Nos ganha músculo na tecnologia para empresas com compra da Claranet
Receitas do segmento empresarial da operadora têm subido à boleia do "momentum" do Corporate, que cresceu 12% até setembro com projetos de TI. Operação reforça peso da tecnologia no M&A em Portugal.
A Nos NOS 0,00% está a criar a bagagem para se tornar numa verdadeira fornecedora de Tecnologias de Informação (TI) para empresas. Em apenas seis meses, comprou uma participação minoritária numa startup de Inteligência Artificial (IA) e adquiriu a totalidade do capital da tecnológica Claranet Portugal ao grupo britânico com o mesmo nome por 152 milhões de euros.
Estrategicamente, a aposta faz sentido para a Nos, porque a operadora apercebeu-se de que os projetos tecnológicos que desenvolve com empresas estão a crescer, bem como o segmento de consultoria digital, que autonomizou há dois anos (Ten-Twenty-One). A ideia, segundo apurou o ECO, é que a Claranet se mantenha uma entidade autónoma (em vez de ser ‘engolida’ pela Nos) e, a partir daí, se façam sinergias e aumente o cross selling. Até porque o alvo emprega 900 pessoas no país e faturou 205 milhões de euros no exercício fiscal de 2024.
“A Claranet Portugal vai continuar a operar de forma autónoma, preservando a sua identidade, liderança, equipas de gestão e equipas operacionais, assim como a sua base sólida de clientes, mantendo o foco em continuar a prestar serviços de qualidade”, confirmou ao ECO fonte oficial da empresa liderada por António Miguel Ferreira, que contou com a assessoria da Uría Menéndez.
O que faz a Claranet? Fundada em Londres em 1996, a Claranet foi evoluindo de um ISP (Internet Service Provider) para um fornecedor de serviços geridos (managed services provider) independente, contando mais de 10 mil clientes empresariais a nível global. Atualmente, está especializada em armazenamento na nuvem (cloud), cibersegurança, aplicações e programas de dados e IA. A maioria do negócio está ligada à cloud e workplace, o nome que se dá aos softwares de comunicação internos das empresas ou programas colaborativos para os trabalhadores.
O grupo Claranet, do qual a subsidiária nacional faz parte desde 2005, conta com cerca de 3.300 colaboradores espalhados pelos 24 escritórios em 11 países (Reino Unido, Portugal, Brasil, França, Alemanha, Países Baixos, Suíça, Espanha, Itália, Índia e Estados Unidos da América), além de 50 centros de dados. Questionada sobre a ligação à holding, a Claranet Portugal diz ao ECO que “vai manter parceria estratégica com o grupo Claranet, dando continuidade à estreita colaboração internacional, em particular prestando serviços a clientes do Grupo Claranet noutros mercados”.
O crescimento da Claranet Portugal também tem sido por aquisições. Entre 2014 e 2017, a Claranet Portugal adquiriu cinco empresas: Echiron, Flesk, Outscope, Inok Consulting e ITEN Solutions. Nos anos da pandemia de Covid-19, a estratégia de M&A do grupo manteve-se, mas foi direcionada para mercados como Espanha e América Latina, deixando em suspenso as compras em terras lusas. A partir de 2022, voltou às compras em Portugal com a aquisição da Bizdirect (Digitmarket) por 12 milhões de euros, no âmbito de um acordo com a Sonae IM, a Aitec e o Banco BPI.
Algo que também poderá ter interessado à Nos são as dezenas de parcerias que a Claranet tem, nomeadamente com Lenovo, Huawei, Microsoft, Konica Minolta, Fábrica dos Unicórnios de Lisboa, entre outras. Até com a maior sociedade de advogados do país – Vieira de Almeida (VdA) – a empresa tem projetos de desenvolvimento tecnológico tendo sido responsável por criar e instalar um “ChatGPT” privado para o escritório, outras ferramentas de IA generativa e um programa de migração acelerada para a cloud.
“É uma organização suficientemente grande para lidar com projetos de qualquer escala, em qualquer indústria, mas suficientemente pequena para se adaptar facilmente às necessidades dos clientes, que estão em constante mudança”, sintetiza a própria empresa.
