Contas das tecnológicas podem ser “ponto de viragem” nos mercados
Apesar da euforia da IA, o mercado prevê um abrandamento dos lucros das Sete Magníficas. A maioria divulga resultados esta semana. Hoje serão conhecidas as contas da Tesla, Microsoft e Meta.
Quatro das Sete Magníficas – Apple, Microsoft, Meta e Tesla – apresentam esta semana os resultados do quarto trimestre de 2024 e Wall Street está à espera de novas subidas de lucros e receitas, numa semana em que as atenções da tecnologia estiveram viradas para o Oriente. A era dourada e de cofres recheados das Big Tech vai continuar? Sim, mas a um ritmo inferior.
“As previsões para 2025 indicam um possível abrandamento no ritmo de crescimento nas receitas e resultados, com uma expectativa de crescimento combinado entre 15% a 20% para essas empresas, o que poderá corresponder a uma menor expansão relativamente a 2024”, diz ao ECO o responsável de Trading do Banco Carregosa, João Queiroz.
Neste pontapé de saída de resultados, são a Tesla, a Microsoft e a Meta que apresentam os resultados esta quarta-feira. Os holofotes estão apontados para a empresa de carros elétricos, cujas vendas anuais caíram, pela primeira vez, em 2024. A fabricante liderada por Elon Musk vai ter de mostrar ao mercado que é capaz de se manter relevante, com capacidade produtiva e crescimento sustentável, quando surgem as sombras das concorrentes chinesas, como a BYD. Para já, o consenso aponta para uma subida homóloga de 8% das receitas, para os 27,2 mil milhões. Logo, uma “subida estável, mas não eletrizante”, na opinião do Saxo Bank.
As previsões para a Meta apontam para um crescimento das receitas a dois dígitos (17-20%) para entre 45 a 48 mil milhões de dólares, bem como um lucro por ação de 6,75 dólares, após um aumento de 27% em termos homólogos. Segundo o Saxo Bank, estas contas serão escrutinadas por Wall Street sobretudo por causa do plano de investimento (capex) da dona do Facebook e Instagram para 2025, de 60-65 mil milhões de dólares.
“Com investimentos avultados em Inteligência Artificial (IA), domínio contínuo na publicidade e desafios colocados por novos concorrentes, como a DeepSeek, espera-se que o relatório seja um momento crítico para os investidores”, afirma o banco de investimento dinamarquês.
O analista Henrique Silva considera que a Meta está bem posicionada para ser “uma das grandes beneficiárias” do avanço da IA. “Os investidores estarão particularmente atentos para perceber quanto do seu crescimento de receita é impulsionado por esta tecnologia”, afirma ao ECO o trader da ActivTrades.
“Os resultados desta semana podem ser um ponto de viragem para os investidores. A componente de IA das gigantes tecnológicas tem inflacionado as suas valorizações em bolsa. Se os resultados superarem as expectativas, as Sete Magníficas deverão continuar o seu período de graça. Contudo, se os resultados vierem abaixo do esperado, e tendo em conta a elevada concentração no mercado nestas empresas, isso pode desencadear uma correção mais ampla, afetando o mercado como um todo”, assinala.
Espera-se que as grandes tecnológicas apresentem resultados alinhados com as expectativas do mercado, mas atendendo a que as avaliações destas empresas já estão bastante elevadas, resultados abaixo do esperado podem afetar o sentimento dos investidores.
A Microsoft também deverá ver os lucros e as receitas crescerem ligeiramente, para 23,3 mil milhões de dólares (22,3 mil milhões de euros) e 68,9 mil milhões de dólares (66 mil milhões de euros), respetivamente. No ano passado, a criadora do Copilot e da Xbox teve um resultado líquido de 21,9 mil milhões de dólares (21 mil milhões de euros) no seu segundo trimestre fiscal, que terminou a 31 de dezembro de 2023, enquanto as vendas atingiram os 62 mil milhões de dólares (60 mil milhões de euros) ao aumentar 18%.
A gigante do software cofundada por Bill Gales ganhou mediatismo esta semana quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a Microsoft estava a negociar a aquisição do TikTok e se mostrou favorável a uma “guerra de propostas” de compra da rede social de vídeos que pertence à chinesa ByteDance. Na corrida está ainda uma das startups norte-americanas do momento, a Perplexity AI.
A Apple – que recuperou o estatuto de empresa mais valiosa do mundo devido às valentes quedas da Nvidia – também arrecadará mais lucros no seu primeiro trimestre fiscal, terminado a 30 de dezembro. O mercado antecipa que o resultado líquido da fabricante do iPhone cresça dos anteriores 33,9 mil milhões de dólares para os 35,6 mil milhões de dólares e as receitas aumentem a um dígito (3%) para os 124,3 mil milhões de dólares.
Porém, os analistas da Jefferies estão menos otimistas com a faturação e reviram em baixa a recomendação da Apple para underperform (desempenho abaixo do esperado) na semana passada, até porque acreditam que as vendas dos futuros iPhones (17 e 18) sejam “fracas”.
É devido a estes sinais contraditórios que o analista João Queiroz antevê resultados mistos. “Apesar de algumas preocupações sobre o desempenho nas vendas do iPhone na China, a Apple pode surpreender com projeções para os próximos trimestres, especialmente se houver avanços significativos em serviços e no mercado de wearables (produtos periféricos). A expansão em mercados emergentes e o crescimento dos serviços deverão ser mais escrutinados pelo mercado”, explica.
“Existem preocupações sobre vendas de hardware, mas o segmento de serviços pode compensar isso. O mercado estará atento às projeções para o segundo trimestre, com uma receita esperada de 90,4 mil milhões de dólares e lucros a encolherem 3,7%, o que pode ser visto como uma performance em linha com o esperado se não houver surpresas negativas significativas”, reconhece o responsável de Trading do Banco Carregosa. Amanhã saber-se-á como se saiu a marca da maçã mordida.
Amazon, Google e Nvidia divulgam contas em fevereiro
No próximo mês publicam resultados a Alphabet/Google (4 de fevereiro), a Amazon (6 de fevereiro) e a Nvidia (26 de fevereiro). Como um todo, o grupo das Sete Magníficas deverá apresentar um crescimento anual de lucros de 21,7% no quarto trimestre. Sem estas empresas, que fazem software, telemóveis, redes sociais, semicondutores e automóveis, a taxa de crescimento dos lucros combinados – entre reais e estimados – das 493 outras empresas do S&P 500 seria de 9,7% para o quarto trimestre de 2024.
“De um modo geral, espera-se que as grandes empresas tecnológicas apresentem resultados alinhados com as expectativas do mercado, mas atendendo que as avaliações destas empresas já estão bastante elevadas, resultados abaixo do esperado podem afetar o sentimento dos investidores”, afirma João Queiroz.
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