Morais Leitão já tem sócios não advogados. E a concorrência? Apenas a PLMJ respondeu
A Advocatus questionou alguns dos principais escritórios para saber se já são sociedades multidisciplinares. Apenas a PLMJ respondeu que sim. Vieira de Almeida não respondeu.
Recentemente, a Morais Leitão – em comunicado oficial – anunciou que acaba de adotar o regime da multidisciplinaridade. Ou seja: passou a ter sócios não advogados na sua estrutura. Carlos Eduardo Coelho, Diretor de Inovação e Conhecimento e agora também sócio de indústria, será responsável por liderar os serviços de consultoria e desenvolvimento tecnológico.
A Advocatus questionou alguns dos principais escritórios do mercado para saber se estariam a seguir o mesmo caminho. Mas sem grande sucesso: CMS Portugal, Cuatrecasas, Pérez-Llorca, Vieira de Almeida, SRS Legal, Uría e Garrigues remeteram-se ao silêncio.
A TELLES respondeu apenas que estão “a analisar o tema da multidisciplinaridade”. A Abreu Advogados respondeu, explicando que o escritório mantém-se como uma sociedade advogados mas que procura, e sempre procurou no passado, “compreender o negócio dos seus clientes e oferecer-lhes soluções completas e adaptadas às suas necessidades, associando-se ou envolvendo equipas multidisciplinares quando oportuno”, disse fonte oficial do escritório liderado por Inês Sequeira Mendes. “Em suma, procuramos combinar a vasta diversidade de perspetivas, experiências e competências dos nossos profissionais – multifacetados, prudentes e criativos – com a apresentação aos nossos clientes de soluções articuladas, sólidas, rigorosas e exequíveis”. (ver resposta completa abaixo).
PLMJ já é sociedade multidisciplinar
Já a PLMJ passou a sociedade multidisciplinar no final de 2024, um passo que permite “servir os nossos clientes de forma mais integrada e respondendo a necessidades que estes nos foram trazendo e que, sendo complementares ao que é e sempre será o core da PLMJ – a assessoria jurídica – estamos numa posição privilegiada para responder”. O mesmo se pode verificar na assinatura oficial do escritório, que já se identifica como sociedade multidisciplinar.
“A equipa de gestão da PLMJ tem hoje uma sofisticação de competências que nos permite reforçar a colaboração com os nossos clientes em áreas que são críticas para os nossos clientes e que vêm muitas vezes a jusante e a montante do trabalho mais core de advocacia e que exigem um nível de confiança que já está estabelecido no contexto da assessoria jurídica. Estamos a pensar no apoio tecnológico, na gestão de crise, por exemplo. Queremos que este passo seja ainda um contributo para uma maior colaboração e complementaridade entre os escritórios e as equipas in-house e achamos que há aqui uma oportunidade para apoiarmos os nossos clientes em áreas como o Legal Tech e Legal Operations”, segundo Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ explicou ao ECO/Advocatus.
“Dentro da equipa de gestão identificámos o talento que precisávamos para dar este passo que muito nos entusiasma e a Alexandra Almeida Ferreira (Diretora de Marca e Comunicação) e a Daniela Amaral (Diretora de Estratégia e Desenvolvimento de Negócio) são agora sócias não advogadas da PLMJ”, adiantou.
A Abreu Advogados responde mas sem responder…
Já no caso da Abreu Advogados – como referido no início do texto -a resposta não é linear. “Os clientes procuram os nossos serviços para questões bastante abrangentes e confiam na nossa capacidade de compreender e antecipar o trabalho que será necessário realizar. As equipas multidisciplinares respondem de forma mais completa e coerente aos desafios e tendem a ir ao encontro do objetivo final do cliente: a solução mais sólida e rápida para o seu assunto. Não as construímos sozinhos: trabalhamos em interação próxima com cada um dos nossos clientes. Propomos-lhes os nossos serviços ao mesmo tempo que apresentamos a equipa que acreditamos ser a melhor para lhes prestar o melhor serviço”, diz fonte oficial do escritório.
“Muitas vezes os clientes podem até não se dar conta das diversas áreas que podem estar envolvidas num mesmo projeto. Procuramos, assim, assumir uma visão de 360 graus sobre cada um deles para contribuirmos para o seu sucesso do modo mais completo possível, construindo para tal equipas compostas por quem tenha capacidades tão elevadas quanto complementares. Um exemplo disso é o apoio do Instituto de Conhecimento da Abreu Advogados e dos seus hubs de conhecimento, nomeadamente em áreas como a tecnologia, a sustentabilidade e os assuntos europeus”, concluiu.
