Bruxelas desvaloriza ameaça de Trump sobre Gronelândia: “É uma situação hipotética”

Comissão Europeia desvaloriza, para já, ameaças de uma invasão militar à Gronelândia e à adoção de tarifas "a um nível muito elevado" contra a Dinamarca. "É uma situação hipotética", diz.

A Comissão Europeia desvalorizou as ameaças que Donald Trump fez em relação a uma possível invasão militar à Gronelândia caso a Dinamarca se recusasse a vender o território aos Estados Unidos. Em resposta aos jornalistas, os porta-vozes do executivo comunitário consideraram o cenário “hipotético“, recusando a comparação de um risco de se suceder uma invasão à semelhança do que aconteceu na Ucrânia, em 2022.

Estamos a falar de situações hipotéticas e de uma Administração que ainda não tomou posse“, começou por referir um porta-voz da Comissão, durante a conferência de imprensa diária, em Bruxelas, frisando que o executivo comunitário tem procurado manter um canal de diálogo aberto com os Estados Unidos sobre interesses comuns.

“Muitas ameaças não se concretizaram. Não vemos qualquer necessidade, neste momento, de ir além do que já dissemos. A nossa principal preocupação é encontrar questões em comum com a nova Administração quando esta entrar em funções“, frisou. Certo, é que aos olhos do executivo comunitário “a soberania dos Estados tem de ser respeitada” considerando ser esse um “valor” da União Europeia.

Ainda assim, o executivo comunitário confirmou que qualquer ação militar contra a Gronelândia ativaria a cláusula de assistência mútua da UE prevista nos tratados.

A posição da Comissão Europeia surge um dia depois de Donald Trump ter ameaçado aplicar tarifas “a um nível muito elevado” contra a Dinamarca se esta não cooperasse a Gronelândia aos Estados Unidos. Embora a Gronelândia seja um território autónomo, continua a depender financeiramente da Dinamarca.

“As pessoas não sabem se a Dinamarca tem qualquer direito legal sobre [a Gronelândia], mas se tiverem, devem abandoná-lo, porque necessitamos dela para a segurança nacional”, disse Trump, durante a conferência de imprensa desta terça-feira, em Mar-a-Lago, na Florida.

O Presidente eleito não rejeitou a hipótese de recorrer a “coerção militar ou económica” contra aquele território — e o Canal do Panamá — caso o pedido não seja atendido. “Não, não posso assegurar nenhuma das duas, mas posso dizer isto: precisamos deles para a segurança económica”, reiterou.

Embora a Comissão Europeia não tivesse assumido uma posição mais firme em relação às ameaças de Donald Trump, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen já respondeu dizendo estar absolutamente contra a venda da Gronelândia.

“A Gronelândia pertence aos gronelandeses. Como disse o primeiro-ministro Mute Egede, a Gronelândia não está à venda“, disse Frederiksen, ressalvando que os Estados Unidos são o “aliado mais próximo” da Dinamarca. Ainda assim, a primeira-ministra deixou a ressalva que o investimento dos EUA no território autónomo é bem-vindo.

Dentro do bloco europeu, o chefe da diplomacia francesa, Jean-Noel Barrot, disse que a União Europeia não vai permitir que países “ataquem fronteiras soberanas” do bloco europeu, referindo-se à nova ameaça de Donald Trump sobre a anexação da Gronelândia.

O território autónomo dinamarquês é altamente cobiçado pelos recursos naturais — embora a prospeção de petróleo e a extração de urânio sejam proibidas. A região é também importante do ponto de vista geoestratégico sendo que os Estados Unidos têm uma base militar na Gronelândia.

Ulrik Pram Gad, especialista em questões relacionadas com a Gronelândia no Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais, disse esta manhã à AFP que é preocupante a forma como o futuro Chefe de Estado Donald Trump fala sobre as relações entre os países.

Esta não é a primeira vez que o bilionário norte-americano mostra interesse na Gronelândia. Em 2019, durante o primeiro mandato como Presidente dos Estados Unidos considerou comprar a Gronelândia, mas a proposta foi recusada. Donald Trump toma posse a 20 de janeiro.

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