Dados do emprego atiram taxa das obrigações dos EUA a 30 anos para 5%
A vitalidade do mercado de emprego nos EUA provocou uma forte contração das expectativas para a ocorrência de novos cortes das taxas de juro pela Fed que está a pressionar a dívida e Wall Street.
O mercado de obrigações dos EUA sofreu um forte abalo esta sexta-feira, com as yields a dispararem em toda a curva de rendimentos e as bolsas a afundarem, após a divulgação de dados surpreendentemente robustos do mercado laboral norte-americano.
De acordo com os dados revelados pelo Departamento do Trabalho, a economia dos EUA adicionou 256 mil postos de trabalho em dezembro, número 55% superior às 165 mil contratações previstas pelos economistas consultados pela Reuters e 13% acima dos números de novembro. Este aumento representa o maior ganho mensal desde março do ano passado, sinalizando uma resiliência do mercado de trabalho face às taxas de juro elevadas e à incerteza política que se avizinha com a tomada de posse de Donald Trump como 47.º Presidente dos EUA a 20 de janeiro.
Paralelamente, a taxa de desemprego caiu para 4,1%, contrariando as expectativas do mercado de que se manteria estável nos 4,2%. Esta queda na taxa de desemprego é particularmente significativa, uma vez que as revisões anuais dos dados revelaram que o pico de desemprego em julho de 2024 foi, na realidade, inferior ao inicialmente reportado.
“As preocupações sobre o risco de uma deterioração acentuada das condições do mercado de trabalho em setembro – quando a Fed começou a reduzir as taxas – quase que se evaporaram, e parece bastante certo que o ritmo dos cortes das taxas da Fed vai agora abrandar”, escreveu Brian Coulton, economista-chefe da Fitch, numa nota após o relatório.
Antes da publicação dos dados do emprego nos EUA, os mercados antecipavam um corte completo de 25 pontos base das Fed Funds em junho. Após a divulgação dos dados, essa expectativa foi adiada para setembro, com alguns traders a preverem que o primeiro corte possa ocorrer apenas em outubro.
Os números do mercado de trabalho nos EUA revelaram um crescimento muito acima do esperado nas contratações e uma queda inesperada na taxa de desemprego, levando os investidores a recalibrar significativamente as suas expectativas quanto à política monetária da Reserva Federal norte-americana (Fed).
Os swaps de taxas de juro passaram a incorporar apenas cerca de 30 pontos base de cortes totais das Fed Funds para este ano, em comparação com os 38 pontos base previstos antes da divulgação do relatório. Esta revisão em baixa das expectativas de cortes de taxas reflete a crescente convicção de que a Fed poderá manter uma postura mais restritiva por um período mais prolongado.
Além disso, antes da publicação dos dados do emprego nos EUA, os mercados antecipavam um corte completo de 25 pontos base das Fed Funds em junho. Após a divulgação dos dados, essa expectativa foi adiada para setembro, com alguns traders a preverem que o primeiro corte possa ocorrer apenas em outubro, segundo dados da ferramenta CME FedWatch. No entanto, são também alguns os que apostam que a Fed não voltará a cortar as Fed Funds este ano. É o caso do Bank of America, que numa nota enviada aos clientes do banco pouco depois dos dados do mercado de trabalho, revelou não antecipar mais cortes das taxas este ano.
“O nosso cenário base prevê que a Fed se mantenha numa posição de espera prolongada”, escrevem os analisas do banco norte-americano, notando inclusive que “os riscos para o próximo passo [da Fed] estão inclinados para uma subida”.
Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.
Emprego afunda bolsas e torna mais caro o preço da dívida
Também de forma imediata à divulgação dos números do mercado de trabalho norte-americano reagiu o mercado obrigacionista. A yield das obrigações do Tesouro dos EUA (Treasuries) a 30 anos ultrapassou a barreira psicológica dos 5% pela primeira vez em mais de um ano, enquanto a yield das obrigações a 10 anos subiu para 4,79%, o nível mais elevado desde 2023.
As yields das Treasuries com maturidades entre 2 e 7 anos registaram aumentos superiores a 10 pontos base, refletindo uma reavaliação generalizada das expectativas de política monetária a curto e médio prazo.
A perspetiva de taxas de juro mais elevadas por mais tempo teve também um impacto negativo imediato nos mercados acionistas. Os índices Dow Jones e S&P 500 estão a cair 1,5% e 1,6%, respetivamente, e o tecnológico Nasdaq está a perder quase 2%.
O relatório de emprego levanta questões importantes sobre a trajetória da inflação e sobre a política monetária futura da Fed. Embora o crescimento salarial tenha mostrado sinais de moderação, com um aumento anual de 3,9% em dezembro, a robustez geral do mercado laboral pode alimentar preocupações sobre pressões inflacionistas persistentes.
Estas preocupações foram reforçadas pelos dados preliminares do índice de sentimento do consumidor da Universidade do Michigan, que mostraram um aumento das expectativas de inflação a longo prazo para o nível mais elevado desde 2008.
Apesar do bom desempenho do mercado laboral em 2024, com a adição de 2,2 milhões de empregos ao longo do ano, as perspetivas para 2025 permanecem incertas. A economia dos EUA enfrenta vários desafios, incluindo o impacto potencial das políticas da administração Trump, particularmente no que diz respeito à imigração e ao comércio internacional.
As propostas de Donald Trump para restringir drasticamente a imigração podem ter um impacto significativo no crescimento da força de trabalho, que tem sido uma fonte importante de expansão económica nos últimos anos. Além disso, os planos para aumentar as tarifas sobre os principais parceiros comerciais dos EUA podem pesar sobre o crescimento económico, como têm alertado vários especialistas.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Dados do emprego atiram taxa das obrigações dos EUA a 30 anos para 5%
{{ noCommentsLabel }}