Crescimento “muito encorajador”
A Nos já está a colher frutos desta aposta no digital, como se vê pelo facto de as receitas do segmento empresarial terem registado um crescimento de 8,4%, para 269,1 milhões de euros, nos primeiros nove meses de 2024 devido ao “momentum positivo registado no segmento de Corporate, que aumentou 12,1%”, que foi “alavancado por um maior volume de projetos de TI”, de acordo com o relatório financeiro até setembro.
O CEO da NOS, Miguel Almeida, realçou o peso das soluções orientadas para a tecnologia no portefólio, principalmente no mercado empresarial, que regista um “crescimento muito encorajador”.
“Continuamos a lançar projetos inovadores, muitas vezes em colaboração, através do nosso Hub 5G, com empresas locais e parceiros de investigação académica e tecnológica. Estamos também muito satisfeitos com os resultados iniciais que observamos nas nossas operações adjacentes de valor acrescentado, como as soluções de segurança e de casa inteligente da Nos e a Ten-Twenty-One, o nosso negócio de consultoria de serviços de cloud”, comentou, na mensagem publicada com o mais recente relatório e contas. A Nos apresenta os resultados de 2024 no próximo dia 26 de fevereiro.
Às 14h52, as ações da Nos avançavam 1,50% para os 3,385 euros cada, numa sessão em que o índice PSI negoceia praticamente inalterado.
Quanto à Claranet, teve um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de aproximadamente 15 milhões de euros no exercício fiscal de 2024, mais 9% do que no mesmo período de 2023. Para esse número contribuiu o aumento de 15% na receita de serviços, sobretudo com as áreas de dados (data/AI) e segurança.
Destaque ainda para a intervenção da Claranet na proteção da banca dos hackers. Recentemente, num artigo de opinião enviado ao ECO, o diretor de serviços financeiros da Claranet Portugal explicava que, nos últimos anos, tem-se assistido a uma crescente sofisticação dos ataques de phishing, o que representa uma ameaça significativa para a segurança da informação não só das empresas como dos utilizadores.
Nuno Sousa detalhava que em 2023, segundo o Statista, foram detetados quase nove milhões de ataques de phishing em todo o mundo e, só no primeiro trimestre de 2024, havia quase um milhão de websites de phishing únicos.
“As práticas de phishing usando alfabetos não latinos, QR codes maliciosos e clones de websites bancários são, então, ameaças emergentes no ciberespaço que exigem vigilância constante e medidas de segurança aprimoradas. A prevenção eficaz deverá passar pela combinação de ferramentas tecnológicas, da educação do utilizador e de uma abordagem proativa para a segurança da informação. A colaboração entre governos, indústrias e indivíduos é vital para combater estas ameaças e proteger os dados sensíveis contra cibercriminosos”, escreveu o executivo da Claranet.
Tecnologia conquista segundo lugar nos negócios
O setor da Internet, software e serviços de TI foi o segundo mais dinâmico em termos de fusões e aquisições em Portugal no ano passado. Em 2024, registaram-se 70 transações nesta área, o que catapultou esta indústria do digital para o segundo lugar da tabela logo atrás do indestronável imobiliário (105 transações). Ainda assim, houve uma queda de 18% em termos homólogos, acompanhando a tendência do mercado transacional como um todo.
Segundo a base de dados TTR Data, o negócio de M&A do ano 2024 foi de biotecnologia: a venda da empresa portuguesa FairJourney Biologics, avaliada em 900 milhões de euros, ao fundo suíço Partners Group pela Global Healthcare Opportunities (GHO).
Os especialistas consultados pelo ECO garantem que este é um setor que continuará a sobressair no M&A, sobretudo devido a uma sigla que tem feito correr muita tinta: IA.
Já na semana passada a portuguesa PHC Software, até então liderada por Ricardo Parreira e com sede no Taguspark, rendeu-se à segunda investida da francesa Cegid, líder europeu de soluções empresariais na cloud para finanças, recursos humanos, retalho e setores empresariais, depois de uma primeira tentativa de aquisição em 2022.
Notícia atualizada às 16h58 com declaração da Claranet
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Nos ganha músculo na tecnologia para empresas com compra da Claranet
{{ noCommentsLabel }}