Morais Leitão: a primeira sociedade a anunciar
Na semana passada, a Morais Leitão anunciou a sua transição para uma sociedade multidisciplinar de profissionais, “com uma nova oferta de soluções de base tecnológica”.
Assim, o escritório apresenta um novo modelo de negócio, a ML Tech and Knowledge, que complementa os serviços jurídicos prestados em consultoria e desenvolvimento tecnológicos, consultoria de gestão e inteligência artificial. “Este modelo distingue-se pela articulação de quatro fatores-chave: foco no cliente, conhecimento jurídico, inovação e transformação digital e one stop shop com valências diferenciadas”, explica o escritório, em comunicado.
A criação da ML Tech and Knowledge representa “um marco no posicionamento inovador da Morais Leitão, ao agregar competências avançadas em tecnologia e gestão aos reconhecidos serviços jurídicos da sociedade. Esta evolução responde aos desafios do mercado e às necessidades dos clientes, reforçando a posição competitiva da sociedade”, diz o mesmo comunicado.
Carlos Eduardo Coelho, Diretor de Inovação e Conhecimento e agora também sócio de indústria, será responsável por liderar os serviços de consultoria e desenvolvimento tecnológico. Com a Morais Leitão desde 2014, tem um percurso em gestão e processos de inovação em sociedades de advogados.
Com esta estratégia, “a Morais Leitão reforça a sua vitalidade e sustentabilidade. Apostamos numa cultura eficiente e orientada para o cliente, integrando tecnologias sofisticadas nos serviços jurídicos, de forma competitiva e inovadora, com o apoio de equipas multidisciplinares altamente especializadas”.
Para Martim Krupenski, Managing Partner da Morais Leitão, “a nossa sociedade sempre foi pioneira na inovação das soluções jurídicas, mas hoje é já, também, pioneira em Portugal na integração de serviços tecnológicos com a prática jurídica. Esta mudança representa uma evolução na própria cultura de prestação de serviços jurídicos: a competência e o conhecimento jurídico de excelência são agora enriquecidos com camadas de tecnologia e inteligência artificial. Não mudámos a nossa essência, mas queremos elevar o serviço aos clientes a um novo nível. A colaboração multidisciplinar é não só uma resposta ao mercado, mas uma oportunidade estratégica para combinar as melhores competências jurídicas com as inovações mais avançadas no setor em tecnologia e análise de dados.”
Carlos Eduardo Coelho reforça que “esta transformação é um desafio empolgante e uma oportunidade única para consolidar a posição da Morais Leitão como referência em inovação no setor jurídico. Desde que me juntei à sociedade, temos apostado no desenvolvimento tecnológico como pilar estratégico para melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços que prestamos aos nossos clientes. Uma das minhas prioridades tem sido a organização interna e operacional, com foco em processos automatizados. Como sócio, estou empenhado em levar esta visão para os nossos clientes e para o próprio setor, liderando equipas multidisciplinares e desenvolvendo soluções que combinam tecnologia, consultoria e expertise jurídica. O futuro da advocacia passa, sem dúvida, por esta abordagem integrada.”
Mas afinal o que é isto de sociedades multidisciplinares?
Foi a Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro, que veio por fim à tradicional proibição das sociedades multidisciplinares com o regime jurídico das associações públicas profissionais através do artigo n.º 27. Esta norma, que foi transposta do artigo 25º da Diretiva 2006/123 do Parlamento Europeu, ditou que podem ser constituídas sociedades de profissionais que tenham por objeto principal o exercício de profissões organizadas numa única associação pública profissional, em conjunto ou separado com exercício de outras profissões ou atividades, desde que seja respeitado o regime de incompatibilidades.
No fundo as sociedades multidisciplinares são uma associação de várias profissões na mesma empresa/estrutura societária. Em termos práticos, e no caso concreto da advocacia, permite que advogados e, por exemplo, consultores, auditores ou até notários e solicitadores coexistam na mesma firma.
No caso dos advogados, pelo novo regime das associações públicas profissionais e pela nova redação do Estatuto da Ordem dos Advogados (EOA), em vigor desde abril de 2024, já podem também constituir-se através deste modelo. Artigo 212.º-A – Sociedades profissionais e multidisciplinares.
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