Inapa “sempre teve situação financeira de subcapitalização”

Antigo CEO da distribuidora de papel reconhece que a empresa sempre apresentou falta de capitais próprios, o que justificou pedidos de financiamento feitos à Parpública nos anos anteriores à falência.

A Inapa apresentou o seu pedido de falência no passado dia 29 de julho, na sequência de quebra de tesouraria de curto prazo na Alemanha, no entanto há muito que as contas da empresa apresentavam problemas, com uma dívida demasiado pesada para a sua estrutura. Frederico Lupi, antigo CEO da companhia, reconhece que “a Inapa sempre teve uma situação financeira de subcapitalização” e os esforços da administração, desde 2019, focaram-se em sensibilizar os acionistas para a necessidade de reforçar os capitais próprios da empresa. Gestão apresentou sete pedidos de financiamento à Parpública, mas foram todos rejeitados.

É preciso distinguir uma situação que é falta de capitais próprios vs falta de liquidez imediata, que foi o que se verificou no final da Inapa [com a quebra de tesouraria de curto prazo na Alemanha]. A Inapa sempre teve uma situação financeira de subcapitalização, ou seja, falta de capitais próprios face aos capitais alheios, vulgo empréstimos bancários, com os consequentes custos inerentes a essa situação”, explicou esta tarde Frederico Lupi, antigo administrador da distribuidora de papel, numa audição parlamentar, a pedido do Chega.

Confrontado pelos deputados com os problemas que a Inapa já apresentava nos anos anteriores e com a súbita falência em julho, meses depois de a empresa publicar o seu Relatório e Contas onde garantia a continuidade da atividade nos próximos 12 meses, Lupi insistiu que a situação financeira da Inapa – que vinha a deteriorar-se fruto da quebra do negócio da venda de papel e da elevada dívida – e a falha de liquidez na Alemanha são duas situações distintas, voltando a apontar responsabilidades à Parpública.

Lupi garantiu que a intenção da administração anterior [Lupi assumiu a liderança em junho de 2023], mas também da sua administração desde finais de 2019 era explicar “explicar aos acionistas esta situação” e conjuntamente com eles “discutir formas de reforçar os capitais próprios da Inapa”.

Quanto à Inapa, que detinha cerca de 45% da empresa, Lupi adiantou que havia contactos nesse sentido e os planos da empresa não passavam apenas pela injeção de dinheiro da Parpública. “Passava por uma injeção de dinheiro da Parpública, é verdade, mas também da parte dos bancos que, nessa altura eram acionistas, nomeadamente o Novobanco e o BCP, fazerem um perdão de dívida“, reiterou.

Segundo o anterior líder da falida Inapa, foram feitos “sete pedidos de financiamento diferentes para reforço de capitais próprios à Parpública, com diversas configurações”, acrescentando que “a Parpública sempre acompanhou a atividade da Inapa” e há cerca de 48 registos de contactos feitos com este acionista.

Frederico Lupi confirmou ainda que desconhecia – até poucos dias antes de informar sobre a falência do grupo e ter pedido que a Parpública participasse numa injeção de emergência de 12 milhões de euros para impedir a insolvência – que a empresa pública tinha a ordem — que já vinha do anterior Governo de António Costa — para não colocar dinheiro na Inapa. Uma informação que, disse, a gestão da empresa desconhecia até ao dia 18 de julho de 2024, três dias antes de anunciar que ia avançar com o pedido de insolvência na Alemanha e, consequentemente, em Portugal.

“Nunca tínhamos falado numa instrução no sentido de não financiar Inapa”, garantiu, referindo-se à reunião com o vice-presidente da Parpública, Marco Neves, no dia 18 de julho. Tal como também já tinha sido noticiado pelo ECO, face a esta informação, o então CEO da Inapa apelou diretamente ao secretário de Estado do Tesouro e das Finanças para que levantasse essa instrução, mas sem sucesso.

Questionado por que não procurou a Inapa outras alternativas para a empresa, perante as sucessivas recusas de financiamento do acionista Estado, desde 2020, Frederico Lupi adiantou que o fez e que tinha um entendimento com os chineses da JPP, tendo estes enviado “no início julho uma carta prévia de conclusão de compra até final 2024 e a possibilidade de um empréstimo temporário para suprir necessidades”. Contudo, sem a injeção de emergência na Alemanha a empresa não viu outra alternativa senão o pedido de insolvência.

Sobre o destino dos 200 trabalhadores da Inapa em Portugal, Frederico Lupi garantiu que na data em que renunciou como CEO, dia 22 de julho, não havia despedimentos e os salários estavam em dia.

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