Maioria está otimista com o regresso de Trump. Europa com ansiedade generalizada
Uma Europa “ansiosa” e o resto do mundo “otimista”. É desta forma que é encarado o regresso de Trump como Presidente dos EUA, que toma posse na próxima segunda-feira.
Trump regressa à Casa Branca na próxima segunda-feira, 20 de janeiro, como 47º presidente dos Estados Unidos. Na Europa, a ansiedade é generalizada (e as últimas declarações do futuro presidente em nada têm contribuído para apaziguar as tensões) mas, em muitos outros países, as pessoas sentem-se positivas em relação ao segundo mandato de Trump.
As conclusões surgem numa sondagem realizada pelo European Council on Foreign Relations (ECFR) realizada em novembro de 2024 em 11 países da União Europeia (Bulgária, Dinamarca, Estónia, França, Alemanha, Hungria, Itália, Polónia, Portugal, Roménia, Espanha), na Rússia, Suíça, Turquia, Ucrânia e Reino Unido e oito países não europeus (Brasil, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul e Estados Unidos). Ao todo, foram ouvidos 28.549 inquiridos com o objetivo de medir o pulso da opinião pública global em relação a Donald Trump e aos próximos tempos da política mundial.
De acordo com os resultados, a maioria dos cidadãos de Índia, China, Turquia e Brasil estão otimistas quanto ao regresso de Donald Trump ao poder. Nestas nações, um retorno de Trump à Casa Branca será “positivo” tanto para a paz no mundo como para o seu país e para os cidadãos norte-americanos. Esta opinião é especialmente evidente na Índia, onde a satisfação com Trump supera a de todos os participantes no inquérito: 82% dos inquiridos consideram que o regresso de Trump é “bom” para a paz no mundo; 84% consideram-no bom para o “seu país”; e 85% “bom” para os cidadãos norte-americanos.
Na África do Sul, Turquia, Indonésia, Ucrânia e Suíça, embora a maioria dos inquiridos não seja clara quanto ao impacto que um regresso de Trump poderá ter para o próprio país, a maioria dos cidadãos diz-se otimista em relação ao impacto que o futuro presidente norte-americano terá na paz no mundo e mesmo no próprio povo norte-americano.
No entanto, os especialistas da ECFR consideram que o acolhimento de Trump nestes países pode mudar rapidamente, se as ameaças em relação às políticas tarifárias se materializarem — ou se as promessas que fez em relação à resolução dos conflitos no Médio Oriente ou na Europa ficarem aquém do expectável.
Em contrapartida, em 11 países da União Europeia (sendo Portugal um deles), apenas 29% dos inquiridos pensam que o regresso de Trump será bom para a paz no mundo. A percentagem encolhe mais um bocado quando a questão é se Trump na Casa Branca será “bom” para o seu país (22%), mas volta a subir ligeiramente quando questionados sobre se será bom para os cidadãos norte-americanos (34%).
Só na Coreia do Sul (67%) e no Reino Unido (54%) é que o pessimismo é superior, com apenas 11% e 15%, respetivamente, a prever um efeito positivo no regresso de Donald Trump à Casa Branca.
Hoje, apenas 22% dos europeus diz ver os EUA como um aliado — um valor significativamente inferior ao registado há dois anos (31%) e que corresponde a menos de metade da percentagem de americanos que consideram a UE um aliado (45%). De facto, o número de americanos que veem a UE como um aliado manteve-se estável e a percentagem dos que a consideram um parceiro necessário até aumentou, de 24% para 32%.
Influência dos EUA deverá aumentar… tal como a da China
Com o regresso de Trump, os inquiridos consideram que a influência dos Estados Unidos no mundo deverá aumentar. Mas não ao ponto disso resultar num domínio global.
A opinião predominante, em todos os públicos inquiridos, é que os EUA terão “mais” influência global nos próximos dez anos. Porém, a ideia de um domínio dos EUA não é amplamente partilhada, nem reflexo de que a América se tornará “grande de novo”, como o futuro presidente tem prometido. A expectativa é de que a China seja tão ou mais competitiva.
Para a maioria dos inquiridos da China (81%), Rússia (77%), Arábia Saudita (71%), Turquia (68%), Indonésia (68%), África do Sul (67%), Suíça (59%), Brasil (56%), UE (55%) e Reino Unido (52%), a China irá tornar-se na potência mais forte do mundo nos próximos 20 anos.
Apenas na Ucrânia e na Coreia do Sul existem maiorias que consideram esse resultado “improvável” – com 86% e 68%, respetivamente; já a opinião pública na Índia (45%) e nos EUA (41%) está dividida quanto a este ponto.
Quanto à relação entre os dois países, a maioria dos americanos acredita que as relações do seu país com a China se manterão inalteradas (22%) ou melhorarão (37%) efetivamente nos próximos cinco anos — altura em que Donald Trump já estaria fora da Casa Branca, desta vez para não voltar, devido a limitação constitucional.
Na China, o otimismo não é tão visível. Apenas 25% dos inquiridos prevê uma melhoria nas relações entre os dois países, com 29% a acreditar num enfraquecimento.
No entanto, a maioria dos chineses (44%) e americanos (42%) admite ser mais provável que as tensões entre Pequim e Washington diminuam assim que Trump regressar à Casa Branca. Nesta questão, e olhando para o bloco que se encontra entre os dois países, o otimismo da UE é refletido em apenas 25% das respostas.
Maioria antecipa fim dos conflitos no Médio Oriente e Ucrânia com Trump
Acabar com a guerra na Ucrânia “em 24 horas” foi uma das promessas eleitorais de Trump. Não se sabe ao certo quando é que isso será, mas o presidente norte-americano já indicou que está focado em agendar uma reunião com Vladimir Putin, assim que tomar posse.
Além de ter prometido resolver o conflito na Ucrânia, Trump também prometeu dar resposta ao conflito no Médio Oriente, tendo o próprio deixado a ameaça de que “o inferno vai rebentar” se os reféns israelitas do Hamas não forem libertados nos próximos dias. Precisamente esta quarta-feira, foi anunciado um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, com Trump a reclamar para si os louros, apesar de ainda não ter tomado posse.
Na maioria dos países inquiridos, a maior parte da opinião pública considera que Trump é um pacificador.
Muitos — especialmente na Índia (65%), Arábia Saudita (62%), Rússia (61%), China (60%), África do Sul (53%) e nos próprios EUA (52%) — acreditam que o presidente conseguirá pôr termo à guerra na Ucrânia, que se aproxima do seu terceiro ano.
No entanto, menos pessoas partilham esta opinião na Europa. Apenas 34% acredita que Trump é um pacificador, e 26% diz mesmo ser pouco provável que o conflito entre Kiev e Moscovo seja resolvido graças ao inquilino da Casa Branca. No que toca à resolução das tensões no Médio Oriente, a perceção dos inquiridos é, de forma geral, muito semelhante.
A maioria dos inquiridos dos 24 países atribui culpas à Rússia pelo início da guerra, com 25% dos russos a apontar dedos a ambos os lados e 24% somente à Ucrânia. Ainda assim, a grande maioria prevê que o resultado final do conflito chegue com os dois países a chegarem a um acordo.
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