg e Reuters.

O Código de Ética e Conduta da Galp não faz referência à obrigatoriedade de reportar uma relação íntima com outro membro da companhia, exceto se houver – ou percecionar-se que haja – conflito de interesses.

“As pessoas da Galp têm a obrigação de reconhecer quando estejam, possam vir a estar ou possam ser percecionados como estando perante uma situação que configure conflito de interesses. Nas circunstâncias em que identifiquem estar perante um conflito de interesses, devem reportar através da plataforma existente para o efeito, por forma a que sejam tomadas as medidas que permitam eliminar ou gerir tais conflitos”, assinala o documento.

Ainda assim, em 2023, das 54 participações – das quais 21 sobre assédio moral e cinco com potencial conflito de interesses – recebidas por esta comissão apenas seis levaram à adoção de medidas, de acordo com o relatório e contas analisado pelo Expresso.

Do Euro ao lítio. Outras polémicas da Galp

  • Galpgate
    Caso das viagens a França oferecidas a políticos, com bilhetes para o campeonato europeu de futebol (Euro 2016), que terminou em tribunal. Três anos mais tarde, o Ministério Público acusou 18 dos 26 arguidos por crimes de recebimento indevido de vantagem. Ex-secretários de Estado, assessores e autarcas foram acusados.
  • Refinaria de Matosinhos
    O fecho da refinaria de Matosinhos, apesar da importância no processo de transição energética, gerou o despedimento de centenas de pessoas e acusações de diversas forças políticas, incluindo o próprio líder do Executivo PS.
  • Lítio
    Mais recentemente, em novembro de 2024, a Galp abandonou o chamado projeto “Aurora” para uma refinaria de lítio em Setúbal, dois meses depois de a empresa sueca Northvolt ter feito uma revisão dos planos estratégicos que levou à desistência da parceria com a cotada portuguesa.

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